Leci Brandão, carioca de nascimento e paulistana de coração

Entrevistada pela TV Vermelho a sambista e compositora Leci Brandão recordou o início de sua trajetória como cantora. Entre os fatos, ela relembrou a estreia a partir da gravação de um compacto e em seguida de um LP. “Foi uma gravadora daqui (de São Paulo) que decidiu gravar o meu primeiro compacto e o meu primeiro LP”. Próximo às comemorações do 462 anos da cidade de São Paulo, Leci ressaltou que “nada se compara ao reconhecimento” que recebeu da capital paulista. 

Leci Brandão, sambista e deputada estadual - Roberto Oliveira

“Agora no final do ano eu estava no Rio de Janeiro, perto do Natal. Um calor e eu disse 'eu preciso voltar pra São Paulo'. Enquanto não cheguei aqui não fiquei boa”, confessou Leci, que atualmente exerce o segundo mandato como deputada estadual pelo  Partido Comunista do Brasil (PCdoB) de São Paulo.

O primeiro e decisivo contato de Leci com São Paulo foi nos anos 70, através do produtor Marcus Pereira, que acabara de criar, na capital paulista, uma gravadora independente voltada para música popular e ritmos brasileiros.

Na primeira metade da década, Leci havia dito ao jornalista Sérgio Cabral, um dos fundadores do jornal Pasquim e muito próximo aos artistas da música popular, que não tinha interesse em gravar e que “meu negócio é ficar cantando samba na escola”.

Um pouco depois foi convidada para os sambas do teatro Opinião, quando foi assistida pelo Marcus Pereira. “E o Marcus  na segunda-feira da semana seguinte levou o contrato pra gente assinar”, lembrou.

A história musical de Leci Brandão começou a ganhar as lojas e os programas de rádio. Na televisão ela foi apresentada através do programa Ensaio, criado e dirigido pelo jornalista e produtor Fernando Faro, na TV Cultura. Uma espécie de memória em áudio e vídeo da produção musical brasileira desde os anos 60 até os dias de hoje.

Leci participou do programa como convidada do reverenciado sambista mangueirense Cartola, que a apresentou como uma promissora cantora e compositora de sambas. Ela então passou a fazer parte da ala de compositores da Mangueira, sendo a primeira mulher a quebrar a hegemonia dos homens naquele seleto time de artistas do povo.

“Nessa época eles (a gravadora Marcus Pereira) também tinham contratado Cartola. Então nós lançamos os dois LPs simultaneamente o que resultou em uma entrevista no programa Ensaio.. E na verdade é o primeiro DVD em preto e branco que a gente faz”, contou Leci. A gravadora Trama transformou essa entrevista do Ensaio em um DVD que mostra uma Leci, nas palavras da própria sambista, “novinha, que cantava com um vozinha bem aguda”.

As circunstâncias da estreia de Leci em disco ainda estão frescas em sua memória e parecem sinalizar para um vínculo muito mais profundo 40 anos depois, quando Leci é reconhecida não só como artista pelo povo de São Paulo mas como sua representante no parlamento.

Carioca de nascimento e paulistana de coração, Leci reconhece que em São Paulo tem “uma elite nervosa” mas também produz relações afetivas profundas. “Aqui depois que conhece fica amigo. Tem essa coisa, preserva. Não e aquela coisa em passant encontrou na praia. Você marca pra almoçar, pra tomar um chope, a fazer uma comida na casa da pessoa. Nada na minha vida vai se comparar ao carinho, ao reconhecimento. As pessoas em são Paulo não tem vergonha de dizer que amam você”, elogiou Leci. 

Confira a cobertura sobre os 462 de São Paulo no Portal Vermelho