Ruby Bridges e a história do racismo nos EUA

Ruby Bridges é um ícone do movimento pelos direitos civis. Em 1960, ela, com 6 anos, passa a estudar em uma escola pública apenas de brancos. As reações dos brancos foram as mais desprezíveis, como sempre são em atos de racismo. Este dia, 14 de novembro, ficou registrado na história dos Estados Unidos por causa da grandeza da atitude da menina.

Ruby Bridges

Em 1954, ano em que Ruby nasceu, a Corte Suprema dos EUA ordenou o fim do “separados mas iguais” na educação para crianças negras. Escolas no sul do país ignoraram a decisão.

À Louisiana foi dado o prazo até o final de setembro de 1960, para integrar as escolas de Nova Orleans. Elas começariam com os Jardins de Infância e iriam integrar um ano escolar de cada vez.

Ruby Bridges era apenas uma das cinco crianças negras que passaram no teste para determinar quais seriam as crianças que seriam enviados para as escolas dos “brancos”.

O teste havia sido criado de uma maneira para que as crianças negras não fossem capazes de passar. A família de Ruby tomou a decisão de lutar por seus direitos e inscreveu a pequena Ruby no primeiro grau em uma escola toda branca. Ela seria a única criança negra lá. Ela frequentou a Escola Elementar William Frantz.

Ruby chegou para seu primeiro dia de aula com uma escolta de quatro agentes federais e foi apupada por uma multidão sinistra de donas de casa e adolescentes enraivecidos.

Mães furiosas tiraram as suas crianças da escola, alegando que elas só voltariam quando Ruby tivesse deixado o local. Por todo esse ano letivo a escola ensinou apenas para cinco alunos. Ruby e outros quatro estudantes brancos.

O primeiro dia judicial das escolas integradas em Nova Orleans, 14 de novembro de 1960, foi retratado por Norman Rockwell na pintura The Problem We All Live With (publicado na revista Look em 14 de janeiro de 1964).

Como Ruby a descreve, “enquanto dirigiam eu podia ver a multidão, mas vivendo em Nova Orleans, eu realmente pensei que era Mardi Gras. Havia uma grande multidão de pessoas fora da escola. Eles estavam jogando coisas e gritando, e esse tipo de coisas de Mardi Gras em Nova Orleans”. Mardi Gras é um festejo popular relativamente parecido com o Carnaval no Brasil.

O ex-vice-diretor dos U.S. Marshals, Charles Burks, recordou mais tarde: “Ela mostrou muita coragem. Ela nunca chorou. Ela não choramingou. Ela só marchava como um pequeno soldado, e nós estamos todos muito, muito orgulhosos dela”.

Assim que Bridges entrou na escola, os pais brancos tiraram seus filhos de lá. Todos os professores se recusaram a ensinar enquanto ela estivesse matriculada. Apenas Barbara Henry, de Boston, Massachusetts, concordou em ensinar Ruby e por mais de um ano Henry a ensinou sozinha, como se estivesse dando aula para uma classe completa.

Naquele primeiro dia, Ruby passou o dia inteiro no escritório do diretor; o caos da escola impediu seu movimento à sala de aula até o segundo dia. No segundo dia, no entanto, um estudante branco quebrou o boicote e entrou na escola quando um ministro metodista de 34 anos, Lloyd Anderson Foreman, levou sua filha de cinco através da multidão irritada, dizendo: “Eu simplesmente quero o privilégio de levar a minha filha para a escola”.

Poucos dias depois, outros pais brancos começaram a trazer seus filhos, e os protestos começaram a diminuir. Todas as manhãs, enquanto Bridges caminhava para a escola, uma mulher ameaçava envenená-la. Por causa disso, quatro delegados dos U.S. Marshals foram enviados pelo presidente Eisenhower, que estava supervisionando a segurança dela, permitindo que Ruby comesse apenas alimentos de sua casa.

A família de Bridges sofreu perseguições por sua decisão de mandá-la para a escola William Frantz. Seu pai perdeu o emprego, a mercearia onde a família comprava não permitiu que entrassem mais lá, e seus avós, que eram meeiros em Mississippi, foram tirados de sua terra.

Ao mesmo tempo, ela observou que muitos outros na comunidade, tanto brancos como negros, mostravam apoio de várias maneiras. Algumas famílias brancas continuaram a mandar seus filhos para a William Frantz apesar dos protestos, um vizinho arrumou um novo emprego para seu pai, e as pessoas locais vigiavam sua casa, e andavam atrás do carro dos policiais federais durante suas viagens para a escola, como para protegê-la.

Ruby, que atualmente chama-se Ruby Bridges Hall, ainda vive em Nova Orleans com o marido, Malcolm Hall, e seus quatro filhos. Durante 15 anos trabalhou como uma agente de viagens, emprego que ela deixou para ser mãe.

Agora preside a Fundação Ruby Bridges, fundada por ela em 1999 para promover “os valores da tolerância, do respeito e valorização de todas as diferenças”.

Em 15 de julho de 2011, Bridges encontrou-se com o presidente Barack Obama na Casa Branca, e durante a exibição do quadro de Norman Rockwell, ele lhe disse: “Eu acho que é justo dizer que, se não fosse por vocês, eu poderia não estar aqui e nós não estaríamos olhando para isso juntos”.

Em 2014, uma estátua de Bridges foi levantada no pátio da Escola Elementar William Frantz.

Quadro de Norman Rockwell que retrata a ida de Ruby Bridges para seu
primeiro dia de aula em uma escola de brancos nos Estados Unidos