Cacique do PSDB ataca candidatura de João Doria: "é uma desgraça"

Artigo do vice-presidente nacional do PSDB e ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman, explicita o racha entre tucanos e deixa claro que o candidato a prefeito da capital paulista, João Doria, não é visto com bons olhos sequer dentro de seu partido. Goldman afirma que, apesar de se apresentar como “o novo” na política, o postulante “usa métodos velhos” e utilizou “recursos lícitos e ilícitos" para vencer a prévia do PSDB. Respondendo a comentários, diz que Doria "é uma desgraça" para a sigla.

Alckmin e Joao Doria - Foto: FELIPE RAU|ESTADÃO

Intitulado “Para conhecer melhor João Doria”, o artigo foi publicado na página de Goldman na internet, no último dia 18. Nele, o cacique tucano desconstrói o discurso do postulante, que procura se apresentar como um empresário bem sucedido e trabalhador, em oposição à sua ideia de político tradicional.

"Dória não relutou em usar de todos os recursos lícitos e ilícitos, operacionais e financeiros, para angariar votos em uma prévia que está sendo avaliada pela Justiça Eleitoral. Nesse período prévio a lei veda o uso de quaisquer recursos financeiros para buscar votos para decisão dos filiados ao partido. Despesas só podem ser feitas pelo diretório municipal, mas ele as fez com recursos próprios", afirma.

Segundo ele, Doria também “não titubeou em usar as relações pessoais com o governador para obter apoios através da pressão de dirigentes do Estado sobre os filiados ao partido”.

Em trechos do texto, Goldman acusa Doria de mentir. "Dória diz não ser político, mas administrador, empresário. Não é verdade. Ele mesmo se vangloria em ter sido presidente da Paulistur, no governo Mario Covas, e presidente da Embratur, no governo José Sarney, ambas empresas estatais da área do Turismo".

Também escreve que as empresas de Doria “não produzem qualquer bem ou serviço diretamente, apenas estabelecem e ampliam relações entre empresários e agentes públicos (deputados, senadores, secretários, ministros, governadores), atividade lícita que se chama de lobby, que lhe permitiu acumular um patrimônio declarado surpreendente de centenas de milhões de reais”.

Disposto a contestar a ideia de que o postulante tucano possa ser um bom gestor, Goldman defende que gerir recursos públicos e privados são coisas bem distintas. “Administrar recursos públicos em benefício do povo é uma atividade bem diferente de administrar recursos privados para benefício próprio. São processos e objetivos distintos, nem sempre sem conflitos e contradições, e exigem uma visão política e social de natureza muito especial", escreve.

Para ele, as plataformas dos três candidatos do campo conservador e de apoio ao impeachment – Celso Russomano, Marta Suplicy e João Doria – são iguais. "As soluções apresentadas por esses candidatos não diferem, em profundidade, umas das outras. Mais médicos, mais hospitais, mais remédios, mais gestão, mais educação, mais segurança, mais, mais, mais, sem que se possa ter a convicção das possibilidades reais de realização, tanto do ponto de vista operacional quanto financeiro", afirma.

O ex-governador cita ainda a “falta de zelo pela coisa pública” do candidato do PSDB, algo que, segundo ele, ficou evidente quando, “constatou-se que tomou ilegalmente uma área de terra para somar à sua propriedade em Campos de Jordão”.

Ao responder a comentários ao textos, publicados na mesma página na internet, Goldman é ainda mais duro nos ataques ao correligionário. Questionado por um internauta sobre em quem deveria votar, ele “não indica de forma nenhuma” o voto em João Doria. Para ele, o candidato “é uma desgraça para o partido”.

“É um cidadão totalmente desprovido de escrúpulos, teve a sua vitória nas prévias pelo uso abusivo do poder econômico que tem e, infelizmente, pela ação do governo do Estado", dispara.