Carlos Assis: Manipulação da imprensa nas colunas picotadas

As colunas de notícias dos grandes jornais servem em geral para abrigar fatos mal apurados ou para dar informações sabidamente sem muito fundamento. Se o noticiário comum se presta à manipulação aberta dos leitores, a coluna é por onde passa a má fé. Todos os grandes jornais tem suas colunas de notícias picotadas e nelas se exibe com extravagância a irresponsabilidade mais descarada dos donos e de seus jornalistas de confiança.

Por J. Carlos de Assis*, no Jornal GGN

mídia manipulação - Reprodução GGN

Para exemplificar, em lugar de escrever um artigo, vou fazer hoje uma coluna de notas.

No afã de descobrir uma maneira de prender Lula e sua família, e à falta de material para denunciá-los, os jornais Folha de S. Paulo e Globo inventam e depois requentam matérias antigas como se fossem novas. No caso da cooperativa que iniciou o prédio onde Lula teria um apartamento, a responsabilidade de conclusão da obra foi atribuída inicialmente à OAS. Depois já não era a OAS mas outra empresa. Aí entra a Odebrecht reformando um sítio de um amigo do Lula. Também não há quem estabeleça uma relação entre ambos. Ou seja, primeiro inventa-se, depois se busca a prova do favorecimento. E nada se prova, tudo se manipula.

O Globo já não fala mais em prédio onde Lula tem apartamento. Fala em prédio onde ele teria tido um. Na verdade, era a quota inicial de apartamento que o ex-Presidente vendeu de volta à incorporadora depois de começar a pagá-la. O Globo não esclarece isso. E se esqueceu da falsa “denúncia” do promotor Cassio Conserino, feita de forma categórica na tevê, de que Lula teria comprado o apartamento de uma vez. É claro que esse promotor é um desqualificado vaidoso que sequer conhece negócio imobiliário. Contudo, Globo e Veja omitem isso descaradamente.

O promotor Conserino, que procurou Veja para “denunciar” a falsa compra do imóvel do prédio Solaris por Lula, isso antes de formalização de qualquer acusação na Justiça, se abrigou debaixo das asas da Lava Jato talvez para tentar evitar processo que o ex-Presidente ameaçou mover contra ele. Na realidade, ele só tem proteção funcional para acusar alguém de irregularidade num processo formalizado. Para isso precisa ter provas, e não tem. Diante da ameaça de processo contra ele, o que pode lhe custar o cargo, os procuradores da Lava Jato decidiram entrar também na investigação para lhe dar cobertura. Tutti buena genti!

Conhecem-se muitos casos de pessoas do setor público que cometem irregularidades quando recebem presentes caros no exercício do poder. Dona Marisa Letícia, mulher de Lula, é a primeira, que eu conheça, que é acusada de irregularidade por dar presente – no caso, um barco de pesca para o sítio frequentado nos fins de semana por seu marido, que comete o crime de gostar de pescar. Custou pouco mais de 4 mil reais. Imaginem quantas pessoas não gostariam de oferecer um barco um pouco melhor para a ex-Primeira Dama, de graça, se ela estivesse disposta a aceitar!

Agora pensem bem nisso: um cara passa oito anos como Presidente da República, elege por dois períodos sua sucessora, e é acusado, como único crime, de ter comprado um apartamento de classe média em Guarujá. Dá para acreditar nisso? Ou estamos diante de uma das mais contundentes manipulações da opinião pública promovida pela imprensa antipetista, ou há uma incompetência absoluta nos órgãos de investigação para descobrir irregularidades reais na vida do ex-Presidente.

A conclusão mais importante que podemos tirar desse conluio entre imprensa e promotoria partidarizadas é a ausência, no círculo presidencial direto, de um órgão de informação competente. Obama não se mexe sem ouvir NSA, CIA, FBI e órgãos de informação militares. Nós temos ABIN, de notável incompetência porque trabalha com orçamentos ridículos. Se tivéssemos junto à Presidência um órgão de informação competente, formado a partir dos órgãos de informação militares, jamais ocorreriam situações como a da Petrobrás. E talvez o Governo pudesse descobrir o que está por trás das conspirações midiáticas em andamento como forma de proteger o interesse nacional.