Conheça Milagro Sala, a primeira presa política da Argentina de Macri

Na Argentina de Maurício Macri as manifestações sociais em defesa de direitos parecem não ter mais espaço. Com pouco mais de um mês de governo, o novo presidente já tem em seu breve histórico uma presa política. Trata-se de Milagro Sala, uma das mais importantes líderes comunitárias do país e deputada do Parlasul (Parlamento do Mercosul).

Por Mariana Serafini

Milagro Sala - Taringa

Milagro foi detida no último sábado (16) em sua casa, depois de uma operação policial que contou com mais de 40 oficiais. Ela é acusada de bloqueio de vias, impedir a livre circulação de pessoas e veículos e suposta recusa de cumprir a decisão do governo de executar um plano de regularização das cooperativas. Isso porque ela é a dirigente fundadora da organização social Tupac Amaru que desde dezembro promove manifestações em defesa de suas cooperativas em Jujuy.

Em entrevista à agência Sputnik, o marido de Milagro, Raúl Noro, afirmou que ela é “a primeira presa política do governo Macri”. Segundo ele, Milagro foi detida porque pediu uma audiência com o governador da província, Gerardo Morales, aliado de Macri, antes mesmo da posse, em 10 de dezembro do ano passado. O objetivo da audiência era tratar o futuro das cooperativas da organização Tupac Amaru.

Como o novo governador não atendeu à solicitação, os militantes da organização decidiram, em assembleia, ocupar pacificamente a praça em frente ao palácio do governo de Jujuy. Desde meados de dezembro eles estão acampados, em busca de uma audiência, e passaram Natal e Ano Novo em barracas, sem terem uma perspectiva de quando seriam atendidos.

A organização Tupac Amaru recebeu subsídios durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner 


Ao ser detida, Milagro publicou em sua conta oficial no Twitter: “Neste momento a polícia de Gerardo Morales está me prendendo, isto é como na ditadura”. No cárcere, a dirigente indígena iniciou uma greve de fome para denunciar o que considera “uma perseguição política”.

O habeas corpus solicitado pelo advogado da deputada, Luis Paz, foi rechaçado e ele diz que não houve surpresa neste resultado jurídico, por se tratar “claramente de um direcionamento no poder judicial da província de Jujuy que indica qual será a sorte das organizações sociais que pensam diferente do governo”. Com este resultado, Milagro segue detida sem perspectivas.


Atualmente a organização Tupac Amaru conta com 66 mil trabalhadores filiados


O presidente do Parlasul, o deputado Jorge Taiana, também está se mobilizando para conquistar a liberdade da colega parlamentar. A bancada progressista do Parlamento emitiu uma nota de repúdio à ação do governo.

Pela liberdade de Milagro

Nesta segunda-feira (18), organizações populares, partidos políticos e movimentos sociais de todo o país se mobilizaram em praças e espaços públicos para exigir a libertação de Milagro. A principal manifestação aconteceu na Praça de Maio, em Buenos Aires.


Manifestação realizada nesta segunda-feira (18) 

Três militantes da organização Tupac Amaru relataram a experiência de compartilhar a luta por direitos sociais com Milagro. E o discurso final ficou a cargo da presidenta da Associação das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, uma das dirigentes mais importantes do país. 

Tupac Amaru

A associação Tupac Amaru é um grupo político fundado por Milagro Sala na província de Jujuy em 2001, e já está presente em 17 das 23 províncias argentinas. Conta atualmente com mais de 65 mil filiados, e 4.500 trabalhando nas cooperativas.

As cooperativas foram criadas para a construção de moradias populares, a principal está localizada a 15 km do centro de Jujuy, conhecida como bairro Alto Comedero e foi construída com apoio do governo de Néstor Kirchner. Os bairros da organização Tupac Amaru se destacam por prezar pela qualidade de vida dos moradores e contam com piscinas comunitárias, cafés, minimercados e complexos esportivos.

As inspirações políticas da organização indígena são, obviamente, o líder Tupac Amaru, Che Guevara e Evita Perón. Os militantes têm como modelo político ideal o presidente da Bolívia, Evo Morales, principalmente pela integração indígena e reconhecimento oficial das diferentes culturas do país.