Betty Draper não é uma mulher à frente de seu tempo

Glamourosa e impecável Betty Draper (January Jones) é o espírito conservador dos anos de 1960. Aquela que deixou tudo para cuidar da casa, do marido, Don, e dos filhos.

Por Carolina Maria Ruy*

Betty Draper - Divulgação

A personagem, coadjuvante, da série Mad Men é bela e fria. Ao contrário das outras mulheres da série, Peggy Olson, arrojada e intelectualizada, Joan Holloway, empreendedora e independente, Megan Draper, libertária e moderna, Betty representa o padrão social de sua época.

Ela é a imagem da família de propaganda de margarina (não por acaso, a série trata dos publicitários da Madison Avenue). Uma imagem superficial que esconde seus rancores, suas mágoas e frustrações.

Betty parece criada a partir dos versos de Chico Buarque, em seu Casamento Dos Pequenos Burgueses: faz que quase desmaia; engoma o seu colarinho; faz crianças de monte; aprende a fazer suspiros; diz que não sai dos trilhos.

Em nome da tradição e da família ela aceita calada as traições do marido. Apoia a guerra do Vietnã. Foi modelo em sua juventude, e quase ganhou o papel de garota propaganda da Coca-Cola.

Não ganhou porque, afastada da profissão há tempos, por causa do casamento, apresentou-se com um vestidão rodado que já não se usava mais.

Ao longo da série Betty vive seus dramas, separa-se de Don Draper, casa-se com um político que sustenta a ela e aos três filhos. Torna-se Betty Francis. Deprimida e angustiada engorda aos trinta e poucos anos, abatendo-se por um envelhecimento precoce. Mas volta à sua boa forma de top model antes de seu fim, na série.

Como que condenada a uma vida sem perspectivas, que não os filhos e o marido, ela passa os dias imersa em um largo e solitário vazio. Não é feliz, mas corresponde às expectativas da moralidade burguesa.

Betty é a rigidez contra a qual se rebelou a juventude de seu tempo.

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