Um em cada 4 mortos pela Polícia de Alckmin tem entre 13 e 17 anos

Levantamento da Prefeitura de São Paulo e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) mostra que, a cada quatro pessoas mortas pela Polícia em 2014 na capital paulista, uma possuía entre 13 e 17 anos. O estudo aponta ainda que duas a cada três vítimas eram negras – a incidência de morte (64%) é 2,75 vezes maior que entre brancos. De acordo com a pesquisa, a polícia foi responsável por 21% dos homicídios ocorridos na capital no ano passado.

Violência policial em SP

A pesquisa Juventude e Violência no Município de São Paulo traz informações como cor, idade e local da morte, que são informados em declarações de óbito.

"Nos impressionou na análise do perfil das vítimas o recorte etário. É bastante preocupante que as vítimas da polícia estejam sendo mortas cada vez mais cedo", disse a socióloga e coordenadora da pesquisa, Giane Silvestre, do Gevac (Grupo de Estudos Sobre Violência e Administração de Conflitos), da UFSCar, em matéria publicada em O Estado de S.Paulo.


Para ela, a explicação para o perfil de vítima da letalidade está na imagem do suspeito estabelecida pela polícia. "A PM constrói a ideia de que existe um tipo com determinada cor e idade que transita por determinados territórios e é sempre suspeito. Isso faz com que a ação policial seja direcionada."

O secretário municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, destacou a relevância da letalidade policial em relação à população negra e pobre da capital. "Em São Paulo, a população negra é da ordem de 37% e a proporção de jovens negros (mortos pela polícia) de 15 até 29 anos é de 64%", afirmou.

O índice de letalidade policial registrado no ano passado na cidade de São Paulo é o maior da série histórica. Ele representa 21% do total de MVI (morte violenta intencional), uma categoria do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que mede o impacto das mortes provocadas por policiais. A média nacional é de 5%, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública — feito pelo Fórum.

"O peso das mortes cometidas por policiais é muito alto. Uma a cada cinco pessoas que são mortas na cidade de São Paulo é pela polícia", afirma a socióloga Jacqueline Sinhoretto, coordenadora do Gevac.

O estudo mostra ainda que o número de mortos pelas polícias paulistas, entre 2013 e 2014, é maior do que a quantidade de feridos. Foram 528 mortes no período, ante 390 feridos. "O treinamento de tiro defensivo da Polícia Militar é para não atirar nas áreas vitais. Seria esperado um número de feridos superior ao de mortos. Essa é a orientação da PM", argumenta Jacqueline. "Mas o que verificamos nos dados não é isso. O que evidencia que alguma coisa no uso da força policial não está funcionando bem".

A pesquisa reconhece que a violência urbana atinge muitos policiais, mas pontua que a proporção entre policiais e civis mortos por ação policial "evidencia um padrão de uso excessivo da força policial, em especial da PM". Em 2014, foram 353 vítimas de ação policial, ante 11 policiais mortos.

Questionada sobre a pesquisa, a Secretaria de Segurança Pública afirma que os números apresentados "não correspondem aos registros oficiais" e que não podem ser analisados porque a metodologia do estudo não foi explicada.