Toni Reis: Conservadorismo é reflexo de avanços na comunidade LGBT 

“ Os avanços da comunidade LGBT refletiram em uma contraofensiva conservadora, mas estamos revertendo o retrocesso”. A afirmação é do militante pela causa dos direitos humanos e da comunidade LGBT, Toni Reis. Ele diz que os últimos 12 anos foram estratégicos na construção de leis e políticas públicas que combatem o preconceito e garantem cidadania a gays, lésbicas e transexuais. Ao Portal Vermelho, o ativista aponta saídas para se desvencilhar da agenda fundamentalista.

Por Laís Gouveia 

Toni: Agenda conservadora é reflexo de avanços para a comunidade LGBT

Toni avalia que ações jurídicas foram estratégicas para garantias sociais. “O maior avanço para a comunidade LGBT, foi o Supremo Tribunal Federal (STF) ter reconhecido a união estável e posteriormente o Conselho Nacional de Justiça reconhecer a transformação da união estável em casamento. Além disso, foi importantíssimo o reconhecimento do nome social na educação, como foi adotado nas provas do Enem. Na área institucional, podemos citar como progresso a criação do Conselho Nacional LGBT”.

Onda conservadora

Ele considera que, momentos históricos de avanços aos direitos humanos, trazem uma contraofensiva de movimentações conservadoras. “Principalmente capitaneada pelos religiosos fundamentalistas, no ano de 2015 ocorreu um tsunami de conservadorismo na área da educação. Os movimentos sociais obtiveram conquistas importantes que foram inseridos no Plano Nacional de Educação, incluindo a pauta das minorias LGBT, mulheres, negros indígenas, população rural. A partir desse avanço, deu-se início o retrocesso. Jorge Scala, autor argentino, criou de forma enganosa o conceito da ideologia de gênero, dizendo que o princípio dela é trazer o fim da tradicional família, gerar pedófilos e tais discursos foram propagados nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e na Câmara dos Deputados”, afirma Toni.

Dialogo como saída

“Estamos conseguindo reverter essa onda de inverdades com diálogo. Na sala de aula é necessário que se coloque o respeito a todos, independentemente da sua opção de gênero. Um grande ponto a ser comemorado foi a aprovação da Lei Anti-bulling na Câmara dos Deputados, que, inclusive, já foi sancionada, além dos instrumentos importantes de articulação como os Fóruns estaduais e o Fórum Nacional de Educação, além das conferencias LGBT´S. Precisamos conversar com a sociedade para desfazer preconceitos e já avançamos muito. Eu tenho 50 anos de idade e sei que antigamente não existia condições sociais para assumir a homossexualidade”, avalia Toni.

Combate à violência contra a população LGBT

É cada vez mais comum episódios envolvendo espancamento de jovens gays, lésbicas e transexuais, que são vítimas de sessões de espancamento por grupos homofóbicos. Vários agredidos não resistem aos ferimentos e morrem. Segundo pesquisas, em 2014, foram documentados 326 mortes de gays, travestis e lésbicas no Brasil, incluindo nove suicídios. Isso representa um assassinato a cada 27 horas, além disso, houve um aumento de 4,1 % em relação ao ano anterior (313). Outra estatística negativa é que o Brasil continua sendo o campeão mundial de crimes motivados pela homofobia e transfobia.

Segundo Toni, algumas ações estão sendo realizadas para enfrentar tal situação de vulnerabilidade da população LGBT. “O Governo Federal assinou um termo de cooperação técnica com as secretarias de segurança pública dos estados, para que componham os grupos de trabalho na segurança, pois é necessário treinar a polícia também para ter preparo nesta atuação especifica, tendo em mente que a policia também é um reflexo da sociedade que possui preconceitos estabelecidos”.

Ações afirmativas

No ano de 2015, várias ações ocorreram para o fortalecimento da luta dos direitos LGBT. Em outubro, foi criada a União Nacional- LGBT e nesta sexta-feira (18), Curitiba foi sede do “I Encuentro Regional Gay Latino”, que se configura em um fórum de militantes latino-americanos que lutam pelos direitos gays na região.

No plano político, existem propostas que seguem na contramão do retrocesso, como o Projeto de Lei do Deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), que reconhece a realidade dos novos arranjos familiares, tendo por base o afeto e o amor e o Estatuto da Família, que está no momento tramitando no Senado.

“Não podemos nos isolar no debate, devemos ampliá-lo, dialogando e ganhando vários setores da sociedade. Hoje, por exemplo, possuímos 72 núcleos de estudos em universidades, além de teses, livros, que abordam a questão da diversidade sexual, estou otimista que vamos vencer o retrocesso, damos três passos para trás para dar cinco à frente. Na idade média fomos queimados na fogueira e hoje lutamos para termos respeito nas escolas, não podemos negar que há um avanço histórico. Basta ao discurso do o olho por olho ou dente por dente, caso o contrário, terminaremos todos banguelas e cegos”, conclui Toni.