Intelectuais e personalidades homenageiam Umberto Eco

O escritor italiano Umberto Eco recebeu homenagem de diversos intelectuais e personalidades da literatura, do cinema e da política em diferentes países.

Umberto Eco - Divulgação

O realizador francês Jean-Jacques Annaud, que levou a obra O nome da rosa, uma das mais célebres de Umberto Eco ao cinema, recordou o escritor como um erudito a quem "tudo divertia". "Era uma personagem muito erudita e de uma alegria de viver assombrosa. Uma mistura entre o sábio e o homem que amava rir e comer", disse o cineasta em entrevista à imprensa francesa.

Na entrevista, Annaud disse que Eco era um homem "com quem manteve uma relação de admiração total, tudo o divertia, transbordava alegria, tinha uma memória monstruosa, lembrava-se de tudo".
O escritor Roberto Saviano publicou em uma rede social uma mensagem de despedida simples, na qual citou as últimas palavras do romance O nome da rosa. “Nomina nuda tenemos. Adeus professor”, escreveu.

A frase inteira com a qual se conclui o romance é “stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemos”, uma expressão em latim que, na essência, explica a ideia de que no final só fica o nome das coisas.

Para Fernando Savater, escritor e filósofo espanhol, Umberto Eco era um "humanista integral" da nossa época, "que não somente era culto, mas sabia para que servia a cultura". O escritor italiano "tinha muita cultura em muitos campos, alguns deles insólitos", recordou o filósofo espanhol.

"Era um homem que tinham muitíssimos conhecimentos em muitíssimas áreas, algumas delas ocultas e outras muito populares, mas sobretudo tinha um instinto, um conhecimento sobre para que serve a cultura, quais os fins da cultura, que são como encontrar a felicidade e como tornar a vida suportável", acrescentou o professor catedrático de Ética na Universidade do País Basco.

Umberto Eco, que ganhou o Prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades no ano 2000, também foi recordado pela diretora da Fundação Princesa das Astúrias, Teresa Sanjurjo, que considerou que a instituição fica com um "enorme vazio". Descrevendo o autor de "O nome da rosa" como "um clássico do pensamento contemporâneo", Sanjurjo disse que "a lucidez e a qualidade da sua obra e o compromisso ético influenciaram de forma notável a nossa cultura".

O sociólogo português Paquete de Oliveira considerou a morte do escritor italiano "uma grande perda" não só para Itália como para a Europa.

"Penso que é uma perda não só para a Itália mas, sobretudo, para a Europa e numa altura em que a Europa mais do que nunca precisaria de ter presentes estes homens que iluminam com o seu pensamento a análise do presente" com uma "perspectiva do futuro", disse Paquete.

"Com Umberto Eco, que eu tive o gosto de conhecer pessoalmente e de ter reuniões de trabalho em grupos de investigação sobretudo sobre os media através da Associação de Sociologia, perdemos um vulto enorme para o pensamento europeu, para a visão que ele tinha sobretudo do futuro e, por isso mesmo também, a grande força de análise crítica que tinha do mundo contemporâneo".

Política

No mundo da política, o deputado do Partido Democrata (PD, no governo) Ivan Scalfarotto lamentou no Twitter a morte de “um grande italiano”.

Também o presidente da região italiana de Emilia-Romagna e membro do PD, Stefano Bonaccini, recordou frases do êxito de vendas “O nome da rosa” e despediu-se do vencedor do Prêmio Príncipe das Astúrias com um “Ciao #UmbertEco”.

Chefes de Estado

Os chefes de governo da Itália e Espanha lamentaram também a perda do escritor e semiólogo. O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, transmitiu os pêsames à família do escritor destacando a sua “inteligência única”, capaz de “antecipar o futuro”. “Foi um exemplo extraordinário de intelectual europeu, aliava uma inteligência única com uma incansável capacidade de antecipar o futuro”, destacou.

“É uma perda enorme para a cultura, que fica privada da sua escrita e da sua voz, do seu pensamento agudo e vivo, da sua humanidade”, acrescentou Mariano Rajoy, chefe do Governo espanhol.

Quem foi Umberto Eco

Semiólogo, filósofo, escritor e professor universitário, Umberto Eco nasceu em 5 de janeiro de 1932 em Alessandria, no noroeste de Itália, na região de Piemonte. Em 1988, fundou o Departamento de Comunicação da Universidade de San Marino.

Umberto Eco estreou nos livros de ficção em 1980 com O Nome da Rosa, que lhe valeu o Prêmio Strega, em 1981. A este livro, que foi traduzido em várias línguas, sucederam-se outros títulos, como O Pêndulo de Foucault, A ilha do dia antes, Baudolino, A misteriosa chama da rainha Loana e O cemitério de Praga.

No ano passado editou Número Zero, que coloca questões sobre jornalismo e as novas plataformas digitais, escolhendo como cenário narrativo a redação de um jornal diário.

Umberto Eco, que lecionou entre outras, nas universidades norte-americanas de Yale e Harvard, assim como no Collège de France, é autor de uma vasta bibliografia ensaísta, citando-se, entre outros, O signo, Os limites da interpretação, Kant e o ornitorrinco e Como se faz uma tese em Ciências Humanas, tendo dirigido e organizado obras como História da beleza, História do feio e História das terras e dos lugares lendários.

Desde 2008 era professor emérito e presidente da Escola Superior de Estudos Humanísticos da Universidade de Bolonha.

Umberto Eco foi ainda autor das obras infantis: A bomba e o general, Os gnomos de Gnu, Os três cosmonautas, com ilustrações do artista italiano Eugenio Carmi.

Novo Livro

Um novo livro de Umberto Eco deve ser publicado em março deste ano, segundo o editor Mario Andreose. O título do livro é Pape Satan Aleppe, frase retirada da Divina Comédia, de Dante Alighieri (1265-1321). A publicação reunirá artigos publicados pelo italiano desde 2000.

O funeral de Umberto Eco ocorrerá no Castelo Sforzesco, em Milão, na terça-feira (23). O local abriga um museu que expõe obras de Da Vinci e Michelangelo e podia ser observado por Eco da janela de sua casa. Segundo Andreose, o velório será laico a pedido do escritor, que era ateu.