Temer aprofunda a crise e piora os indicadores econômicos

Apesar do empenho dos veículos de comunicação – que apoiaram o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e alçaram Michel Temer à Presidência da República – em transmitir algum otimismo, não há um sinal concreto de melhora dos indicadores econômicos. Muito pelo contrário, o desemprego aumentou, a arrecadação caiu e os investimentos foram reduzidos. 

Goldfajn, Temer e Meirelles

Nesta quinta-feira, a Receita Federal divulgou os dados da arrecadação de impostos em agosto, que mostram uma queda real de 10,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

A redução das receitas está na raiz do desequilíbrio fiscal do país, apesar de o atual governo insistir que o problema são os gastos enquanto infla o deficit fiscal para distribuir benesses a aliados.

O falacioso discurso do descontrole das despesas, contudo, serve de desculpa para cortar verbas de áreas sociais e serviços públicos, agradando assim à iniciativa privativa e aos rentistas, já que o pagamento de juros está garantido, ficou de fora do ajuste de Temer.

E a queda na arredação, na verdade, não causa espanto. Trata-se de um reflexo da recessão, que o governo Temer diz estar a enfrentar, mas ninguém sabe como. A gestão aposta numa estratégia estranha: anuncia que a economia voltará a crescer quando as contas estiverem equilibradas e a partir do investimento privado. 

Ocorre que é difícil crer que os empresários decidirão investir simplesmente porque a situação fiscal do governo melhorou, sem levar em conta o que de fato ocorre com a economia. Com quase cinco meses do governo Michel Temer, todos os indicadores têm piorado: o emprego, a renda, o consumo, a arrecadação e o investimento das empresas.

Menos emprego, renda e consumo

No tocante ao emprego, apenas nos últimos três meses, houve 226 mil cortes de vagas com carteira assinada – o que pressiona a arrecadação. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo desta quinta-feira (29), “levantamento feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que, entre o primeiro e o segundo trimestres de 2016, foram cortadas 226 mil vagas com carteira assinada e 259 mil pessoas deixaram de trabalhar por conta própria. Do lado informal, porém, houve uma expansão de 668 mil postos no período”.

Um dos setores com maior aumento de informalidade foi a construção civil. O número de postos de trabalho com carteira assinada caiu 4,16% do primeiro para o segundo trimestre, enquanto as vagas informais cresceram 10,7%, informa também o jornal Folha de S. Paulo.

Com a deterioração dos indicadores de emprego e renda, o consumo das famílias também diminui. Dados divulgados no final de agosto mostram que o consumo no último trimestre caiu pelo sexto período seguido. O consumo das famílias recuou 5% no segundo trimestre de 2016 em relação a igual período de 2015.

Inflação em alta

Nesse ambiente de terra arrasada, nem mesmo a inflação tem cedido. O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), usado no reajuste de contratos de aluguel, acumulou inflação de 11,49% enquanto em abril deste ano era de 10,63%.

Entre agosto e setembro o índice de Preços ao Produtor Amplo, que analisa o atacado, subiu de 0,04% em agosto para 0,18% em setembro. O Índice Nacional de Custo da Construção cresceu de 0,26% para 0,37% no período.

Queda de investimentos

Com a economia à beira do precipício, os investimentos também despencaram e o setor de máquinas e equipamentos anunciou ontem uma queda de 17% em agosto, na maior crise dos últimos 80 anos.

O faturamento líquido da indústria brasileira de máquinas e equipamentos foi R$ 5,7 bilhões no mês de agosto, o que significa uma queda de 17,4% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Se considerado o acumulado do ano, de janeiro a agosto, 2016 registrou retração de 27,3% em relação a 2015. No entanto, na comparação com o mês de julho, houve aumento de 1,8% na receita líquida. Os dados foram apresentados nesta quarta (28) pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

“O setor de bens de capital enfrenta a pior crise dos últimos 80 anos. Essa situação precisa ser revertida o mais rápido possível”, disse João Carlos Marchesan, presidente da Abimaq, durante coletiva de imprensa na sede da entidade.

A indústria de máquinas encerrou o mês de agosto de 2016 com 306,2 mil pessoas trabalhando, redução de 6,9% sobre o mesmo mês de 2016, uma queda de mais de 22.650 postos de trabalho. Houve também redução de 0,2% sobre o mês de julho de 2016. Se considerado o acumulado do ano, houve queda de 10,7% nos postos de trabalho em 2016, na comparação com o ano anterior.

Os números negativos, que eram tão alardeados pela mídia durante a gestão Dilma Rousseff, recebem agora menos espaço. E são sempre atribuídos a uma herança maldita do governo anterior, sabotado pelas forças que tomaram o poder. A desculpa, contudo, não irá funcionar para sempre e o povo continua a esperar que esta tal “confiança” do mercado chegue de verdade e tenha efeitos sobre a economia real.