Guadalupe Carniel : Uruguai vira caso de polícia

No futebol uruguaio o circo pega fogo e nem é dentro da cancha. O Campeonato corre o risco de nem começar no dia 6 de agosto, devido a uma questão: segurança no estádio, ou melhor dizendo, a presença (ou não) de policiais.

Por Guadalupe Carniel*

Torcedor uruguaio durante a Copa América Centenário, disputada nos EUA

A AUF e o Ministério do Interior entraram em pé de guerra. A Associação, apoiada pelos jogadores, defende que nenhum jogo pode ser realizado sem a presença de policiais ao menos nas cercanias dos estádios e já avisou a todos os clubes associados para não disputarem nenhuma peleja oficial.

Já o Ministério do Interior alega que há três anos a AUF se comprometeu a usar câmeras de reconhecimento facial, quando o presidente Muijca havia dito que retiraria a polícia das canchas.

O que aconteceu é que em março de 2014, o presidente do Executivo Sebastian Bauzá anunciou a decisão de Pepe Mujica que não teria mais segurança nos maiores estádios do país, Centenário e Parque Central, devendo essa ser feita por empresas privadas.

Após o parecer aconteceria o jogo entre Peñarol e Miramar Misiones, mas os jogadores decidiram não entrar em campo. O problema é que a determinação veio quando a nona rodada já estava rolando. O Nacional havia jogado um dia antes contra o Liverpool e perdido por 1 a 0 e disse que Bauzá o prejudicou e que a rodada deveria ser completa do modo antigo.

Como aqui, os orientales não chegaram a uma solução e tudo seguiu do mesmo jeito. Só o Nacional passou a contar com segurança própria e conta com policiamento apenas do lado de fora, como foi na partida contra o Boca.

Bauzá renunciou essa semana, justamente quando o assunto voltou a estar em voga. Há algumas semanas os clubes assumiram um compromisso de votar um Código Disciplinar, mas por falta de quórum até agora nada foi feito.

Até hoje a federação uruguaia não comprou as tais câmeras. Alega falta de dinheiro já que assim como muitas associações, foi acusada de estar envolvida nos escândalos de corrupção da FIFA e está com seus bens congelados.

A AUF deveria ter comprado as tais câmeras de segurança porque segundo o Ministério isso ajudaria a reduzir o número de incidentes e traria as famílias de volta aos estádios. Tudo muito lindo no papel.

Mas a coisa vai além: a AUF até aprova a segurança privada, mas desde que ela tenha um protocolo para agir e ter a mesma autoridade, que a polícia para reprimir e usar violência. Mas como esse protocolo seria definido e por quem? E os torcedores, os mais interessados e envolvidos nisso, ficam como? Até lá o futebol uruguaio segue sem uma solução, sem um critério e sem dinheiro para nada.