Carina Vitral estreia como colunista do Conversa Afiada

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral,  que estreou há duas semanas um blog no HuffPost Brasil é agora a mais nova contribuidora do site de notícias políticas Conversa Afiada, página administrada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim. 

Carina Vitral estreia também como colunista do Conversa Afiada

Neste primeiro post "Quem não gosta de democracia age no escuro", a presidenta da UNE fala sobre os desafios da educação sob essa agenda golpista e denuncia a tentativa de desmanche do ensino público no país. Leia na íntegra:

Carina Vitral: Quem não gosta de democracia age no escuro

Às amigas e aos amigos do Conversa Afiada, primeiramente Fora Temer. Em segundo lugar, um caloroso abraço. Sou Carina Vitral, presidenta da UNE e ocuparei esse espaço nos próximos meses para debatermos a democracia no nosso país e os desafios que se colocam nesse delicado momento da nossa história. Estou feliz em juntar forças com o nosso PHA e com o time dos blogueiros “sujos” que, nos últimos anos e principalmente agora, fazem a verdadeira resistência contra o golpe e a mídia hegemônica.

A blindagem da chamada grande imprensa aos retrocessos do governo interino de Michel Temer está eclipsando mudanças sérias e graves operadas nos gabinetes de Brasília. A nós, da União Nacional dos Estudantes, preocupam muito aquelas ligadas à área da Educação. O golpe sobre o ensino do país já prepara um cadáver de peso: o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014 e que está sendo enterrado pela equipe dos homens brancos do não presidente.

É o mesmo que tentam fazer, utilizando o Congresso, ao reduzir os investimentos nesse setor com a retirada de recursos dos royalties do petróleo e do pré-sal para o ensino público do país. Outra ofensiva foi a chamada PEC dos gastos públicos, protocolada por Temer no Congresso e que poderá ter forte impacto sobre os gastos orçamentários do estado para a área educacional. A tentativa de desmanche é rápida, radical e arbitrária, pois os golpistas sabem que são medidas que não seriam aprovadas pelas urnas e a opinião pública. Entre elas está a quebra do Conselho Nacional de Educação, que tem a participação da sociedade civil para o acompanhamento das políticas desse setor. Quem não gosta de democracia não gosta de participação popular, prefere agir no escuro.

É muito significativo que, além de tudo, esse governo flerte com ideias tão absurdas como a do movimento chamado “Escola Sem Partido”, uma gelatina fascista de propostas de censura e silenciamento da diversidade na produção do conhecimento. Para Temer e seu ministro Mendonça Filho, discutir o preconceito contra as mulheres, o racismo, a LGBTfobia, a diversidade e tolerância religiosa, ideológica, não são prioridades da escola. É uma concepção não somente autoritária, mas burra mesmo, distante das teorias mais avançadas sobre educação no mundo. Temos uma gestão interina que, em poucos meses, traz o vergonhoso saldo de receber o ator Alexandre Frota para debater educação e alterar maliciosamente a página de Paulo Freire na Wikipedia.

Enquanto isso, quem se satisfaz nesse cenário são os gananciosos megaempresários do ensino privado, próximos e consorciados a esse governo, aproveitando a instabilidade para ampliar a exploração das altas mensalidades e da educação de péssima qualidade de forma indiscriminada. A recente fusão dos grupos Kroton e Estácio, criando uma nova gigante de R$5,5 bilhões no mercado educacional, demonstra que a perspectiva é de lucrar de forma diretamente proporcional ao sucesso do golpe. São os que querem a educação como mercadoria e não como direito. Declarações do ministro sobre a possibilidade de cobrança de mensalidade em universidades públicas mostram cristalinamente de qual lado desse jogo ele está.

Enganam-se, no entanto, se acham que avançarão sem resistência. As recentes conquistas da educação, o Prouni, as cotas, a expansão de vagas nas federais, fazem parte do legado da nossa geração do movimento estudantil. E se há algo que a juventude brasileira vai fazer é defender o seu legado. Já fizemos isso em diversos outros momentos da história e faremos em quantos forem precisos. Já lutamos na democracia e fora dela, já fizemos isso sob perseguição, na clandestinidade, já fomos presos, torturados, assassinados e nunca desistimos.

Entre os dias 15 e 17 de julho, milhares de líderes estudantis brasileiros estarão juntos em São Paulo no Conselho Nacional de Entidades Gerais da UNE (Coneg). É hora de preparar a nossa contra-ofensiva. Golpistas, se preparem. Não tem arrego.

Abraços e nos vemos na luta!