Indicador de jovens negros mortos expõe vulnerabilidade racial no país

A pedido do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), foi promovido na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (3), um debate sobre os desafios para conter a situação de vulnerabilidade em que se encontram os jovens negros no Brasil.

Unicef alerta para alto índice de jovens negros mortos no país - Roberta Trinidade

O coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes da Unicef no Brasil, Mário Volpi, afirmou que a não investigação dos assassinatos dos negros no país reafirma a prática cotidiana da violência. “Indicadores mostram que 70% dos adolescentes que são assassinados no Brasil são negros, precisamos que o país investigue cada um desses assassinatos”, afirma.

Segundo informações do Mapa da Violência, o Brasil é o 11º país onde mais se comete homicídios no mundo. Países com largo histórico de tensões internas, como o México e Iraque, não conseguiram ultrapassar o Brasil em tal índice.

Por consequência da vulnerabilidade social em que se encontra, a população negra é que mais sofre com tais índices de homicídios, resquício do histórico desamparo político e a falta de políticas públicas de inserção social.

Não é apenas a homicídios que a população negra está exposta. Segundo informações do IBGE, as mulheres negras se sentem mais inseguras em vários tipos de locais, incluindo a sua própria residência. Além disso, o índice de desemprego entre as mulheres negras chega a 12% e a renda dos negros no país é 40% menor do que a dos brancos.

Na área educacional houve avanços, segundo o Ipea. Em 17 anos, a taxa líquida de matrícula de jovens de 18 a 24 anos mais que quintuplicou entre os negros; no ano de 1992, apenas 1,5% dos jovens negros nesta faixa etária estavam na universidade. Em 2009, eram 8,3 %. Entre os jovens brancos, as matrículas líquidas triplicaram no mesmo período – de 7,2% para 21,3%. A frequência dos jovens negros na universidade, que correspondia a 20,8% da frequência dos brancos em 2002, passou a corresponder a 38,9% em 2009.

Medidas para conter a desigualdade social foram promovidas nos últimos 15 anos, como, por exemplo, a cota para negros em universidades e concursos públicos ou programas de combate à miséria, como o Bolsa Família, porém, as taxas que comprovam a permanente situação de exposição a riscos em que se encontra a população negra, reafirmam os inúmeros desafios a serem enfrentados para sanar o abismo racial no Brasil, reprimindo o genocídio da população negra e periférica, como também o preconceito e o racismo, cada vez mais evidentes no cotidiano.