UNE realiza maior encontro LGBT de sua história 

A União Nacional dos Estudantes (UNE) realizou, neste fim de semana, seu maior encontro LGBT ao longo dos seus 77 anos de história. Ocorrido na Universidade dos Palmares, localizada na capital paulista, o fórum contou com a participação de estudantes, especialistas e militantes da causa LGBT, além de professores e diretores da entidade. 

UNE realiza maior encontro LGBT de sua história

Abriram os trabalhos o diretor LGBT da entidade, Augusto Oliveira, a 1ª diretora LGBT da UNE, Daniella Veyga, o coordenador da rede de cursinhos populares Emancipa, Bruno Zaidan, e o professor doutor José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares.

Augusto lembrou do momento difícil da democracia no Brasil e reiterou a importância da resistência contra o golpe. “O encontro LGBT vem no espírito da luta, de radicalizar nas ruas para derrubar esse governo e conquistar nossos direitos que não estão em negociação. Não podemos ter medo de nos impor. É nossa tarefa mostrar que podemos ter outra perspectiva de país onde possamos amar sem temer”, falou em alusão ao presidente golpista, Michel Temer.

Daniella Veyga, primeira mulher trans a integrar a diretoria da UNE, afirmou que os LGBTs estão munidos de muita política e saudou todos os participantes. “São Paulo hoje está fria, mas nossos corações estão quentes com muita vontade de construir um mundo melhor. Esse Encontro mostra que nós estamos munidos de ideias e política para enfrentar o golpe. Sejam bem-vindos”, disse.

Esta é a primeira vez em que o Encontro LGBT da UNE é realizado de forma independente. Em sua inauguração, o evento aconteceu como parte da programação da 9ª Bienal da UNE, realizada em janeiro de 2015, na capital carioca.

Segundo Augusto Oliveira, este é um momento de realização.

“Me sinto muito orgulhoso e feliz por saber que a UNE está ciente da importância da auto-organização dos estudantes LGBTs. Vencemos desafios e hoje estamos aqui mostrando que somos capazes de estruturar um evento como esse”, disse.

A deputada federal Erika Kokay (PT-DF), o coordenador de políticas para LGBT da cidade de São Paulo, Alessandro Melchior, a assessora parlamentar do deputado federal Jean Willys (Psol-RJ), Evelyn Silva, e a diretora de Relações Internacionais da UNE, Marianna Dias, estavam entre os convidados.

“A UNE é tão plural e diversa e é isso o que representa o nosso povo e não esse governo”, falou Alessandro Melchior. Ele também destacou as políticas LGBT desenvolvidas na cidade de São Paulo, como o “Transcidadania” – projeto social que oferece atendimento e oportunidade de estudo para travestis e transexuais.

Educação

Durante a tarde do sábado (11), a principal discussão do 2º Encontro LGBT da UNE foi sobre educação.

A estudante de pedagogia da Unesp Rita Pereira lembrou que a educação é um direito que está na Constituição, mas não são todas as pessoas que têm esse direito respeitado.

Ela lembrou da cruzada dos secundaristas paulistas no fim do ano passado, e em diversos países, onde os estudantes estão lutando contra a precarização do ensino.

E afirmou que em reflexo à luta secundarista nos últimos tempos, a educação superior e educação básica estão começando a se organizar por melhorias e qualidade.

Rita alertou ainda sobre a necessidade de um novo currículo na educação num modo geral, inclusive a universitária. Para ela, apesar da exclusão da discussão de gênero nos Planos municipais e estaduais, ela já está acontecendo mas no padrão “deles”.

“A educação que temos não é pensada para nós LGBT, principalmente as periferias, a educação que recebemos é fragmentada, não forma um indivíduo e é muito importante a gente reivindicar uma educação libertadora”, ressaltou.

A pedagoga e ex-diretora LGBT da UNE Larissa Passos atua na educação infantil há 8 anos.

Ela contou sua luta pessoal contra o preconceito por ser lésbica e negra no seu meio profissional na região do Recôncavo da Bahia e afirmou: “Eu preciso afirmar minha competência toda a hora”.

“A população LGBT não está inserida no mundo do trabalho, é muito complicado sair da universidade e entrar nesse mundo”, afirmou.

Sobre a formação escolar, Larissa questionou até que ponto a comunidade é ouvida durante a confecção dos planos de ensino. “É importante que a família faça parte, essa escola tem que ser reinventada. Volta e meia eu escuto que rosa é pra menina na minha sala de aula de alunos de 5 anos. Como a gente consegue dialogar com esse discurso que ela ouve em casa?”

Para a pedagoga ainda é preciso questionar o formato para além do currículo. “Eu preciso existir e eu não existo nessa formação. A gente precisa existir no Brasil. As políticas são feitas por números e os LGBT precisam aparecer, nas pesquisas, para o IBGE.”

Julian Rodrigues, militante LGBT e pesquisador nessa área, ex-vice-presidenta da UNE, falou sobre a política nacional e alertou que o golpe de Temer veio desmontar todas as políticas sociais, privatizar o que sobrou de público, atentar contra os direitos humanos, contra as mulheres e os LGBTs. Para ele, “temos a responsabilidade de construir uma estratégia de luta”.

E completou: “Nós não temos a diversidade na pesquisa, a universidade ainda precisa sair do armário, e é nossa tarefa, do movimento estudantil, dos professores e pesquisadores para construirmos uma educação diversa que respeite cada um”, concluiu.