Ativistas da comunicação criticam ação da mídia no golpe contra Dilma

Ativistas pela democratização da comunicação reunidos em São Paulo avaliam que os conglomerados da imprensa nacional exercem papel central na crise política, que culminou com a admissão do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, pela Câmara, no último domingo (17).

FNDC

A coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, Rosane Bertotti, avaliou que há um movimento de unidade entre os grupos de telecomunicações e radiodifusão para fortalecer o grupo oposicionista, liderado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o vice-presidente, Michel Temer.

“Antes, as teles e a radiodifusão atuavam cada uma para o seu lado. Agora, estão cada vez mais unidas no apoio ao golpe em curso, junto, inclusive, com o Judiciário”, analisou. “Com o avanço da conjuntura, fomos percebendo essa intenção como algo cada vez mais distante. Se conseguirmos reverter esse golpe, não podemos mais aceitar um governo que não executa a pauta para a qual foi eleito", afirmou Rosane ontem (21), na abertura da 19ª Plenária Nacional do FNDC, lembrando que Dilma afirmara em 2014 que a regulação econômica da mídia seria central em seu segundo mandato.

Para os participantes do evento, o tratamento hostil dos grandes meios não só ao governo, mas aos movimentos sociais e a toda e qualquer iniciativa social de contraponto ao modelo liberal requer do movimento de defesa da democratização da comunicação estratégias de atuação cada vez mais incisivas.

Para o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), ainda é possível reverter a tentativa de impeachment, pois ele considera que a resistência no Brasil terá desdobramentos em toda a América Latina. “Denunciar o golpe é uma luta que vai além das nossas fronteiras e é fundamental para a resistência no plano internacional. A aliança golpista, composta por corruptos, traidores, torturadores e defensores do grande capital, nos impôs uma derrota política importante. A batalha, no entanto, está em curso no Senado e acho que não devemos dá-la por perdida", afirmou.

O parlamentar avaliou que o Senado é diferente da atual composição da Câmara, não tendo ainda votado pautas que foram facilmente aprovadas pelos deputados, como a terceirização e a redução da maioridade penal. “Agora, é claro que não podemos ser ingênuos, mas temos de manter viva a mobilização nas ruas em defesa da democracia", ponderou Orlando Silva.

Para o professor João Sicsú, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobrevivendo ao impeachment o ideal é que o governo seja coordenado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e “realize uma grande virada para corrigir os erros cometidos pelo governo desde 2011”. Além disso, o professor avaliou que a crise pode ser "driblada", mas depende da capacidade de recomposição da base social. "Temos de voltar a gerar empregos e não enfrentar a crise propondo reforma da Previdência e corte de gastos, como vem fazendo o governo Dilma", ressaltou.

Por outro lado, Sicsú acredita que uma das primeiras medidas de um governo liderado por Michel Temer e Eduardo Cunha seria o “sequestro do Orçamento Geral da União” para transferir juros e subsídios para grandes empresas. "O orçamento é o grande instrumento de concentração de renda e é isso que está em jogo: quem pega a maior parcela do orçamento. Eles não querem regular a economia, querem que a dinâmica da economia seja controlada por grandes empresas", afirmou.