Economia defendida por Temer privilegia ricos e capital estrangeiro

O professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Guilherme Mello, em comentário nesta terça-feira (19), na Rádio Brasil Atual, diz que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deve optar pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 14,25%, na reunião que começa nesta terça e termina na quarta (20). Será a primeira reunião do Copom sob presidência de Ilan Goldfajn, indicado pelo governo interino de Michel Temer.

Economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Guilherme Mello

Guilherme Mello critica a eventual decisão. "No meio de uma profunda crise, vai se manter a maior taxa de juros do mundo para combater uma inflação que, em tese, não tem nada a ver com o consumo", diz o economista, ressaltando que essa opção deve contribuir para o aprofundamento da recessão.

Como efeito negativo, Mello aponta que as taxas cobradas pelos bancos para o oferecimento de créditos também devem continuar em patamares elevados. As consequências devem ser sentidas não apenas pelo consumidor, mas também pelas empresas.

O economista prevê que os custos com as altas taxas devem ser repassados para o preço dos produtos, com o impacto, inclusive, na inflação, que as autoridades monetárias pretendiam combater. Com o desestimulo à tomada de empréstimo, as empresas também devem retardar investimentos e, por consequência, a abertura de novos postos de trabalho.

Sobre a ampliação do limite de financiamento para imóveis de até R$ 3 milhões, anunciada pela Caixa Econômica Federal nesta terça-feira, Mello classifica como uma "inversão de prioridades em relação ao governo Dilma", que buscava garantir o acesso da população mais pobres ao financiamento da casa própria através do programa Minha Casa, Minha Vida.

"O que se percebe é uma inversão de prioridades. Em vez de utilizar a Caixa e os bancos públicos para financiar imóveis para as pessoas mais pobres, utiliza para financiar os imóveis para as pessoas mais ricas. Para o banco, não é uma má notícia, porque vai ganhar mais dinheiro, pois está lidando com ricos", diz o economista.

Mello diz que os planos de privatização anunciados pelo governo, que espera arrecadar R$ 120 bilhões com a venda de patrimônios públicos é desnecessário. Segundo ele, o governo conta com o equivalente a R$ 1 trilhão em reservas cambiais, além de outro montante equivalente na chamada Conta Única do Tesouro, o que afastaria a necessidade da venda de empresas estatais. "Esse movimento atende a outros interesses e deve privilegiar setores do mercado."