Carlos Sorin: A melhor forma de entender um país é pelo cinema

O diretor argentino Carlos Sorin traz, em seu cinema minimalista, diálogos valiosos, personagens complexos e a força da natureza imponente da Patagônia, certamente seu protagonista em todos os seus quatro filmes. Em entrevista à TV brasileira em 2009, o diretor afirmou que “a melhor maneira de entender um país é através do cinema, o meu cinema é realista”.

Por Mariana Serafini

Carlos Sorin - Divulgação

De Histórias Mínimas (2002) a Filha Distante (2012) é possível ver uma evolução técnica nos filmes de Sorin, mas sua sensibilidade na construção de cada personagem é a mesma. Não há diálogo sem motivo, absolutamente tudo é valioso. É como se o diretor exaltasse a importância das relações humanas em contraste à vida solitária dos desertos do Sul argentino.

A Patagônia é, sem dúvida, o protagonista de todas as histórias. Os cenários inóspitos, a natureza imponente, as longas distâncias entre um personagem e outro dão vazão a histórias simples que se tornam grandiosas por fortalecer questões relativas ao ser humano. Cenas longas e silenciosas levam o espectador a entrar em contato com ele mesmo, diante de um céu infinito, ao som do vento “minuano”, aquele vento tão gelado que chega ser cortante, e leva o frio ao restante do continente.


Cena de Histórias Mínimas

Depois de seu primeiro filme, Histórias Mínimas, com personagens de vidas simples e personalidades complexas, Sorin parte ao encontro da história de amizade entre um homem e um animal, é o filme Bombom, o cachorro. Estas duas primeiras películas foram produzidas com pessoas comuns, e não com atores. Argentinos de todo o país se inscreveram para viver as aventuras minimalistas na Terra do Fogo.

Segundo o diretor, há uma mudança significativa na construção de seus personagens dos dois filmes seguintes, A Janela e A Filha Distante. Sorin explica que no começo da carreira retratava pessoas de “classes mais baixas” e consequentemente mais transparentes e menos complexas. Para ele, foi um desafio construir a história de pessoas “de classe média, que têm mais conflitos e por isso são mais complexas”.


Cena de Bombom, o cachorro
 

A Janela conta os últimos dias da vida de um senhor que passa o tempo a contemplar a paisagem, pela janela, à espera de um filho que deveria voltar da Europa. Enquanto A Filha Distante traz a relação conflituosa entre pai e filha e um reencontro sem dramalhões típicos de filmes tradicionais.

Quanto a isso, Sorin justifica que prefere fazer filmes de baixo orçamento e equipes reduzidas pois assim se sente mais livre. Segundo ele, as grandes produções são obrigadas a seguir um roteiro que muitas vezes empobrece a história; ele prefere ter a liberdade de mudar os rumos do projeto no meio, sem medo de “prejuízos”; até agora as mudanças de percurso só renderam excelentes resultados.


Cena de A Janela


“Há temas que comovem, e se me comovem eu penso que também podem comover o espectador. Os personagens são complexos”, afirma. Estes temas, porém, são simples, mas bem explorados. É o caso de uma das histórias mínimas, um dos personagens quer fazer uma surpresa para a mulher por quem é apaixonado e presentar o filho dela com um bolo de aniversário, mas não tem certeza se é um “menino ou uma menina, afinal, se chama René”. Sem coragem de perguntar, é longo o percurso do bolo até a criança.


Cena de A Filha Distante


Sorin ganhou uma espécie de projetor quando tinha apenas 6 anos, em 1950, e isso despertou sua paixão pelo cinema. Inspirado pelos grandes como Federico Felini, Ingmar Bergman, Luchino Visconti e Jean-Luc Godard, diz que gostaria de ter “vivido a Nouvelle Vague” e revela que Histórias Mínimas foi muito inspirado no diretor iraniano Abbas Kiarostami, enquanto A Janela tem referências do cinema russo.

A obra de Sorin com certeza é uma pequena joia do poderoso cinema argentino. Pequena por se tratar de apenas quatro filmes, porém, valiosíssima pela sua singularidade estética e sensibilidade humana.