Delegado critica colegas sobre investigações de corrupção no PT 

Na entrevista do ex- presidente do Sindicato de Delegados da Polícia Federal de São Paulo e também ex-presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (entidade que congrega todos os sindicatos da categoria), Amando Coelho Neto, feita pelo jornalista Humberto Mesquita, ele foi direto: “Não existe luta contra a corrupção na PF. Existe uma guerra contra o PT”.  

Por Jorge Alberto Benitz*

Delegado critica colegas sobre investigações de corrupção no PT

Ali estava alguém que mais do que ninguém de fora, conhece a instituição por dentro, dando um depoimento que deveria abalar a república, caso houvesse espaço para indignação justa e calcada em princípios republicanos.

Percebe- se que ele, ao contrário dos depoimentos bombásticos, se pauta por comedimento e senso de republicanismo evitando acusar de antemão colegas na ânsia de defender seus argumentos. Um detalhe aparentemente desimportante. Só aparentemente porque se se cotejar com o estilo da grande mídia, especialmente, quando está na mira o PT e Lula onde estabelece- se um vale tudo que joga fora todos os preceitos republicanos.

Para ilustrar sua indignação com o atual estado de coisas, ele relembra que quando da busca de um depoimento do ex- presidente FHC, no qual ele se fez presente quando ainda na ativa, houve toda uma deferência ao mesmo, que se permitiu a dar o referido depoimento em seu apartamento e como bem diz Fernando Brito, tudo foi feito “com absoluta discrição e sem qualquer tipo de constrangimento, como deve ser a colaboração com a apuração de crimes” contrastando em tudo com a ação da mesma PF na visita ao filho do Presidente Lula que se caracterizou pela espetaculosidade e truculência quando este retornava de uma festa de noite.

Na esteira do depoimento, ele faz  interessantes análises e revelações, inclusive críticas ao governo Dilma, ressalvando que muitas das ações aparentemente incoerentes do governo se devem a ações de sabotagem dos empresários e industriais.

Cabe registrar o exemplo que ele diz costumar dar para o agravamento da crise que se relaciona ao uso de seguro desemprego através de conluio entre empresários, industriais e trabalhadores que prejudicam a arrecadação do governo e ao fim e ao cabo o que era para ser um mecanismo de justiça social se transforma em fonte de lucro para o empresário ou industrial que na maior “cara de pau” coloca a culpa no governo pela queda de arrecadação.

Saber que a PF está agindo não como agente do Estado e sim como um policia política não contra a corrupção e sim usando suas prerrogativas para atingir o próprio governo é estarrecedor até para quem é um leitor medianamente informado como eu.

E, pior, “tudo continua como dantes no quartel de Abrantes” revelando que o poder real não está no governo, porque se estivesse, a cabeça do chefe da polícia federal deveria rolar como rolou a do então diretor chefe da polícia federal na época do Satiagraha, Paulo Lacerda, que por muito menos, dado que até hoje nunca ficou bem explicado a história do vazamento, foi demitido e enviado para um “freezer” na Europa.

Corrijam- me se estou errado. Tenho a impressão de que existe um paradoxo na nossa república onde parece que o poder real não está no poder formal: Ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, acusou o Diretor Chefe da Policia Federal de vazamento, o que foi suficiente para o arquivamento de um processo envolvendo personagens chaves do mundo econômico e financeiro.

Hoje, o mundo percebe o vazamento seletivo de trechos de delação premiada de empresários, tecnocratas e doleiros reincidentes como Alberto Youssef, que como muito bem lembrou o cineasta Jorge Furtado, em delação anterior (Caso Banestado) não entregou todo o mundo, melhor, não entregou o principal personagem daquela maracutaia, o falecido José Janene.

Quem é capaz de afirmar que na Operação Lava Jato, ele, Alberto Youssef – ou qualquer um dos demais – não está usando o mesmo expediente de revelar o que lhe interessa apenas? Agrego a esta pergunta outras de não menor importância:

Que república é esta onde um ministro do Supremo Tribunal Federal parece ter mais poder sobre o executivo do que o Presidente ou a Presidenta? Onde fica a tese da separação dos poderes pregada por Montesquieu na sua obra “O Espírito das Leis”? Será que a realpolitik, aqui uso este termo no seu sentido maquiavélico, do mundo em que vivemos onde grandes corporações industriais e financeiras e até pessoa físicas tem mais poder e dinheiro que países, transformou os conceitos basilares da democracia representativa e do republicanismo em peças de ficção?