Funcionários da TV Brasil denunciam prática de censura na emissora

Uma das vozes mais expressivas das periferias, o vocalista do MC Racionais, Mano Brown, está entre as atrações da Virada Cultural, que ocorre em São Paulo desde a noite desta sexta-feira (20) até o próximo domingo. No entanto, os noticiários da TV Brasil não deverão mostrá-lo na cobertura do evento.

Em ato em defesa da EBC, funcionários denunciam censura na TV Brasil

A denúncia foi feita por funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que estiveram reunidos na tarde desta sexta-feira em ato diante da sede da empresa na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. Além dos trabalhadores, estiveram presentes representantes da CUT, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas de São Paulo e Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé, entre outras entidades.

De acordo com os trabalhadores da agência de notícias, TV Brasil, rádio e portal, a nova orientação – que eles classificam como censura – chega no mesmo momento em que é nomeado o novo diretor-presidente da empresa, o jornalista Laerte de Lima Rimoli. A nomeação, publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União, foi assinada pelo presidente interino Michel Temer (PMDB-SP).

Sidney Rezende não confirma notícia de rompimento de contrato

Ainda nesta sexta-feira, o jornal O Globo noticiou que a nova direção da EBC teria cancelado o contrato da empresa com o jornalista Sidney Rezende – que estreou no dia 4 de março na Rádio Nacional o programa Nacional Brasil. Em parceria celebrada também por meio de contrato, o programa é transmitido em São Paulo pela Rádio Brasil Atual, das 7h às 10h, de segunda a sexta-feira. Rezende não confirma a notícia e disse que não foi comunicado da decisão até o momento.

“Esta censura é um dos primeiros sinais do desmonte da concepção de empresa pública de comunicação em curso tão rapidamente na empresa. A ofensiva é clara e tudo indica que o desmonte é porque a TV Brasil e a EBC é mais do que seu jornalismo. É um processo ainda em construção, fruto de décadas de luta pela democratização da comunicação ”, disse o integrante da comissão de funcionários Nilton Martins.

O veto a Mano Brown é grave também, segundo ele, pela tentativa de calar vozes de personalidades que expressam a diversidade e o pensamento do povo brasileiro, seja "da periferia, das quebradas, dos morros", que sempre tiveram espaço na programação da empresa – o que não acontece na programação da mídia comercial.

Em abril, na quadra da Mangueira, no Rio de Janeiro, Brown fez um discurso considerado histórico sobre o golpe contra a presidenta Dilma: “Eu vi a população virar as costas para a Dilma. E eu vi o que é o poder da televisão em um país de terceiro mundo (…). Onde a televisão elege e derruba quem eles querem”, disse. “Enquanto a favela faz silencio, a elite manipula (…) O dia que o povo se omitiu. O dia em que a favela ficou quieta e deixou eles tomarem o que a favela conquistou."

Representante da organização pelos direitos humanos Rio de Paz, Fernanda Vallim foi levar seu apoio à EBC. "A cobertura da casa é muito importante para nossas pautas contra a violência. Por meio das reportagens veiculadas na Agência Brasil, nossas denúncias chegam muito mais longe porque são reproduzidas. É um risco muito grande mudar isso principalmente agora que estamos numa onda tão conservadora", disse.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Paulo Zocchi, destacou o caráter público da EBC e a necessidade da união dos trabalhadores em sua defesa. "Temos de defender o que a gente conquistou. Criada em 2007, é uma empresa de comunicação pública ainda em construção que Temer quer destruir para que não venha a crescer e fazer sombra à mídia hegemônica", disse.

"Não são apenas nossos empregos que estão em risco, prejudicando a nós, trabalhadores. Perde também a sociedade, que deverá ficar sem um veículo que expressa toda a pluralidade e diversidade", destacou Eduardo Viné, também funcionário da EBC em São Paulo.

Diretor de Comunicação da Câmara dos Deputados durante a gestão do presidente afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), coordenador de campanha de Aécio Neves (PSDB) à presidência em 2014 e ex-diretor regional da TV Globo, no Rio de Janeiro, Rimoli substitui o também jornalista Ricardo Melo, exonerado no último dia 17.

A decisão está sendo contestada no Supremo Tribunal Federal. Pela lei, seu mandato é de quatro anos. O ministro do STF José Antonio Dias Toffoli deu ao presidente interino Michel Temer 72 horas para explicar a decisão.