Depois de quatro anos, juros podem cair, mas seguirão exorbitantes

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou nesta terça (18) a penúltima reunião de 2016. As previsões são de que a taxa básica de juros deve ter a sua primeira redução, depois de quatro anos. Instituições financeiras preveem que Selic – fixada em 14,25% ao ano desde julho de 2015 – deve ter uma redução de 0,25, o que não deve tirar do Brasil o posto de campeão de juros no mundo. A decisão só será divulgada na quarta, por volta das 18h.

Reunião Banco Central

Quando o BC sustentou a Selic no atual patamar, o maior nível desde outubro de 2006, utilizou como justificativa a necessidade de controlar uma inflação que fechou o ano de 2015 em 10,7%.

Muitos economistas, à época, já criticavam juros tão altos, alegando que a inflação não era de demanda, mas resultado sobretudo da correção de preços administrados (como combustíveis e energia), de choques climáticos e da desvalorização da moeda. Portanto, manter os juros elevados, retirando, assim, dinheiro da economia, não ajudaria a segurar os preços.

O fato é que a Selic se manteve estável durante estes 15 meses, apesar de a inflação ter caído bastante neste período. Chegou a 8,48% em setembro e, de acordo com o Boletim Focus do último dia 17, a expectativa para os próximos doze meses é que ela atinja 5,05%. Ou seja, a taxa real de juros hoje está mais elevada e é mais alta do mundo.

Em um momento de profunda recessão, a situação é um desestímulo à produção e ao investimento e só quem ganha com ela é o rentismo.

Em seus pronunciamentos, o Copom tem indicado melhora na conjuntura, mas continua pregando cautela. Explicitando que suas decisões, embora classificadas de técnicas, têm muito de política, o Comitê tem feito forte pressão para o ajuste fiscal, condicionando a redução dos juros à aprovação de medidas para controle de gastos, como PEC 241.  A queda na inflação, o PIB fraco e a manutenção dos juros nos Estados Unidos, associada à aprovação em primeira votação da PEC deve abrir caminho para a queda da Selic.

Independência?

Dois dias antes de iniciada a reunião do Copom, o ministro das relações exteriores José Serra – que vez por outra invade a seara de seu colega, Henrique Meirelles, opinando sobre as atribuições da Fazenda –, disse que os juros serão reduzidos nos próximos meses.

"Eu acho que cabe, sim, reduzir os juros nos próximos meses. Vai acontecer isso, dadas as condições atuais de retração da inflação e, em alguns casos, como da Petrobras, de redução dos preços", declarou Serra.

A fala reforça a ideia de que este é o governo do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Quando o país era comandado por Dilma Rousseff, muitas foram as críticas daqueles que viam interferência política nas decisões do Banco Central e a consideravam inadmissível. A fala de Serra, contudo, parece colidir com a tal independência do Banco Central tão propalada pela gestão.