Rachado, PMDB oficializa ruptura com o governo 

A tentativa de golpe que está em curso tem como principal instrumento a mídia, que segue o roteiro do impeachment de Fenando Collor, em 1992, para dizer que tudo que fazem está dentro da lei e respeita a Constituição.

Por Dayane Santos

Temer e Cunha

O anúncio oficial da saída do PMDB do governo – sim, pois, nos bastidores uma ala peemedebista já atuava contra o governo há muito tempo – é mais uma cantilena desse roteiro. Criou-se um ambiente para dizer que o governo estava isolado politicamente e pelo povo. Mas, diferentemente das novelas da Globo, o roteiro da crise política não se configurou. Manifestantes foram às ruas para defender da democracia em rechaço ao golpismo e no campo político as cartas ainda estão na mesa.

Apesar dos fogos de artifício da imprensa, a saída do PMDB tem muito barulho, mas ainda não demonstra os efeitos que eles dizem causar. A pose de PMDB unido bancada por alguns – marca da legenda desde os tempos de Ulisses Guimarães-, já não carrega os mesmos ideais nacionalistas daquele período.

A votação que seria nominal foi alterada pela aclamação para evitar expor o racha interno. Dos sete ministros que representam o PMDB no governo Dilma, quatro se manifestaram contrários à ideia de rompimento: Marcelo Castro (Saúde), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) Eduardo Braga (Minas e Energia) e Kátia Abreu (Agricultura). Kátia avalia até mesmo deixar a legenda.

Celso Pansera compareceu na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado para tratar dos desafios da pasta este ano. Perguntado pelo presidente da comissão, senador Lasier Martins (PDT-RS), sobre como ficaria a pasta diante da decisão do partido de deixar a base governista, Pansera, que está licenciado do mandato de deputado federal desde que foi empossado ministro (outubro do ano passado), destacou que é contrário ao impeachment. "Como deputado vou votar contra, eu acho que não existe ainda fato que determine o impeachment, essa é uma batalha minha”, disse.

Essa divisão também se reflete na reunião que deve oficializar a saída nesta terça-feira (29), que será comandado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), pois nem o presidente nacional da sigla e vice-presidente da República, Michel Temer, que articulou todos os procedimentos para a ruptura oficial, vai comparecer.

A aparente unidade é carregada de acordos e alianças para atender seus interesses individuais. Já se fala até num acordão entre Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para livrá-lo da cassação, caso Temer assuma o governo.

Segundo a colunista Mônica Bergamo, Cunha renunciaria à presidência da Câmara sob o argumento de que o novo governo precisaria articular nova maioria no parlamento. Seria suspenso pelo conselho de ética, mas manteria o cargo, garantindo o foro privilegiado.

Fofoca à parte, o fato é que Temer, Cunha e a grande imprensa estão engajados em uma tentativa de dar uma áurea de legitimidade ao processo de impeachment, avançar no golpe e assumir o poder.

Tudo no levar a crer que eles realmente acreditam que diante do escárnio cometido contra a democracia (caso a manobra o impeachment se concretize), o povo brasileiro vai aceitar que tudo seja varrido para debaixo do tapete e eles, por contar com o apoio da oposição tucana, poderão governar felizes passeando pelas ruas do país para eleger seus prefeitos e vereadores.

Ao se afastar do governo fazem o jogo de cena da mídia, para camuflar as citações e delações de seus nomes na Lava Jato. Esquecem que apesar da mídia, o povo ainda tem memória e, caso esqueça, ainda tem o Vermelho e tantas outras forças para lembrar.