PIB em queda: Com ação da direita, “não tem economia que aguente”

O IBGE divulgou que o PIB brasileiro teve retração de 3,8% em 2015, pior resultado desde o recuo de 4,3% em 1990. Para o economista Guilherme Delgado, não há como dissociar a atual situação da economia brasileira da crise política interna.

Por Joana Rozowykwiat

Guilherme Delgado

Segundo Delgado, desde o ano passado, há uma campanha – com colaboração da mídia e de parte do Ministério Público e da Polícia Federal – que tenta derrubar o governo e inviabilizar uma candidatura do PT em 2018. “Enquanto isso, a economia vai pro brejo”, disse.

Em entrevista ao Portal Vermelho, nesta quinta (3), Delgado, que é doutor em Economia pela Unicamp, foi taxativo: “Para melhorar as perspectivas da economia, precisamos resolver essa questão política”.

De acordo com ele, pelo menos 70% da crise econômica são decorrentes dos problemas na política. “Porque o grau de incerteza que se criou no ano passado, por causa do processo de impeachment, da Operação Lava Jato, das delações premiadas e dos vazamentos seletivos, tudo isso criou um clima interno muito sério, que, combinado com o clima externo de desaceleração das commodities, enfraquecimento da economia mundial, repercute aqui de forma magnificada”, avaliou.

Delgado tinha a expectativa de que, no princípio de 2016, o clima de instabilidade política melhorasse, mas isso não se concretizou. “Esse clima poderia estar desanuviado pelo fato de o impeachment ter sido praticamente inviabilizado pelas regras que o Supremo estabeleceu e pela reação política. No entanto, esse ambiente de fermentação política e instabilização continua, com forte colaboração do sistema midiático e de parte do Ministério Público e da Polícia Federal envolvida na Operação Lava Jato”, lamentou.

Estas declarações foram dadas no momento em que o noticiário está tomado por matérias sobre a suposta delação premiada do senador Delcídio Amaral, que teria feito acusações sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta Dilma Rousseff. O economista opinou que há uma tentativa orquestrada de criar “factoides” contra Lula e Dilma, à medida que “não há fatos”.

Delgado frisou que não é “petista nem lulista”, mas disse não estar “cego nem insensível” a um quadro que classificou como sendo “de orquestração ultradireitista”. Para ele, o cenário não é bom para a democracia. “Isso, na realidade, é um golpe branco”, defendeu.

“No fundo, o sistema político fica governado por essas operações. Eu chamaria de uma espécie de conspiração, nem tão silenciosa, para derrubada do governo vigente e a inviabilização da alternativa, que seria o candidato do PT em 2018. Esse contexto de crise política é o nó da questão. Não adianta eu ficar falando só de economia, como se fosse um sistema autônomo e autárquico, num quadro institucional dessa natureza”, apontou.

Em relação à suposta delação premiada de Delcídio, ele afirmou: “Qual é o fato dessas denúncias, que têm criminalidade apontada? Eu sou um pesquisador, você tem que trabalhar com fatos. Eu não vejo nessas denúncias fatos. Mas vai criando um clima de instabilidade permanente”, colocou. Segundo ele, nesse ambiente, “não tem economia que aguente”.

Refém da pauta do atraso

O maior problema, analisou o economista, é que, neste cenário, o governo fica acuado, não consegue atuar para combater a crise e ainda é obrigado a ceder. “Isso torna o governo refém. E ele termina apontando para uma pauta oposta àquela que deveria realizar, com base em seu programa eleitoral. Cria-se uma situação de ingovernabilidade. A pauta está sempre refém do inimigo, que tem a borduna maior que a cabeça da vítima”, disparou.

Delgado cita, como exemplos dessa agenda imposta, a reforma da previdência, que pode retirar direitos da população sob o argumento de realizar o ajuste fiscal; e as mudanças na legislação relacionada à Petrobras, que altera as regras para exploração do pré-sal.

“Depois ainda vem a pauta da independência absoluta do Banco Central e outras coisas desse tipo, que não têm a menor possibilidade de resolver a crise e só agravam o caldo de cultura de instabilidade social. Isso é parte da fermentação da crise”, destacou.

Para ele, a situação política não atrapalha apenas as ações do governo no combate à recessão, como também deteriora o ambiente geral da economia. “Economia depende de decisões de produção correntes e decisões de investimento. E as decisões de produção correntes, num sistema privado totalmente encolhido e num sistema público totalmente em crise de governabilidade, ficam paradas”, detalhou.

O economista ressaltou que, enquanto isso, as expectativas de produção, investimento e consumo ficam baixíssimas. E o próprio setor externo, “passada a euforia da maxidesvalorização cambial”, deve se acomodar em um patamar de certa “mediocridade”, avaliou.

Para ele, no fundo, estão questões relacionadas à economia política. “Existem forças poderosas no sistema financeiro, no sistema internacional, operando um processo de transição da economia política do nacional desenvolvimentismo em evidente crise para um retorno ao neoliberalismo, com golpe no estado de direito social”, denunciou.

O economista – que coordenou a área previdenciária do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e integrou o Conselho Nacional de Previdência Social –  citou a reforma da previdência, a defesa da autonomia do Banco Central e da desconstitucionalização das vinculações de recursos da saúde e educação como parte desse processo, que é “um golpe na Constituição de 88”.