Sem regulação, juros do cartão batem novo recorde: 480,3%

Mesmo que a taxa básica de juros da economia brasileira não tenha aumentado no período, a taxa de juros média do cartão de crédito rotativo subiu em setembro, atingindo 480,3% ao ano. É um recorde da série histórica medida pelo Bando Central desde julho de 1994. Em agosto, os juros estavam em 475% ao ano. Os dados refletem a omissão do Banco Central, que deveria regular o mercado de crédito.

materia sobre juros recordes no cartão de crédito

Os juros cobrados no cheque especial também subiram 3,8%, para 329,9% ao ano, outro recorde.

”São os juros mais caros que existem, não faz sentido”, diz a professora da faculdade de Ciências Econômicas da Uerj, Maria Beatriz de Albuquerque David, ao Jornal do Brasil. Para ela, nem o grau de endividamento do Brasil justifica os altos patamares de juros. “O Santander Brasil acabou de mostrar que teve um aumento nos lucros. Essa precaução é excessiva”, opina.

Em setembro, a Selic manteve-se no mesmo – e já elevado – patamar de 14,25%, mas, comomostram os números do Banco Central, os juros para os tomadores finais de empréstimos e financiamentos continuaram subindo.

Assim, os bancos conquistaram mais um recorde nefasto para a população: o spread bancário atingiu sua maior taxa desde 2011. Spread é justamente a diferença entre as taxas que as instituições financeiras pagam para captar recursos e as que cobram do cliente final. 

Economistas apontam que essa distorção ocorre devido à falta de ação Banco Central no sentido de fiscalizar, controlar e regular esse tipo de atividade. E, enquanto os bancos acumulam lucros milionários apesar da recessão, quem sofre é o tomador de crédito, ou seja, famílias e empresas.

No passado, houve uma tentativa por parte da presidenta eleita Dilma Roussef de baixar o spread dos bancos públicos, forçando os privados a acompanharem o movimento. Sob pressão, o governo recuou e, após o impeachment, algumas taxas de juros chegam a ser mais altas nos bancos públicos.  

Estudo da consultoria Economática, divulgado em março de 2016, informa que a media da Rentabilidade sobre o Patrimônio (ROE) de todos os bancos brasileiros de capital aberto no ano de 2015 foi de 10,78%, contra 7,92% dos bancos dos Estados Unidos.

Quando se considera apenas os bancos com ativos acima de US$ 100 bilhões (Itau-Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander), a mediana da rentabilidade sobre o patrimônio dos bancos brasileiros foi maior ainda: de 20,06% em 2015.