Secretário de Segurança do PR ameaçou trabalhadores sem-terra

Havia um consenso no Brasil de que a escalada dos ânimos logo produziria um cadáver. A intolerância de parte a parte incentivada pelos meios de comunicação e pelos oradores culminaria em um confronto de civis. Por sorte, ou azar daqueles que alimentam a violência, ninguém tinha chegado às vias de fato.

Por Manolo Ramires, do Terra Sem Males 

Acampamento Dom Tomás Balduíno no Paraná - Joka Madruga/Terra Sem Males

Contudo, a constatação de que ainda não há mortos neste atual processo é equivocada. Já temos mortos em virtude de seus posicionamentos políticos. E esses corpos foram produzidos pelo Estado, por governantes, não pelos cidadãos. É o caso do assassinato do presidente do Partido dos Trabalhadores de Mogeiro (PB) e da morte de um militante sem terra na Bahia.

Ainda mais alarmante é o assassinato de dois militantes sem terra em Quedas do Iguaçu, no Paraná. “Eliminados” pela força repressiva de um estado que toma partido. E aqui não se trata de partido político, mas de uma empresa grileira, Araupel, que detém poder econômico e investe em campanhas.

Como se não bastasse a morte com cunho político – o da disputa por terras –, ainda causa espanto a tentativa de se acobertar o crime. Ora, é digno de muita suspeita que alguém que foi vítima de uma emboscada, no caso a Polícia Militar do Paraná, consiga escapar ilesa enquanto que o outro lado, o dos “emboscadores” tenha saldo negativo de duas mortes e alguns feridos. A versão oficial carece de muitas dúvidas se acrescida ao fato de que Rotam não apaga incêndio, como na versão oficial, e que o conflito se deu em terras de posse da União para assentamentos.

A construção dos fatos se torna ainda mais inconsistente na medida em que o novo secretário da Casa Civil, Valdir Rossini, esteve há menos de uma semana na região de Quedas do Iguaçu para tratar do “reforço nas ações policiais e de fiscalização na região”. Em 1 de abril, ele afirmou que o clima está “tenso em razão da invasão de áreas pelo MST”. O secretário, que sabe pertencer as terras à União, ainda antecipa a ação beligerante: “O Estado agirá com firmeza. Quem não tiver problemas com irregularidades, pode ficar tranquilo”.

 

O que quis dizer o secretário com isso? Tem alguma relação com assassinato, independente de quem armou a arapuca, no dia 7 de abril? Que medidas imediatas serão tomadas para garantir a segurança de todos? A posição de Rossoni é duvidosa no momento em que toma partido da Araupel. Empresa que deu R$ 50 mil para a campanha de deputado federal do secretário, outros R$ 150 mil para o governador Beto Richa, R$ 50 mil para Padovani e R$ 10 mil para Paulo Coletti, totalizando R$ 360 mil, de acordo com o TSE.

É preciso contextualizar também que a ação violenta da Polícia Militar ocorre logo após a saída da Força Nacional de Segurança do local. Em seu lugar, o governo estadual “reforçou a segurança com 80 agentes”, como revela o Terra Sem Males.

Muitas dúvidas pairam no ar sobre um governo que tem adotado o modelo da repressão contra seus opositores políticos. Por outro lado, há a certeza de que mortes, seja de qual lado for, estão sendo comemoradas pelos abutres que querem tocar fogo no país. Pessoas que abrem mão de qualquer sentido de humanidade quando enxergam seu inimigo abatido. São estes que sustentam a violência praticada pelo estado. São estes que armados de seus smartphones matam simbolicamente qualquer possibilidade de construir um país novo a partir do diálogo e do respeito mútuo. A estes, a democracia precisa ser estrangulada. E já está sendo.