Juros altos: danos para indústria, trabalhadores e cofres públicos

Na quarta (25), o Copom manteve a Selic em 14,25%. A decisão não foi unânime. Dois membros defenderam elevação de 0,50 ponto percentual. Economistas avaliam que a divisão amplia as chances de o Banco Central retomar a trajetória de alta na próxima reunião, em janeiro – o que só traria mais danos a uma economia em crise. “Não vamos conseguir evitar que o país entre em recessão profunda se continuarmos fazendo coro com o rentismo”, alerta o sindicalista Adílson Araújo.

Por Joana Rozowykwiat

Banco Central

Outro indicativo de que o Banco Central pode voltar a aumentar a taxa de básica de juros é o fato de o Copom ter retirado do comunicado desta quarta a avaliação – divulgada em outubro deste ano – de que a manutenção dos juros no patamar atual por um “período suficientemente prolongado” seria necessária para a “convergência da inflação para a meta no horizonte relevante da política monetária”.

Presidente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adílson Araújo avalia que aumentar ainda mais uma taxa de juros que já é mais alta do mundo não faz nenhum sentido. “Isso contraria a lógica, por que os sinais são de retração. A indústria está em queda, perto de índices que se aproximam dos verificados na década de 1940. A indústria já teve participação no PIB da ordem de 30%. Agora caminha para cair aos 10%”, lamenta, em entrevista ao Portal Vermelho.

De acordo com ele, só quem se beneficia com uma Selic tão elevada são os banqueiros. Os trabalhadores pagam com desemprego e a indústria nacional sofre, perdendo competitividade. Para o sindicalista, a política monetária em curso ainda por cima contraria a expectativa de uma agenda de crescimento sustentado.

“Esse é um ingrediente amargo para a classe trabalhadora, que almeja ver o Brasil em um patamar de desenvolvimento necessário para elevar sua autoestima, garantir a produção de empregos e desatar os gargalos estruturais, sobretudo as grandes obras de infraestrutura, que hoje estão cercadas pelo uso político da Operação Lava Jato. Porque há um impacto direto na indústria do petróleo, do gás, naval e da construção, que dá sinais de paralisação. E não podemos levar o país ao caos”, afirma.

Adilson reitera o impacto perverso das estratosféricas taxas de juros, que acentuam o processo de desindustrialização. “Se você tem taxa de 14,25%, é mais rentável comprar títulos do governo do que ficar fabricando equipamento. Tá entendendo? Ninguém vai querer investir, vai para o mercado financeiro. Aperta o calo da indústria e só os bancos ganham mais. Porque os bancos continuam batendo recorde de lucratividade? Esse spread bancário é absurdo”, critica. Spread é diferença entre o que o banco paga ao tomar um empréstimo e o que ele cobra ao conceder um empréstimo.

Segundo o presidente da CTB, além de prejudicial ao desenvolvimento, a política monetária vigente não é sequer eficaz. “Porque a tese da equipe econômica é de que os juros altos são para controlar a inflação. Balela! Não vai enganar a torcida, porque está claro que o governo continua a aumentar os juros e a inflação continua a subir”.

É o que mostram dados reunidos pelo economista Márcio Pochmann. De acordo com ele, entre abril de 2013 e setembro de 2015, a taxa anual de juros subiu de 7,25% para 14,25%. Já a taxa de inflação acumulada em 12 meses passou de 6,6% em março de 2013 para 9,5% em setembro de 2015.

O também economista Lécio Morais reforça que “elevar a taxa de juros até agora não teve nenhum resultado. A inflação continua alta e até se elevando. Não há razão para que isso se mantenha”, opina.

Classificando uma eventual alta na Selic em janeiro como algo “muito ruim”, Morais acrescenta que isso só pioraria as expectativas em relação à crise, e, após um efeito em cadeia sobre a economia, “haveria grande probabilidade de as expectativas se transformarem em realidade”.

Além disso, uma alta na Selic tem ainda efeito imediato sobre a dívida pública, lembra Morais. Pochman, por exemplo, calcula que a cada 1% de ampliação na taxa de juros, o custo da dívida pública cresce em quase R$ 14 bilhões ao ano.

É diante desse cenário que Adilson defende que o movimento social precisa fazer pressão para o governo corrigir esta distorção. “O país tem maior taxa de juros do planeta. Há uma pressão sobre o governo para que ele fique numa posição de rendição aos apelos do mercado. Temos que combater isso”, declara Araújo.

“Ou muda a política ou teremos um entrave que conduzirá o país à recessão profunda, que pode ser um caminho sem volta e um prato cheio para essa direita que aposta na instabilidade e no fracasso do governo”, conclui o sindicalista.