Ana Tijoux, implacável contra o machismo e a exploração dos povos

Talvez o rap de Ana Tijoux ainda não seja muito conhecido no Brasil, mas não é por falta de conteúdo. As letras contundentes de Anita, como é carinhosamente apelidada no Chile, seu país de origem, já conquistaram a Europa e os países de idioma hispânico na América Latina.

Por Mariana Serafini

Ana Tijoux - Divulgação

A cantora franco-chilena nasceu na França, durante o exílio de sua família devido à ditadura de Augusto Pinochet, no Chile. Mas quando o regime militar caiu, pôde voltar ao seu país, que não é de nascimento, mas o qual ela identifica como de origem. Os traços indígenas fortes a deixam muito mais latino-americana que europeia.

Filha da destacada cientista política chilena María Emilia Tijoux, Anita voltou ao Chile já no meio da adolescência, aos 15 anos, e rapidamente se integrou à cena de rap local de Santiago. Suas letras são contundentes ao relatar o que se passou com as milhares de famílias que precisaram fugir do golpe de Estado.

Engajada nos movimentos sociais latino-americanos, Anita dá voz à luta dos índios Mapuche em suas letras e também ao movimento estudantil do Chile, que tem ganhado cada vez mais força. Além disso, combate o machismo, a violência doméstica e canta pela liberdade dos povos do mundo, ressaltando sempre a coragem dos latino-americanos de não se curvarem ao imperialismo.

Apesar de não ter se inserido no rap brasileiro, já fez algumas apresentações no Brasil e é considerada uma das principais MC’s da América Latina. Já recebeu os prêmios de “Melhor Artista Revelação” e “Melhor Artista Urbana” no MTV Video Music Awards. Com seu disco 1977 venceu quatro categorias no Gremmy Latino, entre elas “Melhor álbum rock latino” em 2011. E com seu último lançamento, Vengo, em 2014 repetiu o sucesso ao receber o mesmo troféu.

Nos discos anteriores Anita fez algumas parcerias de peso, entre elas a música Sacarl la voz, com o uruguaio Jorge Drexler. Mas é com Vengo que ela entra em sua forma mais combativa por meio da música: “Venho buscando histórias silenciadas, a história de uma terra saqueada”, diz a introdução do álbum.

Se no Brasil vemos uma intensa manifestação de mulheres que lutam pelo direito ao aborto seguro e legal e contra as medidas arbitrárias de Eduardo Cunha. No Chile a luta das mulheres não é diferente, e Anita traz, em seu último disco, a música Antipatriarca, um grito de muitas vozes contra o machismo.

“Você não vai me humilhar, você não vai gritar comigo/ você não vai me submeter, você não vai me bater/ você não vai me denegrir, você não vai me obrigar/ você não vai me silenciar; você não vai me calar. Nem submissa, nem obediente/ mulher forte, insurgente/ independente e corajosa/ quebrando a cadeia da indiferença/ Nem passiva, nem oprimidas/ mulher bonita que dá vida/ emancipada em autonomia/ antipatriarca e feliz”.

Contra a exploração dos povos, de todos os povos: na canção Somo Sur Anita convida a mc palestina Shadia Mansour e juntas cantam pela liberdade da América Latina e Palestina. “Todos os sem voz, todos os oprimidos, todos os invisíveis”.

“Nigéria, Bolívia, Chile, Guatemala, Porto Rico e Tunísia/ Argélia, Venezuela, Guatemala, Nicarágua, Moçambique, Costa Rica/Camarões, Congo, Somália, México, República Dominicana, na Tanzânia/ Fora ianque da América Latina/ Franceses, ingleses e holandeses/ Eu te quero livre, Palestina”. Em seguida vem o grito do lema que norteia a luta dos índios mapuche: “Mil vezes venceremos!”.

Que a voz de Anita derrube a cortina cultural ainda existente entre “as duas américas” e amplie a luta pela Pátria Grande no Brasil. Com razão os Mapuche: nós do Sul dez mil vezes venceremos.

Assista a dois clipes de Ana Tijoux:

Antipatriarca: 
 

Somos Sur: 
 

Ouça o disco Vengo na íntegra: