Movimentos sociais convocam população às ruas contra o golpismo

Em defesa da democracia e contra o impeachment, pelo Fora Cunha e não ao ajuste fiscal. Unificados em torno destas bandeiras, os movimentos sociais brasileiros, unidos na Frente Brasil Popular, vão tomar as ruas no próximo dia 16 em uma mobilização nacional.

Por Dayane Santos

Ato Largo da Batata 20 de agosto de 2015

Nesta quarta-feira (9), no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, lideranças da CUT, CTB, Intersindical, UNE, MST, MTST, Conam e outros realizaram coletiva de imprensa para lançar a convocatória unificada para o Dia Nacional de Luta. Em São Paulo, o ato vai se concentrar no Vão Livre do Masp, a partir das 17 horas, e seguirá em passeata até a Praça de República.

“A saída para o povo brasileiro é a ampliação de direitos, o aprofundamento e o fortalecimento da democracia e as reformas populares. O impeachment representa um claro retrocesso na construção deste caminho”, diz o documento convocatório.

“Seremos milhares nas ruas no dia 16 de dezembro de 2015. Será o Dia Nacional de Luta contra o Impeachment, o ajuste fiscal e pelo Fora Cunha. Convidamos a todos os brasileiros e brasileiras a fazerem parte desse bloco contra o retrocesso e por mais direitos”, completa.

O representante do Movimento Sem Terra, Gilmar Mauro, declarou: “Não estamos conclamando somente os movimentos sociais, mas os democratas, os progressistas deste país”.

Ele também expressou a disposição de luta dos movimentos sociais que sempre foram protagonistas das lutas nacionais. “Há muitas diferenças ideológicas entre os movimentos sociais, no entanto, nos unificamos nessa pauta. Mas há uma coisa muito comum, independentemente da formação ideológica de cada quem, é que nossos movimentos não formaram covardes. Vamos para as ruas. Este é o nosso país e a democracia foi conquistada com o sangue de muita gente e é através dela que queremos combater a política econômica de ajuste e lutar por reformas estruturantes”.

Inconformismo das urnas

O presidente da CUT, Vagner Freitas, disse que o país não pode continuar vivendo esse clima de instabilidade. “Esse terceiro turno que foi construído por aqueles que perderam a eleição deixa o Brasil sem condições de sair da crise econômica”, afirmou.

E acrescentou: “Somos contra o impeachment porque ele vai tirar direitos dos trabalhadores. É um ato capitaneado pelos conservadores. Quem está fazendo o impeachment são os mesmos que querem o fim da CLT, da carteira assinada, que o negociado sobreponha ao legislado. Quem está propondo o impeachment são aqueles que querem a redução da maioridade penal, que são contra os direitos das mulheres. São os mesmos que compartilham com a morte da juventude negra nas periferias do Brasil e que não fazem nada. São os mesmos que utilizam a polícia militar para reprimir a juventude com violência. São os mesmo que propõem a pauta do retrocesso do Brasil”, pontuou Vagner Freitas.

Pela legalidade

A presidenta da UNE, Carina Vitral, desmontou a tese da oposição de que se trata do mesmo rito de impeachment que levou à queda de Fernando Collor, em 1992. “O movimento dos caras-pintadas que derrubou um presidente da República foi motivado porque o presidente tinha depósitos na conta de sua esposa, além de indícios e fatos concretos de seu envolvimento pessoal em esquemas de corrupção. Contra a presidenta Dilma não há fatos jurídicos ou acusações que possam ser comparadas com aquele período”, disse.

Carina reafirmou que o compromisso dos estudantes “é com a legalidade”. “Não compactuaremos com qualquer movimento que não tenha base legal. Por isso, chamamos esse impeachment de golpe”, reforçou.

Guilherme Boulos, coordenador do MTST, afirmou que as manobras do impeachment têm como objetivo aplicar uma agenda de retrocessos econômicos e socais em favor do poder econômico e citou o plano divulgado pela cúpula do PMDB chamado de “Uma ponte para o futuro”.

“Na verdade poderia se chamar uma ponte para o passado, porque traz uma série de retrocessos, como a implementação de privatizações, ataque aos direitos dos trabalhadores, na aposentadoria, fim de subsídios. É um programa de retrocessos, inclusive nós poderíamos dizer que é uma anti-Constituição de 88”, disse Boulos.

Sobre o presidente da Câmara, Boulos foi enfático: “Cunha não tem legitimidade e não tem autoridade sequer para manter o seu mandato, quanto menos para comandar um processo de impeachment e decidir os destinos da República. Eduardo Cunha deveria estar preso na Papuda e não no Congresso Nacional”.

Boulos também fez questão de afirmar que, diferentemente do que a grande mídia vai dizer, o ato não é uma defesa das políticas que o governo está implementando.

Pela retomada do desenvolvimento

“Este ato não é para jogar confete no governo. É um ato claro e categórico no posicionamento contrário ao impeachment, mas isso não significa defender as políticas que estão sendo implementadas. Pelo contrário, os mesmos movimentos que estão organizando este ato estiveram durante todo o ano organizando uma série de manifestações contra o ajuste fiscal, dizendo que a saída da crise não é atacando direitos sociais e cortando investimentos, mas a saída é taxando o andar de cima. É com taxação de grandes fortunas. É com reforma populares. Está é a saída que os movimento que estão convocando este ato defendem”, reafirmou.

Raimunda Gomes, secretária de Comunicação da CTB, destacou a importante vitória obtida no Supremo Tribunal Federal (STF), que concedeu liminar impedindo a instalação da comissão imposta pelo Cunha na Câmara nesta terça-feira (8).

“É uma vitória importante para a construção dessa frente de resistência”, disse ela, enfatizando que a presidenta Dilma “não cometeu nenhuma irregularidade, portanto, é golpe e temos que nos contrapor”.

Para Edson Índio, representante da Intersindical, o processo de abertura do impeachment não veio para beneficiar o povo brasileiro. Disse ainda que a insatisfação da população com o governo Dilma não pode ser confundida com o golpe.

“O ajuste fiscal, o aumento do desemprego, o aumento da taxa de juros deixou parcela da população enfurecida e é compreensível. Isso não pode permitir nem nos deixar enganar por uma manobra, por uma operação orquestrada pela direita que quer impor um governo mais comprometido com os interesses do sistema financeiro, com a especulação imobiliária e com uma pauta regressiva para o país”, disse Edson.

Confira a íntegra da convocatória do ato de 16 de dezembro:

CONTRA O IMPEACHMENT!
NÃO AO AJUSTE FISCAL!
FORA CUNHA!

O momento político pede muita unidade e mobilização popular. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aceitou a instalação do processo de impeachment da Presidenta Dilma, numa tentativa de chantagem a céu aberto. Tenta subordinar os destinos do país à salvação de seu pescoço. Não há nenhuma comprovação de crime por parte de Dilma, e o impeachment sem base jurídica, motivado pelas razões oportunistas e revanchistas de Cunha é golpe.

As ruas pedem: Fora Cunha! Atolado em escândalos de corrupção e representante da pauta mais conservadora, Cunha não tem moral para conduzir o processo de impeachment, nem para presidir a Câmara dos Deputados. Contas na Suíça, fortes acusações de lavagem de dinheiro são crimes não explicados por ele. Cunha será lembrado pelo ataque aos direitos das mulheres, pelo PL da terceirização, a proposta de redução da maioridade penal e por sua contrarreforma política. Os que querem o impeachment são os mesmos que atacam os direitos dos/das trabalhadores (as), das mulheres, dos /das negros (as) e disseminam o ódio e intolerância no país.

Ao mesmo tempo, entendemos que ser contra o impeachment não significa necessariamente defender as políticas adotadas pelo governo. Ao contrário, as entidades que assinam este manifesto têm lutado durante todo este ano contra a opção por uma política econômica recessiva e impopular. As consequências da crise econômica mundial estão sendo aprofundadas pelo ajuste fiscal promovido pelo governo federal, que gera desemprego, retira direitos dos trabalhadores e corta investimentos sociais. Não aceitamos pagar a conta da crise.

A saída para o povo brasileiro é a ampliação de direitos, o aprofundamento e o fortalecimento da democracia e as reformas populares. O impeachment representa um claro retrocesso na construção deste caminho.

Seremos milhares nas ruas no dia 16 de dezembro de 2015. Será o dia Nacional de Luta contra o Impeachment, o ajuste fiscal e pelo Fora Cunha. Convidamos a todos os Brasileiros e Brasileiras a fazerem parte desse bloco contra o retrocesso e por mais direitos.