Com greve e 300 escolas ocupadas, Paraná resiste contra o desmonte

O Estado do Paraná vive dias de resistência, com mais de 300 escolas ocupadas e o início da greve dos professores, reflexo do pacote imposto por Michel Temer para intensificar a precarização da educação pública com a PEC 241 e a reforma do Ensino Médio. Além das ações nocivas na esfera nacional, o governador Beto Richa (PSDB-PR) resolveu aderir ao descaso, declarando que não irá pagar a parcela do salário dos profissionais da educação, agendado para janeiro de 2017.

Por Laís Gouveia

Com greve e escolas ocupadas, Paraná vira celula de resistência

As ocupações

Mariane Feltrin cursa o quarto ano do magistério no Instituto de Educação Erasmo Pilloto, localizado em Curitiba, e ocupa seu colégio com outros 50 alunos. Para a estudante, o Brasil vive um momento delicado e se faz necessária a luta contra o retrocesso. "As ocupações refletem as ações de sucateamento da educação impostas pelo governador Beto Richa e o ilegítimo presidente Michel Temer, não devemos nos conformar com essa situação. Tomamos nosso colégio e temos o apoio da comunidade escolar, que também está angustiada com a situação que o Brasil enfrenta, até um grupo de WhatsApp foi criado entre os pais dos alunos, eles dialogam a respeito das ações de resistência dos seus filhos. Além disso, mantemos a disciplina no colégio, montamos núcleos que cuidam da limpeza, organização, comunicação, alimentação e todos os dias realizamos palestras sobre diversos temas relacionados ao debate educacional", explica a estudante.

Outras cinco universidades no Paraná também estão tomadas contra o desmonte da educação. As ocupações contam com o apoio da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e da União Nacional dos Estudantes (UNE). 

O motivo das ocupações

Entidades, educadores e especialistas denunciam que a PEC 241 terá como papel estrangular o orçamento da educação pública, que estará congelado independente da retomada econômica, promovendo duas décadas de não investimento em infraestrutura, acesso, permanência e intensificando já de praxe mal remuneração de professores, além do grave quadro do país em não conseguir atingir as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), como comparação, seria um quadro semelhante ou pior estabelecido pelo Fernando Henrique Cardozo, responsável pelo desmonte educacional da cartilha neoliberal dos anos 90.

A respeito da Medida Provisória (MP) da Reforma do Ensino Médio, o milagre do governo ilegítimo para resolver o gargalo da educação é "tapando o sol com a peneira". Além de antidemocrática, pois não foi construída em conjunto com a comunidade escolar e entidades que atuam em defesa da educação, como outrora foi estabelecido através das Conferencias Nacionais de Educação, a MP terá como consequência a não obrigatoriedade de disciplinas que estimulam o senso crítico dos jovens, como sociologia e filosofia, tornando obrigatórias somente português e matemática, a implementação do ensino integral em escolas que não possuem infraestrutura para receber esse tipo de proposta e a não exigência de formação pedagogia dos professores, apenas basta possuir um "notório saber".

Greve  

Os professores do estado do Paraná sofrem cotidianamente com o tratamento ofertado pelo governador Beto Richa. A categoria decidiu entrar em greve a partir da próxima segunda-feira (17). Segundo informações do Sindicato dos Professores do Paraná (APP), "o estopim da deflagração foi o governo ter voltado atrás no seu compromisso de pagamento da data-base para janeiro de 2017, conforme conquista da última greve da categoria, enviando à Assembleia Legislativa uma proposta que suspende o pagamento do direito e condiciona o pagamento das promoções e progressões (são mais de 600 milhões em atraso) às sobras do caixa do Estado".

Há também reivindicações pelo retirada das emendas da LDO contidas na mensagem 43 que afetam o cumprimento da data-base, implantação e pagamento dos atrasados das progressões e promoções, equiparação do salário dos/as funcionários/as ao salário mínimo regional e também são contrários a MP 746, PEC 241, PL 257 (PLS 54) e a Reforma da Previdência.

Os educadores em greve apoiam os estudantes que ocupam seus colégios e repudiam as atitudes de assédio moral e de repressão feito por diretores e professores aos estudantes que resistem nas escolas ocupadas.