Boris Fausto reconhece: "há cansaço geral com impeachment" 

A cantilena golpista não tem empolgado nem mesmo figuras tradicionalmente ligadas ao tucanato. Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e eleitor declarado de Aécio Neves, o historiador Boris Fausto avaliou que “há um cansaço geral da população” com o tema do impeachment. Para ele, falta coerência à oposição. O PSDB é um "aglomerado e dificilmente mereceria um rótulo de um partido que tem um caminho claro", criticou.

Boris Fausto

À Folha de S.Paulo, ele disse que o "antagonismo" de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) "dificultou muito o andamento" do processo de afastamento da presidenta. E opinou que o avanço do impeachment “ficou muito mais complicado do que parecia há duas semanas".

"O fato é que ele [Cunha] é quem ele é, com acusações de toda ordem e com uma folha corrida das mais negativas. Isso manchou, do ponto de vista da estratégia, o procedimento", disse, em entrevista publicada nesta quinta (24).

Boris Fausto condenou a atitude do presidente da Câmara dos Deputados,que utilizou o processo de impeachment como barganha. “Cunha é uma figura muito negativa, isso não é segredo para ninguém, e que maculou bastante, do ponto de vista estratégico e da retórica, o processo de impeachment. Ele jogou com isso, tentou usar o pedido de impeachment como moeda de troca para salvar o seu mandato”.

Segundo ele, o processo contra a presidenta Dilma Rousseff ficou “complicado” – e não só por causa de Eduardo Cunha. “O impeachment depende de certos elementos políticos e daquilo que se chama de ‘a voz das ruas’. (…) É evidente que assistimos a uma queda gradual [do número de manifestantes] em relação março. Minha impressão é que há um cansaço geral”, diagnosticou.

O professor da USP também mostrou-se desanimado com o cenário almejado pelos golpistas. “Acreditar que o Brasil avance muito com a substituição da Dilma por um conjunto de forças que tenha Michel Temer na Presidência é algo discutível”, afirmou.

Para o historiador, a oposição não conseguiu se manter coerente. “O PSDB se desfigurou como partido que sonhava ser um partido social-democrata. Hoje é um aglomerado e dificilmente mereceria um rótulo de um partido que tem um caminho claro, definido”.