Penélope Toledo: Padrão Fifa, mas e as moças?

Muitos clubes se vangloriam por terem estádios e arenas “Padrão Fifa”, isto é, pomposos, bonitos, caros e repletos de lojas, praças de alimentações e outros serviços. Mas, em muitas vezes, não se miram no elementar: criar estruturas e condições adequadas para receber as torcedoras.

Por Penélope Toledo*

Em 2010, sanitário feminino abrigava fraldário no Beira-Rio

Conforme já foi discutido nesta coluna ("Lugar de mulher é nas arquibancadas, sim!"), é inegável o crescimento da presença feminina nos estádios e das arquibancadas como espaços plurais de coexistência de gêneros.

Assim sendo, é imprescindível que as estruturas sejam adequadas às especificidades das mulheres para melhor acomodá-las, visto que pagaram por seus ingressos e que têm tantos direitos quanto os homens.

Revistas

A inadequação às necessidades femininas pode começar nas revistas. Segundo o Artigo 249 Código de Processo Penal, “a busca (revista) em mulher será feita por outra mulher”, pois o corpo feminino só pode ser tocado por homens com consentimento ou em situações de risco à segurança coletiva.

Há relatos, porém, de torcedoras revistadas por policiais homens, bem como expostas a situações constrangedoras, como ter que levantar a blusa e deixar o sutiã à mostra perante os demais torcedores.

Um caso que chamou a atenção do mundo foi a revista a torcedoras feita por polícias de Uganda, cujas fotos foram compartilhadas nas mídias sociais. Em uma das imagens, relativa ao jogo entre Uganda Cranes e Burkina Faso, uma moça tem os seios apalpados, enquanto os homens em torno dela se deleitam com a cena.

Banheiros

Banheiro, então, é um problema em diversos países. É claro que homens e mulheres precisam de boas condições de limpeza e higiene, mas no caso feminino, por uma questão de anatomia, a insalubridade pode acarretar até doenças genitais. Por isto não poderiam faltar papel higiênico e água.

A indiferença às particularidades femininas na estrutura dos estádios se dá tanto nos aspectos biológicos, já que dificilmente há nos banheiros saquinhos para o descarte de absorventes, por exemplo, quanto nas questões culturais: espelhos são itens raros.

Só para se ter uma ideia, no Levi’s Stadium, considerado o estádio mais moderno e tecnológico do mundo, por meio de um aplicativo o/a torcedor/a consegue saber qual fila de banheiro está menor e mais rápida.

Fraldários

Outra dificuldade é com relação a fraldário, que não está presente em todos os estádios e arenas e, quando está, predominantemente é no banheiro feminino, dificilmente no masculino.

Trata-se de um reflexo da sociedade machista, que atribui exclusivamente à mãe as responsabilidades com o/a filho/a, isentando o pai de trocar fraldas. Se ele passear com a criança a cada quinze dias, sustentá-la ou pagar pensão (R$ 200, que seja) e postar fotos no Facebook, será socialmente considerado um bom pai.

Portanto…

Enquanto os estádios e arenas forem projetos e organizados pensando apenas no público masculino, estarão longe de serem modernos. Podem ser midiáticos, podem ser caros, podem ser multiusos, podem ser padrão Fifa, podem ser qualquer coisa, menos modernos.

Porque não há nada mais antiquado do que o machismo.

*Comunista, jornalista com passagem pelo jornal Lance!