FHC orienta que Temer siga agenda que o PSDB determinar

O principal estrategista da oposição agora convertida em governo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mandou recados claros para o presidente interino Michel Temer, em entrevistas concedidas a Ricardo Balthazar e Pedro Venceslau e Tonia Machado. O desejo de FHC é manter Temer sob rédea curta, cumprindo a agenda que o PSDB determinar. "Se o governo for para o lado errado, o PSDB sai", disse ele.

Fernando Henrique Cardoso (FHC)

Numa das entrevistas, FHC chega a questionar a legitimidade de Temer para levar adiante reformas estruturais na economia. "Temer foi eleito como vice, tem legalidade. Mas não tem apoio [popular]. Não pode descuidar desse ponto de partida, porque o processo de impeachment ainda não acabou", diz ele.

FHC também demonstrou certo incômodo com o perfil excessivamente conservador da equipe de Temer. "Ele nasceu no Congresso, e o Congresso hoje é mais conservador, porque a sociedade ficou mais conservadora. É importante para o PSDB não entrar nessa. Temos que ser sociais-democratas nas relações entre sociedade, mercado e Estado, e liberais no comportamento, aceitando a diversidade. Mas a sociedade não pensa assim, e tem que dar a batalha nesse sentido.

Embora o senador José Serra, nomeado chanceler interino, seja hoje o tucano com a posição mais forte no governo Temer, FHC ainda não o vê como um candidato consolidado para 2018.

Mídia brasileira versus mídia internacional

O ex-presidente foi obrigado a reconhecer que mídia internacional enxergou o golpe ocorrido no Brasil e demonstrou satisfação com o fato de a mídia oligárquica brasileira defender a legalidade do processo de afastamento da presidente Dilma. "O PT criou uma narrativa do golpe que pega mais lá fora do que aqui dentro. Para os objetivos deles, esse discurso foi bom, mas não se sustenta com o tempo. Essa é uma narrativa que confunde, pois ela é fácil e não precisa explicar muito. Você viu o que houve no Festival de Cannes? Aquilo repercutiu momentaneament momentaneamente", afirmou, em uma tentativa de diminuir as manifestações nacionais e internacionais contra o golpe.

Sobre o imposto do cheque, ele também previu sua volta. "A CPMF ajuda a controlar o sistema financeiro. Algum imposto o governo terá que aumentar, pois o déficit é enorme. A arrecadação caiu e continuará caindo porque a economia não retoma", afirmou.