Fraude na merenda: estudantes organizam rolezinho na Assembleia de SP

Nesta terça-feira (23), a União Paulista de Estudantes Secundaristas (Upes) realiza um rolezinho na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para perguntar  “Cadê a merenda que tava aqui?”. A mobilização está sendo organizada através de um evento no Facebook. Os estudantes defendem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os desvios. O rolezinho será transmitido ao vivo aqui.

Mobilização Ubes/Upes "cadê a merenda que tava aqui?" - Ubes
A Upes tem acompanhado o caso da merenda desde as primeiras denúncias de fraudes nas licitações, onde aparece o nome do presidente da Assembleia, o deputado tucano Fernando Capez.

Na semana passada, a entidade visitou várias unidades escolares no estado, conversando com estudantes, pais e professores para entender o impacto das denúncias no dia a dia da escola.

Calcula-se que o esquema tenha chegado a 150 municípios de São Paulo, de acordo com informação no site da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes).
 

Igor Gonçalves, que dirige a entidade em Osasco, assumiu a tarefa de ir às escolas e contou ao site da Ubes a dinâmica diária. Na Vila Clara, coração da periferia na zona sul de São Paulo, ele esteve no colégio estadual João Ernesto Faggin e encontrou um cenário desolador.
“Dos três dias em que estive na escola durante os intervalos, em dois a merenda foi biscoito e leite; no terceiro, somente macarrão. A galera diz que o cardápio não é atrativo e que gostaria que houvesse mais variedade de alimentos. Isso se repete em muitos outros lugares. Os secundaristas reclamam que continuam com fome, mesmo depois das refeições”, relatou.
O líder estudantil também falou sobre a estadual Brasílio Machado, na Vila Mariana. Uma estudante do 3º ano, que preferiu não se identificar para não sofrer perseguições, contou que, além de baixa qualidade, a merenda não é fresca. “Ela informou que no ano passado a merenda era bolacha de água e sal, suco e uma espécie de papinha. E, para nosso espanto, as merendeiras disseram ser obrigadas a servir sobras de arroz de três dias atrás por falta de alimentos”, disse Igor.
No Centro da capital, na aguerrida Caetano de Campos, onde a mobilização do movimento estudantil é permanente, o descaso é o mesmo. O estudante Felipe Ary de Souza, do 1º ano do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), contou que houve piora na merenda desde o ano passado, com a redução da variedade no cardápio.
“Na maioria dos dias servem bolacha de água e sal e leite. São só duas merendeiras para mais de mil alunos do mesmo período. Os refeitórios estão em péssimo estado, e à noite nunca há merenda”, criticou o estudante.
 
Desde o ano passado, a Upes e a Ubes defendem a bandeira contra a chamada “merenda seca” (bolachas, biscoitos e barras de cereais), por saber que para muitos jovens a principal refeição do dia é a oferecida nas escolas. Outra luta é pela oferta de merenda para todos os turnos, especialmente o noturno, demanda que ainda não é respondida pelo governo.
Investigação
A Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo investigam desde 19 de janeiro a participação de políticos no roubo da merenda. A batizada operação Alba Branca apreendeu dirigentes da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) em Bebedouro, cidade do interior de São Paulo que está no centro das investigações. Na Coaf, policiais e promotores encontraram indícios de que pelo menos 20 prefeituras do estado pagaram mais caro pela merenda servida em creches e escolas públicas.
 
Segundo o funcionário da Coaf que denunciou a fraude, a cooperativa contratava “lobistas” que atuavam junto aos governos e prefeituras, pagando propina a agentes públicos em troca de favorecimento em contratos. O maior deles é com a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. De acordo com o Ministério Público, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) pagou R$ 7,7 milhões à cooperativa no último ano.
 
Durante as investigações, foram apontados como supostos recebedores de propina o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Fernando Capez (PSDB); o ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Alckmin e braço-direito do secretário Edson Aparecido, Luiz Roberto dos Santos; o presidente do PMDB paulista, deputado federal Baleia Rossi; o deputado federal Nelson Marquezelli (PTB); e o deputado estadual Luiz Carlos Gondim (SD). Há suspeita de que a propina tenha sido usada em campanhas eleitorais.