"Plano de Demissão Voluntária é parte do desmonte da Petrobras"

A Petrobras prepara um novo Plano de Demissão Voluntária (PVD) para a BR Distribuidora, que deve ser aplicado às demais subsidiárias colocadas à venda pelo governo provisório de Michel Temer. Para Divanilton Pereira, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o plano integra a estratégia “equivocada” de reduzir o tamanho e o papel da estatal.

Petrobras

O PDV é o segundo realizado pela petroleira neste ano e foi informado aos empregados da BR Distribuidora nesta segunda-feira (25). A companhia pretende deligar cerca de 12 mil funcionários e economizar R$ 33 bilhões em quatro anos por meio do primeiro PDV. Ainda não há definição, porém, sobre o novo pacote de benefícios nem sobre a nova meta de demissões.

“Isso é parte integrante do processo de desinvestimento da Petrobras, realizado sob o falso pretexto de uma concentração de investimentos na área da exploração. O fato é que a companhia anuncia que vai se desfazer de importantes ativos, em um momento no qual os preços estão em baixa. Mesmo se fosse adequado fazer isso, não é o momento. Mas é isso, a agenda governamental está em curso”, disse Pereira, referindo-se à plataforma do governo Michel Temer, que prevê privatizações, concessões e flexibilização da participação da Petrobras na exploração do pré-sal.

Segundo o petroleiro, a queda nos preços internacionais do barril de petróleo impõe desafios a todos os países produtores, mas apenas o Brasil tem respondido a isso com a venda de seu patrimônio. “Entendemos que o setor de petróleo, no mundo todo, está fazendo uma revisão em seus planejamentos estratégicos, em função da queda do preço dos barris, no entanto, essa revisão, em nenhuma parte do mundo, tem significado perda de soberania, de controle. Eles estão adaptando seus investimentos, não se desfazendo deles”, comparou Pereira.

Funcionário de um ativo que foi colocado à venda, um dos chamados campos maduros, ele narra que setores estão sendo fechados, plataformas desativadas e pessoas transferidas. Com a oferta de incentivos, centenas de trabalhadores já vinham deixando a companhia por meio desses planos, que agora atingem a BR Distribuidora.

O petroleiro criticou, em especial, a decisão do novo presidente da Petrobras, Pedro Parente, de se desfazer de parte importante do capital da distribuidora, um setor no qual a margem de lucro é das maiores, ele lembra. “Faz parte desse novo planejamento de, infelizmente, focar a Petrobras só no setor de exploração de petróleo, o que é um equívoco”, avalia.

Divanilton Pereira destaca que uma das principais vantagens da Petrobras é justamente tratar-se de uma empresa integrada, responsável desde à exploração até a distribuição. “É do poço ao posto, como a gente diz. Mas aqui ela está se desfazendo de parte do posto. E já anunciou que vai se desfazer também de reservas importantes, como as do pré-sal”, lamentou. Segundo ele, abrir mão de setores como a distribuição, além de tudo, diminui a competitividade da Petrobras perante suas concorrentes.

Na [última sexta-feira (22), o Conselho de Administração da Petrobras aprovou uma reformulação na busca de sócio para a BR Distribuidora, com o qual irá “compartilhar” o controle, como forma de facilitar a venda da distribuidora de combustíveis. No novo modelo de venda da BR, há previsão de uma estrutura societária que envolverá as classes de ações ordinárias e preferenciais, de forma que a Petrobras permaneça majoritária no capital total, mas com participação de 49% no capital votante.

O presidente da Petrobras também já comunicou que apoia a revisão da legislação do pré-sal, defendida no projeto 131 de 2015, de autoria do agora chanceler José Serra.

Além de liberar a Petrobras da prerrogativa de ser a única operadora do pré-sal, o projeto também revoga a obrigatoriedade da companhia de participar das novas licitações. E desobriga a estatal de participar em ao menos 30% da exploração e produção do recurso em cada um dos campos licitados da principal reserva de petróleo brasileira.

“Isso de compartilhar a gestão é um movimento que não existe no mundo afora. E estamos falando de reservas que são as maiores descobertas nos últimos 30 anos no mundo. Isso então nada mais é que a entrega de importantes ativos. Vejo tudo isso como um grande retrocesso”, opinou o petroleiro.

Para ele, tudo faz parte de um mesmo movimento, que significará “a perda de soberania; a transferência do controle das reservas estratégicas de petróleo para multinacionais sobretudo americanas; diminuição da política de conteúdo local, que privilegia a contratação de mão de obra, tecnologia e conhecimento no Brasil; diminuição de recursos para o fundo social, que poderia fazer uma revolução no financiamento da educação pública”.

De acordo com o sindicalista da FUP, o desmonte da Petrobras é parte integrante da plataforma Temer para o país. “É fruto de um golpe político, que abre as portas para uma agenda ultraliberal que tenta tenta vir com muita força”, resume.