Cunha teria ameaçado contar como ele e Temer deram o golpe

A cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e os efeitos que dela podem surgir continuam dando o que falar nos bastidores. Cunha não escondeu que estava magoado com os aliados e, ao atacar o braço direito de Temer, Moreira Franco, deu demonstrações de que sua ira pode se voltar contra Michel Temer.

Temer e Cunha

Nesta quarta-feira (14), o Estadão publicou matéria dando conta de que Cunha ficou irritado ao saber que o Planalto o abandonou ao liberar a base para votar pelo fim de seu mandato.

Segundo a matéria, “o estopim do desembarque foi uma ameaça direta de Cunha ao presidente Michel Temer”. Ele teria ameaçado com a possibilidade de contar “a quem quisesse ouvir” detalhes das reuniões mantidas com Temer para acertar a aceitação do impeachment de Dilma Rousseff.

De acordo com o jornal, enquanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), se reunia com políticos e jornalistas na residência oficial, aliados de Cunha conversavam no escritório do advogado Renato Ramos com Moreira Franco, Geddel Vieira Lima e outros políticos da cúpula do governo Temer.

A reunião seria para confirmar se Maia manteria o combinado de abrir a sessão que cassaria seu mandato somente com 420 deputados presentes.

Nos dias que antecederam a sessão, o presidente da Câmara disse que não daria seguimento à votação sem esse quórum. A pressão da oposição fez com que ele mudasse o discurso. Passou a dizer que, em caso de tentativa de postergação, iniciaria a sessão com mais de 300 presentes.

Foi o que bastou para tirar Cunha do sério. Na segunda-feira (12), dia do julgamento, Cunha fez a ameaça direta a Temer e acabou abandonado pelo Planalto.

Cunha tem dito que não fará delação premiada, mas pelo histórico de declarações não cumpridas de Cunha, essa pode não ser uma das que ele vá cumprir. Disse durante depoimento da CPI da Petrobras que não tinha contas no exterior. Foram encontradas cinco em seu nome. Disse que não havia fundamento legal para admitir o pedido de impeachment de Dilma, poucos meses depois aceitou para se vingar dos votos que não recebeu do PT no Conselho de Ética. Disse que não iria renunciar à Presidência da Câmara. Renunciou.

Por enquanto, Cunha se limitou a dizer, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que pretende escrever um livro sobre os bastidores do impeachemnt.

O calcanhar de Cunha

Apesar de Cunha dizer que não vê possibilidade de fazer delação premiada, muito se fala que o calcanhar de Aquiles é a ação movida contra a sua esposa, Claudia Cruz.

A colunista Mônica Bergamo disse: “Cunha estaria convencido de que o Ministério Público Federal dificilmente concordará em dar a ele os benefícios da delação premiada, como cumprir a pena fora da prisão. Mas poderia concordar em aliviar eventual condenação de Claudia Cruz caso ele decida abrir a boca e contar o que sabe aos procuradores”.

Ainda segundo ela, Cunha revelará como grandes empresas, como a Andrade Gutierrez, obtiveram benefícios na Câmara e no governo após negociarem com a cúpula do PMDB – incluindo Michel Temer.

“O arquivo de Cunha atingiria especialmente grandes empresas do país que teriam negociado com ele benefícios na Câmara dos Deputados e em setores do governo. E que teriam participado de encontros com a cúpula do PMDB, inclusive com Michel Temer”, diz Mônica.