Venezuela vai exercer plenamente a presidência do Mercosul, diz Maduro

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta quarta-feira (3) que seu país exercerá "plenamente" a presidência temporária do Mercosul, apesar das pressões contrárias de Argentina, Brasil e Paraguai, aos quais se referiu como ”tríplice aliança desprezível".

Nicolás Maduro - Divulgação

"A Venezuela é respeitada, somos presidente do Mercosul e vamos exercer plenamente, senhores da 'tríplice aliança’”, afirmou Maduro, em referência a Argentina, Brasil e Paraguai.

“Peço a união dos povos da América do Sul em defesa dos direitos da Venezuela", disse o mandatário durante ato em Caracas transmitido pela televisão estatal do país.

"Bem, 'tríplice aliança', aqui os esperamos, aqui vamos enfrentar e aqui vamos te derrotar", completou.

Na sexta-feira, após o Uruguai notificar os países-membros a respeito do fim de seu período a frente do bloco, a Venezuela encaminhou nota às chancelarias de Uruguai, Brasil, Paraguai e Argentina informando que, a partir daquela data, assumiria a liderança do Mercosul.

Entretanto, os governos de Brasil, Paraguai e Argentina se manifestaram contra a transferência da presidência temporária para o governo de Nicolás Maduro.

Os países mantêm divergências quanto à interpretação do protocolo para a transferência do mandato do Mercosul, abordada no Tratado de Assunção e no Protocolo de Ouro Preto (1994).

A orientação que há nos documentos é que "a presidência do Conselho do Mercado Comum será exercida por rotação dos Estados partes, em ordem alfabética, por um período de seis meses".

Enquanto a Venezuela entende que o processo de transição é automático, Paraguai, Brasil e Argentina defendem que haja um consenso entre os Estados, além de um encontro formal para efetuar a passagem.

Nesta terça-feira (3), o chanceler brasileiro José Serra disse a jornalistas que Nicolás Maduro “não tem condições” de presidir o Mercosul. Segundo ele, o governo interino do Brasil considera “razoável” a proposta argentina de criação de uma comissão de embaixadores dos países-membros para dirigir o Mercosul “informalmente” até o final do ano, quando deveria acabar o mandato venezuelano e começar o mandato argentino na Presidência rotativa do bloco.

A proposta foi rejeitada por Caracas. De acordo com a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, “não existem argumentos jurídicos que evitem que a Venezuela assuma a Presidência" do bloco.

Rede de Intelectuais manifesta apoio a Venezuela

A REDH (Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade) divulgou, nesta quarta-feira (3), uma nota em que manifesta apoio a que o governo venezuelano assuma a presidência rotativa da Venezuela no Mercosul.

De acordo com o texto, a Venezuela sofre “um ataque da direita regional e internacional”, liderada pelos chanceleres de Brasil, José Serra, e do Paraguai, Eladio Loizaga, acompanhado pela chanceler argentina, Susana Malcorra.

A nota questiona as posições de Brasil, Paraguai e Argentina para rechaçar a liderança venezuelana no bloco, ao lembrar golpe em curso contra Dilma Rousseff no Brasil, da condenação dos camponeses de Curuguaty pelo Paraguai e da prisão, na Argentina, da dirigente indígena Milagro Sala.

“A direita latino-americana e o imperialismo tentam algo concreto: acabar com o Mercosul tal como está e convertê-lo alinhado às orientações ultraneoliberais predominantes aplicando a essa instituição um golpe de Estado como o que lançaram sobre Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016)”, diz o texto.