Dizendo basta à cultura do estupro, milhares saem às ruas em todo país

Diversos protestos ocorreram em várias capitais nesta quarta-feira (1º), para dizer não à cultura do estupro, que faz uma nova vítima a cada 11 minutos no Brasil. Cerca de 16 estados realizaram atos com o tema “Por Todas Elas” em mais de 50 cidades. As manifestações também reivindicam a imediata saída do presidente interino, Michel Temer, da Presidência da República.

Dizendo basta à cultura do estupro, milhares saem às ruas em todo país

São Paulo

Desde o meio da tarde desta quarta-feira (1º) milhares de mulheres saíram do vão livre do Masp, na Avenida Paulista, e seguiram pela Rua Augusta em direção à Praça Roosevelt, onde encerrariam o ato. O protesto foi convocado pelas redes sociais. Entre as manifestantes, mulheres jovens, mães com crianças de colo, idosas e transsexuais que seguem entoando palavras de ordem e exigindo a punição dos agressores e em defesa dos direitos das mulheres.

“Vivemos em uma sociedade onde prevalece a cultura do estupro. Nenhum governo desenvolveu até agora medidas efetivas contra isso, e as mulheres vítimas de violência ficam muitas vezes desamparadas. Estamos aqui para exigir políticas que acabem com a cultura do machismo e para que os agressores sejam de fato punidos”, diz Veruska Tenório, do Movimento de Mulheres em Luta.

Fora Temer

O ato teve um forte tom contra o governo interino de Michel Temer. As manifestantes carregavam cartazes dizendo “Mulheres Sem Temer”. Quando passaram diante do escritório da Presidência da República, na Avenida Paulista, ocupado na tarde de hoje pela Frente Povo Sem Medo, elas permaneceram agachadas por cerca de 10 minutos gritando “Fora,Temer”.

“O caso da jovem carioca está trazendo o debate à tona. As pessoas estão percebendo que vivemos ainda sob um patriarcado nojento e sob a cultura do estupro. O corpo da mulher é sempre sensualizado, a vítima é sempre culpabilizada e os agressores dificilmente são punidos”, disse a estudante Antônia Andreato.

Foto: Flávio Souza Cruz

Maria das Neves, militante da União da Juventude Socialista (UJS) e também membro da União Brasileira de Mulheres (UBM), considera que o país está vivendo um momento único de libertação feminina: “Sem dúvida, um fenômeno tem tomado conta das ruas do Brasil, a elevação da consciência de gênero e não tem volta. Esse é fato novo, uma grande insurgência feminista de massa. O gatilho foi o PL-5069 de Eduardo Cunha que dificulta o acesso a atendimento médico às vítimas de violência sexual. De lá pra cá, a Primavera Feminista tende a florescer. Precisamos desnaturalizar o machismo, desmascará-lo. O estupro coletivo da jovem carioca por 33 homens é o segundo gatilho. Estupro, a pior face da cultura patriarcal. E, nesse debate, devemos inserir na mentes as pessoas: 1. Estupro é crime. 2. A culpa nunca é da vítima. Se fizermos a população refletir sobre essas duas afirmações teremos dado um passo estratégico para combater a cultura do estupro”. 

Uma dona de casa que preferiu não se identificar também levou a filha de apenas 4 anos. “Eu fui abusada quando tinha idade dela e não recebi apoio. Estou aqui por todas as mulheres”, disse. “Não quero que minha filha cresça com medo. Eu tive uma educação muito tradicional que dizia que a menina não podia nada, mas para ela eu quero liberdade.”

Porto Alegre 

Centenas de mulheres se reuniram na Esquina Democrática para reforçar os direitos da mulher. A manifestação interrompeu o trânsito da cidade para mostrar que elas exigem respeito. Convocado pelo coletivo de mulheres “Maria, Vem com as Outras”, o ato contou com relatos de mulheres vítimas de violência e assédio sexual. “O feminismo é revolução”, gritavam elas, que pediam ainda a criminalização da homofobia, da lesbofobia e da transfobia. Fotos: Marianna Cartaxo

Goiânia

Centenas de mulheres se reuniram na capital de Goiás para dizer basta à cultura do estupro, ao machismo e aos casos que ocorreram na última semana na InterUFG (evento festivo da Universidade Federal de Goiás) – uma lista que incentivava homens a ficarem com mulheres em troca de pontos num suposto jogo. O ato seguiu pelas ruas de Goiânia em direção a praça Cívica, onde ocorreram manifestações artísticas no monumento das Três Raças.

Cuiabá

Manifestação Por Todas Elas nesta quarta-feira (1º) na capital de Mato Grosso. 

Brasília 

A Polícia Militar de ‪‎Brasília agiu com truculência e abuso contra mulheres, muitas com idade acima de 50 anos, no ato pacífico das Mulheres Pela Democracia, na frente do STF, na noite desta quarta-feira (1º). Passando por cima das faixas de protesto e com spray de pimenta, a PM feriu muitas das mulheres presentes ao ato.

Rio de Janeiro 


Reunidas na Central do Brasil, o ato “Por Todas Elas”, no Rio de Janeiro. Fotos: Katiana Tortorelli

Minas

Repúblicas universitárias em Ouro Preto dizem não à cultura do estupro e machismo Foto: Ivan Vilela


Ato contra a cultura do Estupro: Depoimento da Carol

Mãe e filha juntas no ato contra a cultura do estupro