Felipe Cordeiro: A "dimensão" do Círio que o Brasil desconhece
O Portal Vermelho entrevistou, por telefone, nesta semana, o músico paraense, residente em São Paulo há cinco anos, Felipe Cordeiro. A pauta foi o Círio de Nazaré, que é comemorado neste domingo (9) em Belém do Pará. Ele está na capital paraense e falou com entusiasmo da diversidade de expressões culturais que compõem a festa. Também ressaltou o desconhecimento do Brasil sobre manifestação com as dimensões "extraordinárias" que envolvem o Círio.
Por Railídia Carvalho
Publicado 08/10/2016 08:22
Felipe Cordeiro, músico paraense - Reprodução facebook
Em 2015, informações da organização calculavam que 2 milhões de pessoas estavam nas ruas de Belém no domingo em que aconteceram a procissão e a missa em homenagem à padroeira dos paraenses, Nossa Senhora de Nazaré.
Felipe e o pai, o musicista Manoel Cordeiro, também participaram das homenagens à Nossa Senhora neste ano. Eles se apresentaram na programação musical oficial da festa ao lado da cantora Fafá de Belém nos dias 4 e 5 de setembro, no Theatro da Paz. Felipe e Manoel produziram o recém-lançado cd de Fafá "Do tamanho certo para o meu sorriso".
Não foi a primeira homenagem à Nossa Senhora de Nazaré da qual Felipe participou. Em 2013, ele gravou um clipe com a música Círio Outra Vez, composição do padre Fábio de Melo. Ao lado dele estavam o coral Schola Cantorum, Junior Soares, Júlio Cesar, Juliana Sinimbú, Lucinha Bastos, Mahrco Monteiro e Liah Soares.
Perguntado sobre a experiência, ele, que não é católico, declarou que ficou emocionado com as gravações que foram realizadas na Basílica do Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, onde se encerra a procissão do Círio.
“Foi muito bom ter feito esse vídeo. Acho que os paraenses acabam se ligando muito no Círio, quem é católico e quem não é, porque é muito forte o que acontece na cidade. Na gravação do vídeo fiquei muito emocionado. Foi bem bonito”, relembrou.
Calendário cultural
Apesar do respeito aos ritos religiosos, Felipe tem mais envolvimento com o calendário cultural da maior festa dos paraenses, que em 2013 foi nomeada Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Agora são quatro os bens imateriais do Brasil na Unesco: O Círio de Nazaré, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, a Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi e o Frevo.
“É bonito de ver (a festa do Círio), participar. Fica com uma energia intensa em todos os lugares. Tem comida em todo lugar. É um bom período para encontrar as pessoas em Belém. Fica todo mundo aqui”, descreveu Felipe.
Baixa repercussão
O músico falou também sobre o desconhecimento do Brasil acerca da festa.“É impressionante como as pessoas sabem tão pouco de uma festa de dimensões extraordinárias: É maior que a procissão de Fátima e Aparecida. São 2 milhões de pessoas na rua e mesmo assim a mídia noticia rapidamente. O Brasil vive em bolhas. Todos os lugares são bolhas. As pessoas se alienam nos seus micromundos”, observou.
A música do Pará, no entanto, tem sido nos últimos 15 anos uma exceção à lógica da bolha e tem repercutido no sudeste e entre nomes como Caetano Veloso. Felipe lembra que esse movimento começou há pelo menos 15 anos e citou a guitarrada e o tecnobrega como gêneros musicais do Estado que correram o país.
Música tropical
O albúm Kitsch Pop Cult, lançado por Felipe em 2012, faz parte deste movimento que chama a atenção do Brasil. O músico traz do berço, literalmente, as referências do brega e da lambada por conta do trabalho de Manoel Cordeiro, produtor de discos do gênero em Belém. O jovem músico que “veio do mundo de música tropical” também é produtor, guitarrista e compositor.
“Estão recebendo a música do Pará como se fosse essa nova fronteira estética possível dentro da música brasileira”, avaliou Felipe. Na opinião dele, as pessoas que estão interessadas em renovar a música e se apropriar de novos caminhos encontram na música do Pará uma “inspiração potente”.
Ritual
Depois da agenda movimentada pré-Círio, que incluiu um show de guitarrada na quinta-feira (6) com Félix Robatto e Lucas Estrela, os planos de Felipe para o domingo do Círio são caseiros.
“Vou fazer um almoço com a minha mãe, acompanhar (a transmissão do Círio) um pouco pela televisão. Ano passado fui (na procissão), ano retrasado eu fui e esse ano, que está especialmente movimentado, tô querendo ficar mais tranquilo. E como em São Paulo é sempre movimentada a vida eu queria chegar em Belém e ficar um pouco na rede”, confessou.
Assista ao Clipe Círio Outra Vez, produzido em 2013 em homenagem à festa de outubro.
Sem Círio da Virgem, sem cheiro cheiroso
Sem a chuva das duas que não pode faltar
Murmuro saudades de noite abanando
Teu leque de estrelas, Belém do Pará!
(Bom dia, Belém!, de Edyr Proença e Adalcinda Camarão)
Ele sonhou com o fim da “solidão da América Latina” e empenhou sua vida e sua obra a denunciar a guerra em seu país e as injustiças em decorrência dela. Ao receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1982, expôs ao mundo um continente dilacerado por décadas de ditaduras e conflitos e ousou desejar às “raças condenadas a cem anos de solidão, uma segunda oportunidade sobre a terra”.
Disco, com 11 faixas, está disponível no Spotify. Trabalho foi produzido por Daniel Ganjaman e contou com a participação de BNegão, Rappin Hood, Céu e Negra Li.
Batizada a partir de uma das faixas presente no disco Às Próprias Custas S.A (1983) do cantor e compositor Itamar Assumpção, Os Amanticidas chegam como titulares no time da nova vanguarda paulista.