A retomada da indústria está mesmo próxima?

Após recuarem continuamente entre meados de 2013 e o final de 2015, crescendo apenas marginalmente no primeiro trimestre deste ano, os índices de confiança da indústria passaram a se expandir fortemente a partir de abril ou maio, conforme o indicador, o que tem sido saudado por analistas como um dos indícios principais de que a retomada do crescimento do setor estaria próxima.

Por Emílio Chernavsky*

General Motors - Reprodução

Efetivamente, sendo o estado de confiança do empresário um fator preponderante em suas decisões de produção e investimento, em geral é legítimo interpretar sua melhora como um indicador antecedente confiável da expansão da atividade. Não é claro, todavia, se isso pode ser feito na conjuntura atual.

Isto não apenas porque os índices de confiança ainda se encontram, mesmo com o aumento recente, em patamares muito inferiores aos que vigoraram em quase todo o período entre 2003 e 2014. A dúvida é motivada principalmente por duas outras considerações. Em primeiro lugar, porque o notável avanço dos índices que capturam a percepção subjetiva dos agentes não foi acompanhado, como poderia se esperar dada a intensidade do movimento, por uma clara melhora dos principais indicadores objetivos da situação da indústria. Vários destes, inclusive, como é o caso da quase totalidade daqueles relativos ao mercado de trabalho que, ao capturar a evolução da principal fonte de renda para o consumo, apontam a tendência do comportamento da demanda, continuaram a se deteriorar.

Poucos ou nenhum mostram uma recuperação convincente, e a maioria apenas interrompeu ou reduziu o ritmo de deterioração. Em seu conjunto apontam, na melhor das hipóteses, uma situação ambígua. Exemplo disso é visto no gráfico abaixo, que mostra que no mês de junho, quando os índices de confiança já se encontravam em pleno processo de recuperação, os indicadores de volume de produção pareciam indicar uma leve retomada, mas os de vendas no varejo, que mostram a efetiva realização daquela produção e, se positivos, sugerem a sustentabilidade da retomada, seguiam se deteriorando ou permaneciam estáveis em níveis historicamente baixos. Tal quadro deve ter se mantido em julho com o aumento de apenas 0,1% no volume de produção no mês e a previsível redução no consumo sugerida, entre outros indícios, pela queda (a 9° em 12 meses) no indicador Serasa Experian de atividade do comércio.

A segunda consideração surge ao analisar a composição do Índice de Confiança do Empresário Industrial – ICEI/CNI e perceber que sua melhora recente foi impulsionada muito mais pelo avanço do seu componente relativo à percepção dos empresários sobre a situação e expectativas da economia brasileira em geral do que daquele referente à percepção desses mesmos empresários sobre suas próprias empresas. Tanto é assim que, como vemos no seguinte gráfico, a diferença entre os dois componentes, que oscilava em 2015 em torno de 15 pontos numa escala de 0 e 100, caiu claramente nos últimos meses e atingiu em julho menos da metade daquele patamar.

Ou seja, os índices que aferem a impressão dos agentes diretamente a partir de suas experiências concretas avançaram muito menos do que aqueles que capturam seu sentimento em relação a uma realidade ampla, a respeito da qual seu conhecimento é apenas indireto e construído principalmente com base em análises e informações fornecidas pelos meios de comunicação. E, significativamente, como vemos no gráfico a seguir, estas têm apresentado nos últimos meses um teor claramente menos negativo do que no período anterior no que se refere à situação da economia a despeito da continuidade da deterioração de grande número de indicadores.

Assim, é possível que a indústria esteja na iminência da retomada, como a melhora das expectativas nos levaria normalmente a crer. Entretanto, a timidez da recuperação nos indicadores objetivos de atividade recomenda cautela diante do que pode vir a se mostrar apenas um surto de otimismo induzido por uma cobertura mais benevolente da economia nos meios de comunicação.

*Emílio Chernavsky é doutor em Economia pela Universidade de São Paulo.