O livro que inspirou Fidel durante a revolução em Sierra Maestra

Por trás da farda verde oliva existe um coração grande amante das artes, dizem as pessoas próximas do dirigente cubano Fidel Castro. Ele mesmo já expressou, em diferentes ocasiões, seu apreço pela literatura, pela música, pela fotografia… E, enquanto presidente, desenvolveu políticas de incentivo à cultura e aos esportes que não haviam existido até então na história de Cuba.

Por Mariana Serafini

Fidel Castro lendo - Alberto Korda

Há rumores de que um dos autores preferidos de Fidel é o norte-americano Ernest Hemingway. Apesar da foto icônica onde os dois sorriem e se cumprimentam, capturada por Alberto Korda, eles nunca foram amigos. Na verdade, só se viram pessoalmente uma vez, justamente na ocasião da foto, quando o dirigente político venceu um concurso de pesca e o escritor lhe entregou o troféu.
Hemingway viveu boa parte da vida em Cuba e muitos de seus maiores romances escreveu na ilha. Entre eles, O Adeus às Armas e O Velho o Mar, que lhe rendeu o Nobel de Literatura.

Mesmo não sendo amigos, até porque não houve muito tempo, a revolução aconteceu em 1959 e Hemingway se suicidou em 1961, a admiração entre o escritor e o líder comunista era mútua. Certa vez, em uma coletiva de imprensa num aeroporto nos Estados Unidos, o Nobel de Literatura disse que a revolução cubana foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido ao povo cubano.
Mais tarde, Fidel foi o principal entusiasta para a criação de um museu em homenagem a Hemingway, na casa onde ele viveu, perto de Havana Vieja, com a jornalista Martha Gellhorn.


O único encontro dos dois aconteceu durante esta imagem, no final do torneio de pesca | Foto: Alberto Korda

 

Ada Rosa Alfonso, diretora do museu Hemingway destacou que o escritor “sentiu uma admiração extraordinária pela Revolução Cubana e por seu líder". O espaço, hoje propriedade do Estado cubano, conta com os 10 mil livros da coleção pessoal escritor e preserva sua máquina de escrever e todos os móveis como ele deixou.

Encantado pelo mar, não é difícil imaginar o que levou Hemingway a escolher viver em Cuba. Um verdadeiro apaixonado por pesca esportiva, ele elegeu a ilha para chamar de lar muito antes da revolução, ainda no final da década de 20. Morou entre Havana Vieja e Finca Vigía, há 18 km da capital, até o fim da vida. Raros são os restaurantes e bares que não têm uma foto de Hemingway na parede, afinal, seus porres homéricos com mojito são famosos até os dias de hoje.

Encantado pelas revoluções populares e pela luta por justiça, Hemingway dedicou-se como poucos a relatar a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e seu trabalho resultou no livro que hoje é um clássico da literatura mundial: Por quem os sinos dobram.

Durante uma entrevista, alguns anos depois do triunfo da revolução, Fidel confessou que este livro o inspirou durante os dias de batalha em Sierra Maestra. Mesmo no front, com um fuzil no ombro, o líder comunista se dedicava à leitura, e garantiu que a obra de Hemingway “ensinou muito sobre tática de guerrilha”.