"Ataques vêm de todos os lados; é preciso resistir", diz petroleiro

“O momento é muito crítico. Os ataques vêm de todos os lados de forma permanente. Tanto a Petrobras quanto o pré-sal são coisas muito grandes, que os petroleiros não dão conta de defender sozinhos.” O desabafo é do diretor de relações internacionais e de movimentos sociais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes.

Por Eduardo Maretti

Pré-sal Petrobras

“Por outro lado, as demais categorias, o conjunto dos trabalhadores como um todo, são atacados de todos os lados. É um momento de construir a resistência”, acrescenta o dirigente.

Segundo ele, nesse contexto é “muito importante” a paralisação geral chamada pela CUT para o dia 22, “para construir a greve geral lá na frente”. Na segunda-feira, a categoria fará uma reunião para discutir estratégias em relação a três temas que, de acordo com Moraes, são indissociáveis. “Está tudo junto. Não dá para separar uma campanha salarial com proposta muito ruim, da entrega dos ativos da empresa, e, ao mesmo tempo, com a mudança da lei do pré-sal, proposta pelo Serra.”

A votação do Projeto de Lei 4567/16, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), que retira a obrigatoriedade de atuação da Petrobras como operadora única do regime de partilha de produção em áreas do pré-sal, é prevista para depois das eleições municipais. O deputado federal Enio Verri (PT-PR) estima que o governo Michel Temer tem hoje cerca de 400 deputados aliados na Câmara dos Deputados, o que seria suficiente para aprovar o que quiser.

O dirigente da FUP diz que o projeto de entrega dos ativos da Petrobras segue a passos largos. Até o momento, com quatro meses de governo Temer, já são irreversíveis a perda de importante área do pré-sal, chamada Carcará, na Bacia de Santos, e a venda da malha de gasodutos da estatal na região Sudeste.

Carcará foi vendido no fim de julho por US$ 2,5 bilhões para a norueguesa Statoil. A Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo) entrou na Justiça para tentar reverter o negócio, que considera crime de lesa-pátria. A ironia é que a companhia norueguesa é estatal e a produção de petróleo pela Noruega, a partir dos anos 1970, quando descobriu o “ouro negro” no mar do Norte, fez desse país da Escandinávia um dos mais ricos do mundo.

Na semana passada, a Petrobras também concluiu a venda da malha de gasodutos da estatal na região Sudeste para consórcio liderado pela empresa canadense Brookfield. Segundo a Agência Reuters, a transação girou em torno de US$ 5,2 bilhões pelo mercado.

Moraes lembra que, fora esses negócios já irreversíveis, a estatal, sob o comando do tucano Pedro Parente, já aprovou a negociação da Petrobras (BR) Distribuidora e da Liquigás. Sobre a primeira, em nota publicada no site da estatal em julho, ela informa que “nosso Conselho de Administração aprovou a alteração do modelo de alienação de participação na subsidiária Petrobras Distribuidora, encerrando o processo competitivo em curso e iniciando uma nova modalidade de venda”.

Quanto à Liquigás, as negociações estão em andamento para vender a subsidiária, segunda maior distribuidora de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), conhecido como o gás de botijão, que responde por 22% do mercado. O comprador pode ser anunciado ainda este mês e as negociações, segundo expectativas do mercado, devem ficar em até R$ 2,5 bilhões.

Plano de negócios

Em nota divulgada em sua página na internet, a FUP diz que na segunda-feira (19) Pedro Parente submeterá ao Conselho de Administração da companhia sua proposta para o novo plano de negócios da empresa. Ao jornal O Estado de S.Paulo, Parente afirmou que redefinirá os projetos de investimentos prioritários ano a ano, tendo a eficiência dos gastos como princípio a ser seguido.

“Para isso, pretende manter até 2018 o ritmo acelerado de venda de ativos, mandando às favas os interesses nacionais para alimentar o apetite voraz do mercado”, afirmam os petroleiros. “O que não faz parte do negócio principal da empresa, é venda pura e simples. Naquilo que faz sentido estratégico, a prioridade é parceria”, disse Parente. “Em cinco anos, a Petrobras terá virado a página”, prometeu o tucano.

Segundo a FUP, a receita é a mesma que o executivo aplicou na Bunge Fertilizantes quando presidiu a multinacional no Brasil entre 2010 e 2014. “A reestruturação que ele promoveu levou a empresa a abandonar o mercado de fertilizantes, onde era uma das líderes do setor. Em um período de três anos, a Bunge vendeu todos os ativos (usinas, fábricas, distribuição), mesmo sendo o Brasil o quarto maior mercado de fertilizantes do planeta”, diz a FUP em nota.

Sobre a campanha salarial, a FUP espera que a discussão do Termo Aditivo do Acordo Coletivo será “difícil”. Os petroleiros dizem que a companhia não está cumprindo o acordado no ano passado. “A proposta para o Termo Aditivo do Acordo Coletivo que a Petrobras apresentou nesta sexta-feira, 16, à FUP e aos seus sindicatos, é uma afronta aos trabalhadores”, afirma a entidade.

Entre as propostas da Petrobras, estão a redução da remuneração das horas extras de 100% para 50% e redução da jornada do administrativo de horário flexível, de oito para seis horas diárias, com redução de 25% da remuneração.