A reta final do golpe e a explicitação das contradições 

Na medida que agosto avança, a temperatura política em Brasília torna-se quase insuportável. São tantos os motivos possíveis de instabilizar ainda mais o já fraco e combalido governo Temer, que muita gente só dorme à base de pesadas doses de calmante.

Por Paulo Pimenta* 

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Sem dúvidas, o pavor maior é provocado pelo dilema de o que fazer com Eduardo Cunha. Temer, Padilha, Geddel e dezenas, ou talvez centenas, de parlamentares sabem do potencial explosivo de sua ira. Sabem, também, e têm sido lembrados disso diariamente, que “pactos com o diabo” são eternos. Não que Cunha seja o diabo, até porque sabem todos ser ele um dos principais líderes da bancada evangélica, mas a analogia é muito usada. Na medida em que se aproxima o final de agosto os receios de traições se ampliam.

Cunha queria ser salvo antes da votação do impeachment. No entanto, a eleição de Rodrigo Maia pôs uma pá de cal nesse desejo. Temer não aceita salvar seu comparsa antes de consumar o golpe. Os interlocutores do diabo, ou melhor, de Cunha, são taxativos: não ousem nos trair depois de contarem conosco para afastar Dilma.

Além disso, existe o fator Odebrecht. Essa delação vai sacudir os alicerces do aparato golpista e deverá incentivar outras delações que não deixarão “pedra sobre pedra”. Se não é possível evitá-la, que seja adiada. Contam com a inestimável participação de Moro e Gilmar Mendes e sabem que se der tudo errado, será possível, ainda, eleger um presidente da República, no Congresso, já em janeiro de 2017. Para tanto, a delação não poderá ser homologada antes de novembro.

Até lá é pedir paciência aos que financiaram o golpe. Sinalizar, com algumas medidas legislativas, que os compromissos serão cumpridos. Basta aguardar. Tudo será feito no seu devido tempo. As maldades maiores serão aprovadas em novembro e dezembro, após as eleições.

Só faltou “combinar com os russos”. A resistência popular não para de crescer. A incapacidade de administrar os interesses das hordas golpistas transbordam. O mundo não legitima o golpe. Temer segue recluso e acovardado. Os senadores começam a sentir o receio de serem carimbados como golpistas e serem dizimados politicamente em um futuro próximo. Portanto, muita água vai rolar até setembro chegar. O povo resiste e insiste em dizer: Não ao golpe. Temer ilegítimo não governará.