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Jorge Ferreira: Os comunistas e os Novos Rumos

Entre partidos e organizações de esquerda tornou-se tradição publicar jornais que se tornassem porta-voz de suas orientações políticas. No caso brasileiro, o Partido Comunista (PCB) não fugiu a essa regra. Fundado em 1922, em seu II Congresso, três anos depois, decidiu pela criação de um jornal próprio. Assim, naquele ano, surgiu A Classe Operária, órgão oficial do partido. Estiveram à frente de sua fundação Astrojildo Pereira, Octávio Brandão e Laura Brandão.

Por Jorge Ferreira*

Três meses depois foi fechado pelo governo e somente voltou a circular em 1928, apoiando o Bloco Operário Camponês. Fechado novamente no ano seguinte, retornou em 1930, mas com edições irregulares até 1945. Na sua última fase, a linha editorial era de combate ao fascismo.

Com a democratização de 1945, A Classe Operária retornou de maneira regular. Paralelamente, o partido publicou outro jornal em maio de 1945: Tribuna Popular. Segundo um de seus editores, Paulo Mota Lima, não se tratava de veículo oficial do partido, embora fosse vinculado a ele. Também compunham a direção Dalcídio Jurandir e Carlos Dummond de Andrade. O objetivo de Tribuna Popular era alcançar o grande público. Mas as interferências do Comitê Central eram constantes, causando atritos entre a direção partidária e os jornalistas, sobretudo pela postura sectária dos dirigentes.
Com a decretação da ilegalidade do PCB, os jornais do partido sofreram grande perseguição do governo Dutra. Tribuna Popular foi fechado em dezembro de 1947 e A Classe Operária em maio de 1949.

O partido, na ilegalidade, realizou grande esforço para reabrir os jornais. No caso de Tribuna Popular, era necessário substituí-lo por um jornal que realizasse a mesma tarefa de alcançar um amplo público. Nesse sentido, em 1948 surgiu Imprensa Popular.1 Não se tratou, no entanto, da substituição de um por outro. Com a orientação política sectária do “Manifesto de Agosto”, Imprensa Popular apresentava linha editorial afinada com o radicalismo do documento. A proposta era de revolução imediata.

A Classe Operária voltou a ser publicada em 1951, mas com outro perfil. Tornou-se jornal mensal, com matérias voltadas para teoria marxista e notícias sobre o avanço do comunismo no mundo. No ano seguinte, deixou de existir definitivamente. Seu lugar como porta-voz oficial do PCB foi tomado por Voz Operária.

Fundado em 1949, encontravam-se em suas páginas as principais teses do partido para discussão da militância, notícias do país, do movimento comunista e de mobilizações operárias. A partir de 1952 o jornal conheceu mudanças, sobretudo no sentido de atrair maior público: fotografias, caricaturas e notícias de interesse nacional – e não apenas partidário –, bem como sessões dedicadas ao cinema, artes, literatura e teatro. Uma novidade, sem dúvida. Não tardou, porém, para surgirem as primeiras tensões entre os jornalistas e a direção partidária. O Comitê Central acusava os jornalistas de adotarem linha “reformista”. A tensão alcançou o apogeu com a divulgação do “relatório Kruchtev”, em fevereiro de 1956. Desconhecendo o Comitê Central do partido, os jornalistas abriram as páginas de Voz Operária e Imprensa Popular para debater as graves denúncias contidas no relatório. A autonomia do grupo renovador e antiestalinista que dirigia os jornais tornou-se intolerável para o “núcleo dirigente”. Assim, musculosos estivadores invadiram as redações dos jornais e, pela violência, expulsaram os jornalistas. Com o episódio, o grupo renovador deixou o partido em maio de 1957. Entre eles estavam Osvaldo Peralva, Agildo Barata e Aidano do Couto Ferraz (FERREIRA, 2002). No ano seguinte, Imprensa Popular deixou de circular. Voz Operária perdeu o estilo e o vigor e, em 1959, foi fechado. Sem os melhores nomes de seu jornalismo e com problemas de financiamento, a imprensa comunista decaiu.

Rumo ao novos rumos

Na avaliação de José Antonio Segatto, entre 1954 e 1958 o PCB viveu uma série de experiências que culminaram em uma reorientação teórica, política e organizativa. Foram três experiências importantes: o impacto do suicídio de Vargas, o desenvolvimentismo do governo Kubitschek e os debates provenientes do XX Congresso do PCUS. O PCB, diz o autor, "inicia um processo de renovação e formulação daquela que ficou conhecida e reconhecida, pelo seu núcleo dirigente, como uma 'nova política'" (SEGATTO, 1995:33). A "Declaração de Março de 1958" foi o principal documento que orientou as mudanças políticas dos comunistas brasileiros.

Muito resumidamente, o documento reconhecia que o capitalismo estava se desenvolvendo no país de maneira irreversível, o que favorecia a luta pela democracia. Nesse sentido, era necessário dar resolução a duas contradições: a primeira, entre a nação e o imperialismo; a segunda, entre o avanço das forças produtivas e as relações de produção semifeudais no campo. Desse modo, “a contradição entre o proletariado e a burguesia, expressa em várias formas de luta de classes, continuava existente” avalia José Antonio Segatto, “mas não exigia uma solução imediata e radical na presente etapa”.

A revolução brasileira, nesse sentido seria antiimperialista, antifeudal, nacional e democrática. No processo revolucionário brasileiro haveria aliança com a burguesia e com outras classes em uma Frente Única, mas, à frente do processo, estaria o proletariado. A Frente deveria ter propostas positivas, como reforma agrária, política externa independente, ampliação das liberdades democráticas, entre outros pontos, resultando em um governo nacionalista e democrático. Com esta plataforma, a “Declaração de março” reconhecia a “possibilidade e a viabilidade do caminho pacífico para a revolução brasileira”, ocorrendo dentro da legalidade democrática e constitucional.

A nova orientação política foi um marco na história do PCB, permitindo a abertura do partido para a sociedade. A aliança com os trabalhistas nos meios sindicais, por exemplo, resultou na tomada de vários sindicatos, federações e confederações, bem como na fundação de inúmeras intersindicais, culminando na fundação do Comando Geral dos Trabalhadores, o CGT. O partido cresceu, alcançando expressão na política brasileira.

Surge Novos Rumos

Afinado com a nova orientação política, Novos Rumos foi fundado em janeiro de 1959 no lugar de Voz Operária e tornou-se órgão de comunicação semi-oficial do PCB. Como o nome diz, o jornal expressou a nova linha adotada com a chamada “Declaração de Março de 1958”. Eram os “novos rumos” do partido.

Novos Rumos era de propriedade da Editora Aliança do Brasil Ltda. Orlando Bonfim Júnior era o diretor do jornal, Fragmon Carlos Borges o diretor executivo e Luis Mário Gazzano o redator chefe. A redação do jornal era na Avenida Rio Branco, 207, 17º andar, no Rio de Janeiro. Mas havia uma edição produzida em Minas Gerais e sucursais em São Paulo e Paraná.

A publicação do jornal era semanal e, todas as terças-feiras, estava disponível ao público. O logotipo era chamativo. Em cima do título, em uma faixa preta, lia-se: nacionalismo democracia socialismo, definindo os valores defendidos pelo jornal. Na parte de baixo, outra linha preta. Abaixo dela, o ano da publicação, a semana da edição e o número do jornal. O jornal era modesto: 4 folhas, correspondendo a 8 páginas de notícias. Não havia preço estampado, embora custasse Cr$ 20,00. Na época, o salário- mínimo era de Cr$ 21.000,00. O jornal oferecia assinaturas anual, semestral e trimestral. A anual custa Cr$ 1.000,00. Com o reajuste do salário-mínimo em janeiro de 1964, para Cr$ 42.000,00, o preço do jornal foi reajustado,custando Cr$ 30,00.

Tratava-se de um jornal editado legalmente e sua tiragem chegou a 60 mil exemplares. O conteúdo era voltado mais para os quadros do partido do que para os trabalhadores. De acordo com as orientações da nova linha política, Novos Rumos era mais aberto e menos sectário do que seus antecessores. Com o golpe civil-militar de 1964, o jornal foi fechado.

Colaboradores

Escreviam em Novos Rumos nomes bastante conhecidos entre os comunistas brasileiros. Alguns deles assinavam coluna fixa. Pedro Severino assinava a coluna “Tópicos Típicos”, enquanto Pedro Mota Lima assinava “Fora de Rumo”, Marco Antônio “Crônica de Brasília” e Josué Almeida “Nota Econômica”. A coluna intitulada “Vida Sindical” não tinha autor fixo, sendo os mais presentes Agostinho Oliveira, Roberto Morena e Geraldo Rodrigues dos Santos. As colunas nem sempre se repetiam em cada edição do jornal, mas a presença delas era constante. Diversos colaboradores assinavam matérias com temas diversas. Entre os mais conhecidos da militância estavam Astrojildo Pereira, Carlos Marighella, Giocondo Dias, J. Câmara Ferreira, João Massena Melo, Leandro Konder, Hércules Correa e Sinval Palmeira.

Uma coluna, em especial, chama a atenção. É intitulada “Teoria e Prática”, assinada por Apolônio de Carvalho. Nela os leitores encontravam reflexões teóricas sobre o marxismo e o leninismo. Por vezes, Apolônio respondia cartas de leitores. Em uma delas, um militante de Porto Alegre formulou uma pergunta que se tornou o sub- título da própria coluna: “Há algum exemplo concreto de transição pacífica para o socialismo?”

Apolônio de Carvalho respondeu citando idéias defendidas por Marx, em Amstrerdam, em 1872, e Lenin, com suas Teses de Abril. Nos dois casos, garantiu Apolônio, Marx e Lenin defenderam a possibilidade real de revolução socialista por via pacífica. Como “exemplo concreto”, citou o caso da Revolução dos Conselhos, na Hungria, em 1919. Alguns outros temas tratados na coluna “Teoria e Prática” foram: “A propaganda do marxismo-leninismo”; “A estrutura partidária dos países socialistas”; “O que é um marxista? O que é um comunista?”; “Que virá após o comunismo?”; “O que é mais-valia?”.

Notícias internacionais eram orientadas, via de regra, para denúncias de opressão política em países ocidentais, a exemplo da oposição à ditadura de Salazar em Portugal, da resistência do povo ao poder de Franco na Espanha, da dominação estrangeira na Guiana Francesa, do racismo presente nos estados do sul dos Estados Unidos, entre outras. Mas também havia notícias exaltando o avanço do socialismo em diversos países. Um dos mais noticiados era Cuba. Sobretudo denúncias de agressões dos Estados Unidos contra o governo revolucionário liderado por Fidel Castro e a defesa incondicional do processo revolucionário cubano. Carlos Marighella, em artigo intitulado “A vitória da revolução cubana” acusava os Estados Unidos de tentativas de desestabilização do governo de Cuba e apontava contradições dentro do ministério de João Goulart.

Para Marighella, “forças entreguistas e reacionárias que atuam sobretudo no Itamarati e contam com o apoio do ministro gorila Araújo Castro, trabalham ao lado dos norte-americanos pelo rompimento do Brasil com Cuba”. Desse modo, a política externa brasileira “teria deixado de refletir o sentimento do povo e os próprios interesses da burguesia nacional”.

Novos Rumos não tinha seção dedicado à arte, à cultura e ao entretenimento. No máximo, havia, muito raramente, resenhas de livros cujos autores estavam afinados com o partido. Um dos livros comentados foi Cangaceiros e fanáticos, de Rui Facó. Para Luís Costa, Facó não negava a existência do “misticismo”, mas sua tese central era a de que os movimentos sociais conflituosos ocorridos no nordeste brasileiro foram resultados da “estrutura semifeudal (e no atraso decorrente) o germe de todas as lutas empreendidas pelos cangaceiros e pelos chamados fanáticos” – caso de Canudos e Juazeiro. Jacob Gorender, por sua vez, também comentou o livro de Rui Facó, mas formulando uma série de críticas ao livro, apesar de reconhecer os inúmeros méritos.

Também havia charges, assinadas por Roma. Por vezes, o caricaturista apresentava uma tira intitulada “Pé-de-Cabra”. Suas charges voltavam-se, sobretudo, para criticar Carlos Lacerda, Ademar de Barros e o imperialismo norte-americano.

Interessante observar uma publicação na página 5. Com o título de “romance”, em todos os números podia-se ler um trecho do livro de Alexandr Soljenitsin, Um dia na vida de Ivã Denissovitch, traduzido para o português. O livro narrava um dia na vida de um prisioneiro de um campo de concentração soviético na época de Stalin – na verdade, uma dia na vida do próprio Soljenitsin. Tratava-se do processo de desestalinização patrocinado por Krushev que, na época, estava na liderança do Kremlin.

Publicidade

Novos Rumos não se sustentava por publicidade comercial. Seu orçamento era garantido com vendas de números avulsos, assinaturas e, muito certamente, com financiamento do próprio partido. Mas era comum encontrar anúncios de livros.

Frequentes eram boxes com livros da Editorial Vitória. Alguns anunciados eram Trabalho Assalariado e Capital e Salário, Preço e Lucro, ambos de Karl Marx. Livros de autores soviéticos eram muito comuns: A Origem da Vida, de A. Opárin, e A Albumina e a Vida, de A. Braustein, ambos biólogos soviéticos, eram livros que explicavam a origem da vida no planeta Terra.15 Livros soviéticos recebiam destaque. A Agência Intercâmbio Cultural, por exemplo, vendia algumas publicações soviéticas em língua espanhola. Uma das mais anunciadas era Obras de Krushiov; Obras Escolhidas de Lênin, em dois volumes; Sobre a Coexistência Pacífica, de Lênin; Economia Política, de P. Nikitin; A Liberdade do “Mundo Livre”, de Markov; O Comunismo e a Liberdade do Indivíduo, de J. Mondzhian, entre diversos outros.

Revistas soviéticas também eram vendidas. Entre os títulos estão La Mujer Sovietica, Novedades de Moscu, Tiempos Nuevos e International Affairs. As revistas eram editadas em russo, inglês, francês e espanhol. Pelos títulos anunciados, conhecemos o conjunto de leituras que os militantes da época tinham acesso. Chamam a atenção os títulos voltados para o tema da “coexistência pacífica” entre o capitalismo e o comunismo. Alguns pequenos anúncios comerciais podiam ser vistos em Novos Rumos. Eram raros, mas existiam.

Novos Rumos, seus temas e personagens

Voltado para a militância, não era casual que grande parte das notícias publicadas fosse dedicada para o movimento sindical. Em todas as edições havia muitas noticias sobre mobilizações de trabalhadores, encontros sindicais e greves. A linha editorial do jornal era a de apoiar o movimento sindical e as paralisações de maneira irrestrita. Metalúrgicos, têxteis, bancários, marítimos, professores, aeroviários, servidores públicos, entre diversas outras categorias receberam apoio nas suas lutas em Novos Rumos. O Comando Geral dos Trabalhadores surgia em praticamente todas as edições. Para os comunistas, a Central Sindical era o órgão legítimo e representante máximo dos trabalhadores. As lutas camponesas também estavam presentes no jornal. As matérias sobre o movimento sindical urbano e as lutas camponesas receberam tratamento privilegiado nas páginas de Novos Rumos. Para os comunistas, eram os atores centrais da vida política brasileira.

Personagem presente nas páginas do jornal era Luis Carlos Prestes, liderança máxima no PCB. A insurreição de 1935 era tema retomado nas edições no mês de novembro.

Líder político muito presente nas páginas de Novos Rumos era o governador de Pernambuco Miguel Arraes, interpretado como aliado político. Também apareciam nas páginas de Novos Rumos duas frentes políticas compreendidas como aliadas na luta pelas reformas: a Frente de Mobilização Popular (FMP) e a Frente Parlamentar Nacionalista (FPN). Notas assinadas pelas duas frentes eram publicadas em Novos Rumos. Leonel Brizola aparecia muito pouco nas páginas do jornal, embora também fosse interpretado como aliado político. Francisco Julião, outra liderança de esquerda, no entanto, não aparecia. As divergências dos comunistas com Julião impediam que ele fosse noticiado. O movimento estudantil, em particularmente a União Nacional dos Estudantes (UNE) também estava presente nas páginas de Novos Rumos, bem como notícias sobre os Centros Populares de Cultura, o CPC.

Mas Novos Rumos elegeu seus inimigos políticos. Entre eles, havia um em particular: Carlos Lacerda. As notícias sobre seu governo e suas práticas eram as piores: corrupção administrativa, violência policial, golpismo político e gastos excessivos com publicidade governamental. Outro personagem era interpretado como adversário: Juscelino Kubistchek. Para ele, os comunistas dedicavam mais ironias do que propriamente críticas. Os comunistas desprezavam os pessedistas e não levavam a sério a candidatura de JK à presidência da República nas eleições de 1965.

Novos Rumos deu continuidade à forte tradição enraizada na cultura e no imaginário político dos comunistas: a comparação entre o mundo socialista – entendido como a União Soviética e os países do leste europeu – e o mundo capitalista.

Os comunistas e João Goulart

Os comunistas eram fortes críticos de João Goulart. Desde que assumiu a presidência da República, Jango escolheu a estratégia de reforçar a aliança do PTB com o PSD no Congresso Nacional, repetindo a coalizão parlamentar que deu estabilidade política a Juscelino Kubistchek. As reformas de base, nesse sentido, não seriam aprovadas em sua versão máxima, como queriam as esquerdas, porque teriam que ser negociadas entre petebistas e pessedistas. Goulart queria aprovar as reformas por vias institucionais e, para isso, ter maioria parlamentar no Congresso Nacional era fundamental em sua estratégia. Acordos, pactos e compromissos políticos no parlamento entre o PTB e o PSD viabilizariam a aprovação das reformas pelo Congresso Nacional (FERREIRA, 2003; FIGUEIREDO, 1993).

Os comunistas eram críticos contundentes da estratégia de Goulart. O PCB fazia coro com a FMP, liderada por Leonel Brizola, recusando a opção política de Jango de buscar aliança com o PSD – chamada na época de “política de conciliação”. As críticas a Jango por ter o PSD como aliado eram comuns em Novos Rumos. Os editoriais do jornal afirmavam a necessidade de Goulart “romper com a política de conciliação que vem seguindo, de desfazer a aliança com a cúpula retrógrada do PSD, de recompor o sistema de forças que o constitui”.18 Em outro editorial, havia a pergunta: “como esperar reformas de base, soluções para os problemas do povo, de um governo que é produto da aliança com a cúpula retrógrada do PSD?”19 A alternativa era a mesma defendida pela Frente de Mobilização Popular: o rompimento com o PSD e a formação de um governo exclusivo das esquerdas.
Com as esquerdas unidas na FMP, junto com os comunistas do PCB, as reformas seriam arrancadas do Congresso Nacional com a mobilização do povo nas ruas: “será através das lutas das massas em defesa das suas reivindicações, da unidade e ação de todas as forças nacionalistas e democráticas, que nosso povo, derrotando as manobras conciliatórias e as ameaças golpistas, conquistará novas vitórias”. Daí a necessidade de do “fortalecimento da frente única”, ou seja, a formação de um frente entre o PCB e a FMP. Nesse sentido, os comunistas tinham projeto similar ao da FMP:


a formação de um novo governo, apoiado nas forças nacionalistas e democráticas e formado por homens a elas vinculados é, hoje, uma exigência irrefreável da esmagadora maioria da Nação. Só um governo desse tipo, armado com um programa de firme inspiração patriótica e progressista, e contando com o decidido apoio das grandes massas do povo, terá condições de converter em realidade as reformas de estrutura, golpear a espoliação imperialista e suprimir odiosos privilégios que estão levando o nosso povo a uma situação cada dia mais aflitiva.

 


Palavras finais

Como jornal do Partido Comunista Brasileiro, Novos Rumos não inovou em relação aos veículos de comunicação anteriores, mantendo a linha editorial de tratar predominantemente de questões políticas, de noticiar atividades dos movimentos sindical e camponês, de atacar os adversários e o governo, de exaltar as vitórias do socialismo no mundo, entre outras práticas presentes desde a década de 1930.

O jornal veiculou a orientação política inaugurada com a “Declaração de março de 1958”. Mas, em suas páginas, não encontramos moderação política. Não há, em Novos Rumos, a imagem que ficou, para as gerações posteriores, de um Partido Comunista que abandonou a luta revolucionária, optando pela via institucional dentro das regras da democracia-liberal ou, ainda, o reboquismo ao governo de João Goulart. Novos Rumos foi jornal de oposição a Jango pelo menos até fins de 1963 e, fazendo coro com a Frente de Mobilização Popular, exigia a decretação imediata das reformas e um governo formado exclusivamente pelas esquerdas.

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*Professor Titular de História do Brasil da Universidade Federal Fluminense, Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, pesquisador 1 do CNPq e Pesquisador da FAPERJ.