Comunistas lamentam a morte de Neleu Alves

A morte do metalúrgico aposentado, militante histórico do PCdoB em São Paulo e ex-dirigente sindical Neleu Alves causou grande comoção entre os que conviveram e atuaram com ele ao longo de décadas. Para todos Neleu era um militante exemplar da luta dos trabalhadores.

Neleu Alves - Foto: Arquivo da família

O sindicalismo e o PCdoB, em especial, estão de luto em face do falecimento de Neleu Alves, vítima de infarto fulminante, nesta terça-feira (13). Neleu era metalúrgico aposentado, militante comunista e um lutador em defesa dos direitos do povo e dos trabalhadores. Nos anos 1980 foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo ao lado de destacados líderes sindicais, dentre eles Vital Nolasco. No PCdoB cumpriu inúmeras tarefas como dirigente estadual, municipal e distrital do partido em São Paulo.

A morte de Neleu Alves foi lamentada por diversos companheiros de militância no PCdoB. O vereador Jamil Murad, presidente do Comitê Municipal de São Paulo, distribuiu um comunicado informando o “falecimento do nosso valoroso líder metalúrgico, um líder operário com espírito revolucionário aguçado, diretor do Sindicato de Metalúrgicos e que prestou grandes serviços aos trabalhadores e ao PCdoB. Nossa eterna homenagem ao companheiro Neleu Alves”.

Para Nivaldo Santana, secretário sindical do Comitê Central do PCdoB e vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), “Neleu Alves foi um dos quadros operários mais qualificados do PCdoB de São Paulo. Pessoa de vida modesta e hábitos simples, militante sempre presente nas diferentes frentes de luta. Sua trajetória irretocável, pelo exemplo e simbolismo, deixa valioso legado para as novas gerações de comunistas”.

Ao saber da morte de Neleu, João Batista Lemos, presidente do PCdoB-RJ, reagiu com surpresa: “Que notícia triste!”. Batista, que também se destacou como líder metalúrgico no ABC paulista, considera que “Neleu foi uns dos melhores dirigentes operários que conheci, uma figura muito simples, mas muito implacável na defesa dos interesses da classe e de um partido de classe, ideológico, mas também da classe sobre o ponto de vista de sua composição social”. O dirigente lembrou que Neleu “trabalhou na empresa Brasilata, foi diretor do sindicato e da oposição, mas antes de tudo se colocava como um operário comunista da zona leste. Quando discutíamos o conceito de classe ele dizia: vão para os terminais de ônibus às 5hs da manhã, que nós vamos ver quem é o nosso proletariado”.

José Carlos Tisiu, que atuou com Neleu no movimento sindical, afirmou que “ele era um operário com inteligência orgânica, refinada, aliava a vida concreta nos pés das máquinas. Com a teoria aprendida nos livros e centenas de reuniões de base entre metalúrgicos, condutores, vidreiros, têxteis, servidores municipais, bancários, correios. Mas acima de tudo a disciplina, a simplicidade, a generosidade e a compreensão de que a força coletiva e orgânica dos trabalhadores, está em sua organização”. E concluiu dizendo: “Neleu era um operário intelectual da classe”.

Depoimentos nas redes sociais

A jornalista, Renata Mielli, coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) publicou um tocante depoimento em sua página do Facebook. Renata conta que ao ingressar no PCdoB conheceu Neleu Alves, uma das muitas pessoas cujo exemplo de vida lhe marcaram profundamente, que dedicaram suas vidas a construir uma vida melhor para o povo. “Com a fala mansa e um sotaque bem paulistano (com aquele “r” arredondado e preguiçoso), Neleu se dedicava a construir o movimento sindical e popular na zona Leste de São Paulo”, conta ela. E acrescenta que Neleu “era um estudioso da teoria marxista, preocupado com a construção do partido nos bairros e entre os trabalhadores. Apesar de ser de uma geração de militantes antigos do partido, defendia como poucos a renovação e a presença de jovens nas instâncias de direção. Era generoso com os jovens, mas rígido quanto à necessidade de se ampliar a formação política e teórica da militância”.

A jornalista fala também sobre a personalidade do militante comunista: “Era de uma integridade ímpar. Gostava de uma cerveja e apreciava as pimentas. As cultivava e curtia como ninguém. Eram ardidas as pimentas do Neleu. Na família era um pai zeloso e amoroso”. Ao final Renata relata o impacto sobre ela da morte de Neleu Alves: “Ontem ele se foi. Havia muito que não nos víamos. Olhei pela janela, fiquei triste. Lembrei do pé de romã que ele me deu. Eu tinha plantado a arvorezinha bem na frente de casa. Mas ela não vingou. Mas as sementes e raízes mais importantes que ele deixou não são materiais”.

Outros  companheiros de Neleu também se manifestaram através redes sociais. Elder Viera, subprefeito de Jabaquara, na capital paulista, afirmou: “De Neleu me fica a enorme estatura moral, a firmeza de propósitos, a nenhuma ilusão com palavreados diletantes. Ficam-me também os gestos de avô, que denunciavam o carinho por detrás do olhar duro de combatente”. Para a médica e sindicalista Júlia Roland, a morte foi “um choque grande, inesperado. Neleu grande amigo e com imenso compromisso com a luta e emancipação dos trabalhadores”. O jornalista Carlos Pompe referiu-se a Neleu como combatente exemplar e acrescentou: “Se viver sem lutar não tem sentido, como canta Paulinho da Viola, a vida de Neleu foi um exemplo de sentido. Nunca o vi vacilar diante de nenhum desafio”.