Contra retomada do crescimento, BC mantém Selic em 14,25%

O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25%. A decisão, unânime e sem viés, foi anunciada nesta quarta (20), na primeira reunião sob o comando de Ilan Goldfajn. O BC, em seu comunicado, engrossa os pedidos de ajustes na economia, "de forma mais célere", sob pretexto de controlar inflação. Representantes das centrais sindicais classificaram a decisão como prejudicial à economia e aos trabalhadores, positiva apenas para o rentismo. 

Copom

"O conjunto dos indicadores divulgados desde a última reunião do Copom mostra perspectiva de estabilização da atividade econômica no curto prazo. Entretanto, as evidências sugerem que a economia segue operando com alto nível de ociosidade", diz comunicado divulgado pelo Copom.

"No âmbito externo, o cenário permanece desafiador. No curto prazo, o ambiente encontra-se relativamente benigno para as economias emergentes. No entanto, a dinâmica da recuperação da economia global permanece frágil, com incertezas quanto ao seu crescimento."

O Copom diz ver "riscos domésticos" no caso da inflação, que pode se mostrar acima do esperado no curto prazo de forma persistente. Além disso, "incertezas quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia permanecem". Para o BC, "ajustes na economia podem ser implementados de forma mais célere, permitindo ganhos de confiança e reduzindo as expectativas de inflação". No conjunto, o Copom considera que o cenário atual indica não haver espaço para flexibilização da política monetária.

Durante o dia, o presidente interino, Michel Temer, publicou mensagem em rede social afirmando que o BC tem "plena autonomia" para definir a taxa de juros. Horas antes, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, havia dito que Temer veria "com bons olhos" uma redução dos juros.

Representantes das centrais sindicais, que, nesta terça (19), se uniram para pressionar pela redução dos juros, condenaram a decisão do Copom. Para o presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, a manutenção da Selic em patamar tão elevado vai "na contramão da retomada do crescimento". 

"Lamentavelmente, o BC toma essa decisão, em um momento de profunda recessão e instabilidade, reforçando a visão conservadora daqueles que apoiam o golpe contra presidenta DIlma Rousseff e têm reivindicado medidas liberalizantes, em defesa do deus mercado. Os juros altos só são positivos para os rentistas e quem mais sofre as consequências é o povo pobre", disse.

Ele destacou que a taxa de juros elevada também prejudica as contas públicas. "O próprio governo é penalizado, porque cada 1% a mais na Selic significa mais R$ 20 bilhões nas despesas da União", afirmou. Para ele, o atual patamar também serve de argumento para que empresários reivindiquem do governo benefícios como crédidos subsidiados e concessões tributárias. 

"A cada instante vai ficando claro que a tão propalada autonomia do BC é cada vez mais para servir aos interesses da burguesia. E não tenham dúvida que a manutenção do juros estratosféricos resultará em aumento do desemprego e exclusão social", completou.

O vice-presidente da CTB, Nivaldo Santana, concordou, acrescentando que a Selic nas alturas não ajuda a controlar a atual inflação brasileira. "O pretexto do combate à inflação não se sustenta, já que a demanda encontra-se desaquecida e o remédio dos juros altos não se mostra eficaz para estabilizar os preços", defendeu.

Em nota, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, foi na mesma direção."Infelizmente, o governo continua sacrificando o crescimento econômico, estrangulando a produção e frustrando a geração de postos de trabalho. Como a atividade econômica continua estagnada, o país perde uma ótima oportunidade de reduzir drasticamente a taxa Selic e, assim, dar uma injeção de ânimo no setor produtivo", disse, em nota, 

Segundo ele, o rentismo e a especulação financeira "têm drenado imensas quantidades de recursos vitais ao pleno desenvolvimento nacional". Ele afirma que a manutenção da Selic prejudica as campanhas salariais deste segundo semestre e contribui para aumentar o desemprego.

Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou que a manutenção da taxa Selic em 14,25% atrapalha a recuperação da economia ao encarecer o crédito para os consumidores e as empresas, desestimulando o consumo e os investimentos. A entidade destacou que o setor espera o início da redução dos juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).