Acampados em Porto Alegre divulgam agenda de atos contra o golpe

Representantes de movimentos sociais organizados na Frente Brasil Popular (FBP) e na Frente Povo Sem Medo, acampados desde segunda-feira (11) na Praça da Matriz, no acampamento da legalidade, em Porto Alegre, concederam entrevista coletiva no início da tarde desta quinta-feira (14) para anunciar os atos contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff programados para os próximos dias na capital gaúcha.

Acampados pela legalidade em Porto Alegre contra o golpe - Guilherme Santos/Sul21

Nesta sexta-feira (15), que está sendo chamada de Dia Nacional de Atos Contra o Golpe, estão previstas diversas manifestações pelo país. Em Porto Alegre, pela manhã ocorre a concentração, na praça Pinheiro Machado, entre as avenidas Farrapos e Sertório, para um ato de trabalhadores da agricultura familiar. O ato partirá em direção à Praça da Matriz. Durante a tarde, está marcada para as 16h30 a concentração para um ato na Esquina Democrática, que deve partir em marcha em direção à Praça da Matriz após às 19h. Segundo o presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Claudir Nespolo, o evento terá ênfase em atividades culturais. “A gente não destila o ódio”, disse.

No domingo, o Acampamento da Legalidade, montado na Praça, será desmontado ainda pela manhã para permitir que um maior volume de pessoas se reúna no local. A expectativa é que milhares de pessoas, incluindo caravanas vindas do interior, participem de uma vigília durante o dia e acompanhem a votação na Câmara Federal por meio de um telão.
 
No início da entrevista, Cedenir de Oliveira, representante do Rio Grande do Sul na direção nacional do MST, ratificou a posição dos movimentos sociais de que o processo de impeachment é um golpe. “É um golpe por dois motivos principais. Primeiro, não há nenhuma legitimidade jurídica para que ocorra o impedimento da presidente Dilma Rousseff. A segunda questão, que nós temos que refletir, é que aqueles que estão orquestrando esse golpe são os verdadeiros corruptos desse país. Essa ideia de limpar a corrupção do Brasil não será feita pelo seu Eduardo Cunha, que, todos nós sabemos, é o maior ladrão dessa sociedade, comprovadamente”, disse Cedenir.
O presidente estadual do PT, Ary Vanazzi, também afirmou que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), estão tramando no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência, o fim das investigações de corrupção em troca de votos no impeachment. “O Temer e o Cunha estão negociando o fim da Lava Jato, por isso conseguiram agregar mais votos”, disse.
Representante do PSOL na coletiva, Neiva Lazzarotto lembrou que, apesar das divergências com o governo, os seis deputados do partido irão votar contra o impeachment. “Entendemos que o recado que os movimentos sociais estão dando para a presidente é que precisar mudar os rumos. Mas a Ponte Para o Futuro do Temer é um golpe contra os trabalhadores, é uma ponte pré-Constituição, uma ponte pré-CLT”.
Os representantes dos movimentos sociais também prometeram resistir nas ruas a partir de segunda-feira, independente do resultado da votação. Segundo Cedenir, caso o impedimento prospere, se estará rasgando a Constituição e abrindo portas para que a Carta de 88 seja constantemente desrespeitada posteriormente. “A partir desse momento, as regras democráticas, o estado democrático de direito deixará de existir em nosso país. É um momento gravíssimo e nós queremos anunciar: aqueles que rasgarem a Constituição, rasgarem a democracia, poderão também ser sujeitos desses processos que virão pela frente”, disse.
Ele ainda afirmou que “quem rasgar a Constituição não irá dormir em paz”. Por outro lado, disse que os movimentos sociais e o MST irão “agir dentro dos marcos da democracia”.
Para Vanazzi, a expectativa é que o “golpe seja derrotado” e, a partir de segunda-feira, os movimentos sociais e o próprio PT passem a exigir do governo Dilma mudanças na política econômica, democratização dos meios de comunicação, reforma tributária e outras pautas defendidas pelas entidades.
Confiança contra o impeachment
Na coletiva, os representantes dos movimentos sociais e dos partidos expressaram confiança que o governo terá votos suficientes para barrar o processo. Abigail Pereira (PCdoB), ex-candidata à vice governadora, lembrou que foi constituída na Câmara uma Frente Parlamentar em Defesa da Democracia que já conta 186 assinaturas. “Acreditamos que domingo nós vamos barrar esse golpe. Não trabalhamos com outra hipótese”
De acordo com o presidente estadual do PT, estão sendo criados factoides para evitar que a militância vá para rua e aumente os atos contrários ao impeachment. “A burguesia brasileira junto com a Globo, a grande condutora do golpe, está tentando criar uma comoção nacional nos últimos dias, criando factoides e fatos políticos, primeiro para evitar que a nossa militância vá para a rua porque estão dizendo que tem um fato consumado no domingo. Isso é mentira”, disse.
Vanazzi lembrou que o tema do impeachment não acaba com uma votação favorável no domingo, pois ainda precisaria ser analisado pelo Senado. “É uma falácia e irresponsabilidade em um país como nosso. Queremos denunciar que há um processo de intimidação, de comoção nacional, querendo dizer que domingo se resolve. Domingo é mais uma etapa desse golpe”.