Samarco e suas controladoras não podem ser tratadas com punhos de renda

O rompimento da barragem da Samarco provocou a maior catástrofe ambiental da história do Brasil e esse fato é de inteira responsabilidade da mineradora e das empresas que a controlam, Vale S/A e anglo-australiana BHP Billiton, respectivamente a quarta e a primeira companhia de mineração do planeta.

Há que se investigar  e buscar a causa primordial que levou à desestruturação da barragem.  Mas qualquer que seja o resultado, já temos uma certeza e essa é a de que a tragédia que se abateu sobre a bacia hidrográfica do rio Doce,  sua fauna, sua flora e o povo ali vivente, deve-se única e  exclusivamente à negligência, arrogância e ao argentarismo típico de empresas  de cultura capitalista.

É como a Fábula do Escorpião e do Sapo. Quando o sapo atravessava um rio dando uma  carona a um escorpião, no meio do trajeto o sapo sentiu uma ferroada nas costas e questionou ao venenoso artrópode o porque de ter feito aquilo que mataria ambos, ao que o escorpião respondeu: perdoe-me, mas não pude evitar pois é minha natureza.

É a natureza da Samarco, da Vale S/A e da BHP, ou de qualquer empresa privada desse porte, agirem como estão agindo diante da catástrofe que provocaram. Evitar assumir responsabilidades, adiar gastos, protelar cumprimento de compromissos, pressionar o poder público de todos os tipos e níveis com a força de sua influência econômica e política (vide doações para campanhas eleitorais). Nada de novo nesse roteiro insensato.

Na certeza da impunidade e da intocabilidade, estas empresas fazem pouco caso das autoridades públicas e parecem rir da indignação daqueles que têm a coragem de enfrenta-las.

Não fosse isso, como poderiam se atrever a controlar o acesso aos atingidos que estão em hotéis e pousadas de Mariana, como se fossem prisioneiros?

Como compreender que elas se arvorem do direito de controlar toda a cena do crime e selecione jornalistas que podem ter acesso a estes locais?

E como explicar que seja restringido até mesmo o acesso da população ao Comando de Operações da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros, que funcionam dentro da sede da Samarco?

Mas o que não esperavam é que fossem ter que enfrentar a coragem e a determinação do prefeito de uma pequena cidade do noroeste do Espírito Santo, que luta com desassombro contra os desmandos destas gigantes mineradoras e está fazendo a diferença.  

O prefeito Neto Barros (PCdoB), fala o que tem que ser dito e faz o que precisa ser feito. Cansado da enrolação das empresas responsáveis, posicionou as máquinas da prefeitura (tratores e caminhões) nos trilhos da Vale S/A, como forma depressão para que o município fosse ouvido. Em poucas horas, como era previsto, a justiça, a pedido da Vale S/A, mandou desobstruir. Mas o ato de Neto foi o  suficiente para abertura de diálogo com a mineradora.

Uma das consequências destas pressões foi que a empresa assinou um Termo de Ajuste de Conduta – TAC com  o Ministério Público Estadual e Federal, em que se obriga a arcar com as despesas necessárias para que os municípios possam  mitigar os efeitos da tragédia, se comprometeu também a investir para a recuperação ambiental e elaboração e desenvolvimento deum plano conjunto de contingência. Mesmo assim os resultados concretos ainda são muito insuficientes.

Como disse Neto Barros, “a prefeitura se organizou, gastou o que tinha e o que não tinha para executar um plano de contenção. Gastou dinheiro no escuro para contratar mão de obra”. Uma das principais providências foi viabilizar a captação de água do rio Guandu, afluente do rio Doce. “Mas até agora tudo isso (os compromissos assumidos no TAC  pela empresa) está no plano das expectativas.”

Indignado, o prefeito desabafa. “A Samarco mente. Mandou dois técnicos pra cá para acompanhar as obras, mas coloca em seu site que está resolvendo o problema de captação de Baixo Guandu e outras localidades, mas na verdade quem está trabalhando e pagando a conta são os municípios. Quem está segurando a onda de dejetos é a administração pública”.

Não, a Samarco e suas controladoras não podem ser tratadas com punhos de renda. Todos os órgãos públicos responsáveis devem assumir a postura e o espírito público demonstrados por Neto Barros e exigirem, nada mais do que exigirem que as mineradoras executem as ações que forem necessárias e arquem com todas as despesas, para agora e para o futuro, sejam elas quais forem, destinadas a minimizar os efeitos  de curto, médio e longo prazo provocados pela catástrofe que causaram.