Cai Eduardo Cunha, um dos chefes do golpe

O processo contra Eduardo Cunha começou em novembro de 2015. Nesta segunda-feira (12), aliados dele ainda tentaram adiar a votação final, mas as manobras não surtiram o efeito esperado. O mais longo processo de cassação da história da Câmara dos Deputados encerrou o mandato o ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por 450 votos a 10.

Michel Temer e Eduardo Cunha

“É o resultado que o povo brasileiro aguardava. Não há mais tolerância para mentira e quebra da democracia. Ao virar essa página, vamos enfrentar firmemente a agenda nociva do presidente golpista Michel Temer, que quer enxugar direitos sociais e trabalhistas”, garante o líder do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), que considera este dia histórico no Parlamento.

Conhecido pela rotina de ameaças, chantagens e achaques a colegas, Cunha finalmente foi vencido. O processo votado pelo Plenário envolve apenas uma das acusações existentes: a de ter negado possuir contas no exterior, em depoimento à CPI da Petrobras no ano passado. O protagonista do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff ainda é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Os 11 deputados da Bancada Comunista e integrantes da oposição se fizeram presentes e passaram o dia pressionando parlamentares governistas com o objetivo de assegurar presença no Plenário para que a votação ocorresse.

Um resgate da confiança na política começa a ser feito, projeta a líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). “Estamos concluindo um capítulo necessário ao Brasil. Cunha não foi cassado por causa de divergências políticas, mas pelo acúmulo de ilícitos. Temos de dar uma resposta para a sociedade voltar a acreditar na boa política e em parte das lideranças dignas que este país tem”, relata.

Vice-líder da Minoria, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) define a cassação como simbólica por dar um basta a tantos males trazidos à política brasileira. “Finalmente, chegou a hora. Todas as manobras possíveis foram feitas por Cunha. O Brasil inteiro perguntava quando iríamos cassar este parlamentar. Ele quebrou o decoro parlamentar, mentiu à CPI da Petrobras. Era um dever cívico cassar seu mandato”, afirma.

O recado passado ao país foi claro, avalia a presidenta nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE). O governo golpista de Michel Temer não queria a cassação do principal aliado. A base aliada de Temer teve dificuldade para estar em Plenário, enquanto apenas a oposição pressionava pela cassação. “Na prática, Cunha tinha muita gente na mão. Mesmo assim, conseguimos um bom desfecho, fazendo jus ao clamor popular”, diz.

E Cunha ainda terá de enfrentar o STF, enfatiza o deputado Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA). O peemeebista também é réu em duas ações penais no Supremo e em um processo de improbidade administrativa na Justiça Federal no Paraná, que fez com que ele tivesse seus bens bloqueados em junho. Ele ainda é alvo de outros inquéritos no Supremo relacionados com a Operação Lava Jato. “Não julgamos a folha corrida de Cunha que é muito suja. Isso cabe ao Judiciário. O que aprovamos no Plenário foi um parecer bem fundamentado do Conselho de Ética com fatos muito graves que justificam a cassação. Era inevitável”, destaca.

A coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação publicou em sua página do Facebook: “Depois de ter cumprido a tarefa de acolher o processo de impeachment, Cunha foi descartado pelos seus aliados. Passou a ser um obstáculo. É preciso higienizar o golpe, para dar-lhe um verniz de legalidade. Os golpistas rifaram o golpista mor. Mas ainda assim é preciso comemorar, varremos um escroque da Câmara dos Deputados”.