Exposição apresenta obras da coleção pessoal de Picasso

O Instituto Tomie Ohtake, na capital paulista, traz uma exposição com 116 obras de Picasso, selecionadas pro ele mesmo. Intitulada “Picasso: mão erudita, olho selvagem”, a coleção pertence ao Musée National Picasso-Paris e fazem parte de um conjunto que o artista manteve com ele ao longo da vida.

Picasso - Arquivo/Musée National Picasso-Paris

Os primeiros trabalhos da exposição remetem ao início da carreira do espanhol, quando Pablo Picasso, com 19 anos mudou-se para Paris. Segundo a pesquisadora do núcleo de curadoria do Instituto Tomie Ohtake, Carolina de Angelisa, nessa fase inicial, as pinturas retratam o mundo artístico e a vida na capital francesa na transição dos séculos 19 e 20. “Ele pinta cenas do cotidiano, tipos urbanos, cenas da noite, dos cabarés artísticos”.

O hábito de colecionar parte dos próprios trabalhos desde essa época mostra, de acordo com Angelisa, uma atenção a trajetória que estava desenvolvendo como artista. “O Picasso, além de ser muito bom na própria autopromoção, porque ele foi um grande empreendedor do próprio trabalho. Isso também mostra a importância que tinha para ele guardar, observar e olhar um certo tipo de evolução”, afirmou.

Nesse percurso, alguns temas acabam sendo recorrentes, como a figura do arlequim, usada, segundo a pesquisadora, com intenções diversas ao longo do tempo. “No começo, ele retrata isso logo que chega em Paris, para mostrar um tipo de figura mais marginalizada. Esse profissional do circo um pouco nômade, que não tem um lugar fixo para se estabelecer. Em outros momentos, ele se retrata como o próprio arlequim, porque todas essas figuras são do entretenimento, mas carregam uma certa tristeza, melancolia”, afirma, sobre como o personagem, algo entre o palhaço e o bobo da corte, quer chega a ser usado por Picasso para representar até seu filho.

Múltiplos estilos e técnicas

Por outro lado, a exposição busca mostrar, em ordem cronológica, a diversidade de técnicas e estilos desenvolvidos pelo artista ao longo do tempo. Escultura em cerâmica, gravuras, desenhos e pinturas com influências múltiplas, apresentam um artista que foi muito além do cubismo, movimento do qual é um dos principais nomes. “É uma variedade, não só de técnicas, mas de modos de representação. De como as figuras são representadas, o que poderia ser uma exposição coletiva, de vários artistas”, disse Angelisa.


Picasso em seu ateliê, no sul da França, em 1946
 

A decomposição das formas da natureza em formas geométricas, que se consolidou na expressão cubista, pode ser acompanhada como processo na linha estabelecida pela curadoria. “O que ele faz no período cubista, já estava sendo traçado anteriormente”, ressaltou.

A influência do contexto histórico na produção também pode ser sentida nas diversas fases que compõe o conjunto da obra de Picasso. Nesse sentido, há uma parte dedicada ao processo de realização do quadro Guernica, uma das mais famosas obras de Picasso, inspirada no bombardeio que destruiu uma pequena vila espanhola durante a Segunda Guerra Mundial. “E também das pinturas na época da ocupação alemã na França, que são pinturas mais densas, mais escurecidas, com tons de preto e cinza”, acrescentou a pesquisadora.