Com Temer, desemprego sobe 11,8% e atinge 12 mil trabalhadores

As forças que ampararam o golpe apresentavam o impeachment como a grande saída para a crise econômica. Muitos diziam apoiar o impedimento “pelos 11 milhões de desempregados no país”. Pois bem, cinco meses após o afastamento de Dilma Rousseff, sob a gestão de Michel Temer e Henrique Meirelles, os tais 11 milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho rapidamente se transformaram em 12 milhões. Sem agir para reverter o quadro, o próprio governo anuncia que a situação ainda vai piorar.

desemprego cai emprego aumenta - Reprodução

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego ficou em 11,8% no trimestre encerrado em agosto. Trata-se do maior percentual da série, que teve início no primeiro trimestre de 2012.

A pesquisa aponta 12 milhões de pessoas desocupadas no país, população classificada assim por ter procurado emprego sem encontrar. Em relação a março, abril e maio, a população desempregada de junho, julho e agosto aumentou em 583 mil pessoas, ou 5,1%. Em relação ao mesmo período de 2015, houve uma ampliação de 36,6% no número de brasileiros sem emprego: mais 3,2 milhões.

“O contingente de pessoas ocupadas continua em queda em ambos os períodos de comparação. Nós voltamos ao patamar de 2013. E em um ano, esse contingente perdeu cerca de 2 milhões de trabalhadores”, ressaltou Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE.

O número de empregados com carteira assinada de 2016 caiu 3,8% em relação a 2015, com a saída de 1,4 milhão de pessoas desse grupo. Segundo Azeredo, a perda da carteira de trabalho assinada “foi o primeiro sinal que a crise mostrou”.

“E o que ela provoca? As pessoas que perderam emprego estavam trabalhando por conta própria. A informalidade, que estava dando fôlego à crise, meio que perdeu a força”. A categoria dos trabalhadores por conta própria, estimada em 22,2 milhões de pessoas, caiu 3,2% em relação ao trimestre anterior, o que significa menos 739 mil pessoas.

“E a agricultura, a indústria geral e a construção, somados, perderam 483 mil pessoas [no trimestre]”, completou o coordenador. Na comparação com o trimestre anterior, o emprego na indústria caiu 1,9%, na construção recuou 3,3% e nos serviços domésticos diminuiu 2,8%.
Segundo Azeredo, a indústria e a construção foram os principais setores responsáveis pelo aumento da taxa de desemprego.

"Nesse momento era esperado que a indústria estivesse, ainda que não aumentasse, que estivesse estável, e isso não aconteceu. Apresentou agora, neste período, nos meses de junho, julho e agosto, uma queda expressiva.

O fechamento de postos de trabalho também tem impacto sobre a renda dos trabalhadores. Estimado em R$ 2.011, o rendimento médio ficou estável em relação ao trimestre que inclui março, abril e maio (-0,2%), mas variou -1,7% ante junho, julho e agosto de 2015. A massa de rendimentos, de quase R$ 177 bilhões, também não teve variação considerada significativa na comparação com o trimestre anterior, mas caiu 3% em 12 meses. Isso equivale a aproximadamente R$ 5,5 bilhões a menos.

“Vai piorar”

Mais que nunca, cai por terra o falacioso argumento de que a presidenta eleita precisava ser derrubada para salvar os tais 11 (agora 12) milhões de empregos. Entre os defendiam o golpe, dizia-se que, com a troca de governo, a “confiança” voltaria, trazendo consigo o crescimento. O mantra continua sendo repetido, agora dentro de um governo, que, até então, nada fez para reverter o cenário de recessão profunda e desemprego crescente.

De repente, tomado o poder de assalto, parece que a angústia e a preocupação com os trabalhadores desapareceram. Nesta sexta (30), o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que o Brasil vive a pior crise econômica de sua história e que o cenário ainda é de agravamento do desemprego.

O remédio que ele indica é a aprovação da PEC que fixa o teto dos gastos públicos e a Reforma da Previdência. Ou seja, para "defender o emprego", ataca-se o papel do Estado e os próprios direitos dos trabalhadores, uma operação difícil de entender.

“A projetarem-se o número que conhecemos, ainda deveremos ter algum agravamento no desemprego”, disse Padilha, completando que “o governo tem interesse em gerar empregos”.

Resta saber qual a estratégia para que isso aconteça. Pois as medidas de ajuste anunciadas até então têm o poder de provocar exatamente o oposto daquilo que pretendem, aprofundando a recessão. O governo aposta que a iniciativa privada possa puxar uma retomada – o efeito do tal “retorno da confiança”, que até então não se verificou. Fato é que é difícil crer que, sem perspectiva de lucro, com a economia cada vez mais deteriorada, os empresários decidam investir.

Sem ter nada de bom para mostrar como resultado do golpe, o jeito tem sido colocar tudo na conta da gestão anterior. O atual presidente, que foi vice de Dilma desde a primeira eleição, afirmou, em discurso nesta sexta (30), que não tem culpa da gravidade do quadro atual. Nem parece que seu partido chegou a ter sete ministros na gestão anterior. 

Depois de mencionar a inflação e a queda do investimento, Temer soltou: "Por trás desses dados, estão homens e mulheres que pagam um preço inaceitável. Chegamos a quase 12 milhões de desempregados. E reitero que não foi culpa minha."

Ele repetiu que se trata da mais grave crise vivida pelo país. “Não quero assustá-los, mas motivá-dos para que juntos possamos sair dessa crise. A causa é basicamente interna e fiscal. O Estado endividou-se muito além de sua capacidade, e gerou recessão e desemprego", afirmou o presidente que aprovou no Congresso uma meta fiscal, para 2016 com déficit fiscal de R$170 bilhões – o maior rombo da história brasileira.