Altamiro Borges: O jogo pesado para aprovar a PEC da Morte

Por 359 votos a favor, 116 contra e duas abstenções, a Câmara Federal aprovou na noite desta terça-feira (25), em segundo turno, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC-241) que limita por 20 anos os gastos públicos – menos para o pagamento dos juros da dívida. 

Por Altamiro Borges*, em seu blog

PEC da morte - Foto: Sinproesemma

Já batizada de PEC da Morte, ela impõe a ditadura do capital financeiro e terá profundos impactos na educação, na saúde e em outros serviços essenciais à população brasileira. Apesar dos inúmeros alertas de especialistas e de entidades da sociedade civil, o covil golpista de Michel Temer usou o rolo compressor para bancar a violenta medida de austeridade fiscal – inédita no mundo. O presidente da Câmara Federal, o demo Rodrigo Maia, chegou a acionar a Polícia Legislativa para esvaziar as galerias e evitar os protestos. O jogo foi pesado e sujo, bem ao estilo do "golpe dos corruptos" que abortou a democracia brasileira.

Nas últimas semanas, Brasília se transformou num autêntico balcão de negócios. Além dos banquetes oferecidos aos gulosos deputados, o governo ilegítimo negociou nos bastidores a entrega de inúmeros cargos em postos estratégicos da União. A própria revista Época, da famiglia Marinho – que militou de forma descarada pela aprovação da PEC-241 -, postou uma reportagem que revela o jogo bruto do covil golpista, que "afagou e fez ameaças", segundo relato do repórter Bruno Boghossian. "O governo transmitiu aos partidos aliados a mensagem de que o apoio será recompensado com a consolidação dos espaços – cargos -, enquanto as traições serão punidas. 'Quem participa do governo tem de apoiar o governo. Quem quiser ficar só com o bônus não pode participar do governo', diz Geddel Vieira".

Ainda segundo a dócil matéria, "Geddel não enxerga nisso um bicho comum na política, o chamado fisiologismo. 'A ocupação de cargos é absolutamente natural e democrática, vamos furar esse tumor', diz. 'O que eu não admito é que alguém chegue aqui com a faca no pescoço.” Em outras palavras, Geddel quer evitar os agressivos que fazem exigências quando o governo está em maus lençóis. Quando montou o seu ministério, em maio, Temer pensou, de início, em uma equipe de notáveis… [Mas] Temer decidiu lotear a Esplanada entre a base, em busca de supremacia no Congresso". Nos tempos de Lula e Dilma, esta constatação seria motivo de escândalo na venal revista dos Marinho.

Além do descarado fisiologismo – que a Época agora trata como natural -, o rolo compressor do covil golpista ainda contou com o apoio da elite empresarial. Entidades patronais foram acionadas diretamente pelo Judas Michel Temer com o objetivo de pressionar "seus" deputados – ou melhor, seus capachos. Algumas confederações do setor privado chegaram a gastar fortunas em anúncios publicitários para elogiar a PEC-241. O presidente do Bradesco escreveu artigos para defender a urgência do "ajuste fiscal" – mas nada falou sobre o lucro exorbitante dos banqueiros. Pimenta no dos outros é refresco!

A PEC da Morte ainda contou com uma operação de propaganda da mídia chapa-branca – que agora terá mais cacife para negociar verbas publicitárias e outras benesses. Os jornalões publicaram vários editoriais para defender a medida. Fizeram até cadernos especiais mostrando as "vantagens" da PEC. Nas telinhas da tevê, os apresentadores e os "analistas de mercado" – nome fictício dos porta-vozes da máfia rentista – também deram um show de servilismo. Poucas vozes dissonantes tiveram espaço na mídia privada – apenas para disfarçar a visão monolítica e emburrecedora que prevalece nos meios de comunicação.